18/07/2025

MIRIAM ASSOR

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Ruína Sócrática                                

Que tipo de primeiro-ministro tivemos que desafia instituições de justiça com o maior descaramento.

 Os microfones do tribunal não aguentam o timbre. A gritaria é tamanha que o som sai distorcido. José Sócrates não é cantor de ópera, nem vende peixe na praça. Quem lhe dera. Os berros ao estilo menino mimado a quem lhe tiraram a peça do Lego, integram parte da tradição do seu perfil.

A forma alarve como se expressou quando o interrogatório já dava palpites do rumo musical do julgamento. Mas a ninguém passava pela cabeça que o superlativo da pouca-vergonha fosse assumir proporções circenses. Não faz rir, não, faz pensar, e muito, do osso de quem governou Portugal durante tanto tempo.

Que tipo de primeiro-ministro tivemos que desafia instituições de justiça com o maior descaramento. Atreve-se a desautorizar a autoridade; juíza parcial, juíza com problema cognitivo, juíza isto é, juíza aquilo, diz que as perguntas são idiotas, existe não sei o quê neste mundo adjectivado de amalucadas e por aí adiante, levanta-se no meio da audiência e ele, arguido, vai à casa de banho como se o seu lugar em tribunal pudesse ser o sofá da sua casa. Usa as palavras sem filtro. Tudo lhe pertence. Exclama por amor Deus convicto que Deus é seu sócio.

Uma retórica ao nível das águas da banheira, abusa da ironia mal temperada, o filósofo da Ericeira dirige-se aos jornalistas, com um pedregulho na mão, e na outra, um sorriso amarelo parvo, para cumprir o ritual: condenar os jornalistas alegando que estão a "defender o Ministério Público". Estão, estão. Ficou a falar com as paredes da rua. 

Muito bem, camaradas. Quem é esta pessoa transtornada e transformada numa criança de gravata malcriada, outrora ministro e primeiro-ministro. Não se pergunta. Afirma-se. Assusta.

Teve votos, muitos, obteve maioria. Acusado de crimes de corrupção, branqueamento e fraude fiscal e ainda parece viver literalmente à grande e à francesa como Paris. Sócrates, de Atenas, acreditava que a sabedoria verdadeira estava em saber que nada se sabe, ao contrário dos que se achavam sábios sem fundamento. É o caso.

José Sócrates, não é superstar como na animada canção defendida pela Grécia em 1979. Não é pop, não é star. É um solo de egocentrismo insuportável. Sócrates, o da Ericeira, antigo aluno universitário que fez exame de inglês técnico, num Domingo de Agosto.

* Jornalista free lancer. Escritora. Licenciada em Psicologia e Comunicação.

IN "SÁBADO" -11/07/25

NR: Não foi a primeira vez que os portugueses tiveram um traste como primeiro-ministro, nem a última..

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