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Foi você que pediumais um imposto?
Imagino que não. Que o caro leitor não tenha tentações masoquistas e
anseie pela cobrança de mais impostos. Sobretudo porque, como se percebe
no trabalho que publicamos hoje, a engorda do Estado por via fiscal
transformou-se numa espécie de desporto não federado. A discussão é
antiga e não reúne consensos. Um país que pague menos impostos tem maior
propensão para o crescimento, para o risco, para a autossuficiência?
Mas um país, como Portugal, em que a dependência face ao Estado é tão
notória e crescente, pode algum dia almejar libertar-se desse jugo?
Se recuarmos uma década, verificamos que o nosso esforço contributivo era consideravelmente menor. Em 2024, ano em que o IRS até baixou, cada português pagou, em média, 6400 euros de impostos, o que dá a módica quantia de 530 euros mensais. Se descontarmos o facto de haver uma parte considerável da população que não paga IRS (porque nem rendimentos para isso tem) e outra que não tem esse encargo porque não trabalha, facilmente percebemos a dimensão do desequilíbrio entre o que pagamos e o que recebemos. E aqui podemos universalizar o descontentamento, na medida em que foi no IRC, dedicado às empresas, que se verificou o maior aumento da receita. Os empresários pagaram 10 mil milhões de euros em impostos.
O problema, porém, não está (nunca esteve) na quantidade e diversidade de taxas e taxinhas. A nossa insatisfação terá de ser direcionada noutro sentido. Porque a um enorme sacrifício contributivo não tem correspondido uma melhoria na eficácia dos serviços públicos, algo que tem atirado os portugueses para o regaço do setor privado. O Estado continua a engordar, mas temos hoje melhor saúde, educação ou justiça?
* Jornalista, director adjunto
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 01/02/25.

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