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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
07/12/12
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O Presidente com medo
É
comum considerar-se que a hipótese de mandar um governo abaixo
dissolvendo o Parlamento é "o poder" do Presidente. Chamam-lhe até "a
bomba atómica". Já ser a última barreira entre a aprovação de uma lei
que desrespeita fundamentos básicos da Constituição - a equidade, a
proporcionalidade, a justiça - e a sua entrada em vigor não é muito
valorizado.
É pena: o sistema dá ao Presidente a prerrogativa de enviar
as leis ao Tribunal Constitucional para certificar que, mesmo quando um
governo e uma maioria de deputados decidam ignorar a Lei Fundamental,
ele estará lá para se atravessar por ela - ou seja, pelo povo, contra a
possibilidade de injustiça, o que é dizer de tirania. Não é uma escolha:
é a mais nobre das suas obrigações.
O atual PR, porém, demonstra
um entendimento muito seu dessa obrigação. Quando em 2008 parou o País
para se insurgir contra o Estatuto dos Açores, descobrimos que ao enviar
o dito para o TC não solicitara a fiscalização da norma que mais o
encanitava. Quando pediu a apreciação do diploma que alargava o
casamento civil aos casais do mesmo sexo, "esque- ceu-se" da exclusão da
adoção - a única parte da lei que suscita sérias dúvidas
constitucionais. E, quanto aos orçamentos de 2011 e 2012, reputados por
muitos especialistas e por si próprio (disse-os "iníquos" por
penalizarem excessivamente os funcionários públicos) como
inconstitucionais, promulgou-os sem demora, deixando a outros o ónus de
pedir a fiscalização sucessiva (pós-entrada em vigor) - onde o OE 2011
passou por um triz, mas o de 2012 chumbou.
Ou seja: Cavaco deixou
passar orçamentos que considerava desrespeitarem a Constituição,
passando pela vergonha de num deles isso ser confirmado pelo TC. Porquê?
Segundo o PR, porque nenhum seu antecessor enviou um orçamento para o
TC e porque o País não pode ficar "sem orçamento".
Ora, primeiro,
com a fiscalização sucessiva o OE pode ser inviabilizado a meio do
exercício - o que é muito pior. Depois, nenhum antecessor de Cavaco
reputou de inconstitucionais normas de um orçamento - e nunca outro
suscitou tantas dúvidas, e tão graves. Além disso, o PR cuja Casa Civil
se queixou de ser escutada por um governo, que usou um seu discurso de
posse para forçar a demissão do executivo em funções e que usa as
publicações de Belém para ajustar contas com um ex-PM, acusando-o de
manobras inconstitucionais - coisas todas elas nunca vistas -, teme o
quê, ser o primeiro? O PR que preferiu receber pensões ao seu salário,
que dá recados políticos no Facebook e vai a cerimónias públicas brincar
com a situação do País tem receio de estrear um estilo?
Valha-nos
Pacheco Pereira, o mais famoso tradutor de Cavaco. "Se o PR enviar o
Orçamento para o TC, o Governo ataca-o", disse na última Quadratura.
Como ninguém perguntou "e então?", ficámos a saber que há quem ache
normal que um Presidente da República tenha medo de um Governo. Falta
então saber porquê - se não for só por feitio.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
07/12/12
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