30/09/2024

ISABEL PIRES

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Falemos de mobilidade: 
                Todos a Bordo! 

O país não tem sido capaz de, apesar de algumas tentativas meritórias e avanços importantes, alterar significativamente a forma como nos deslocamos. Falta fiabilidade ao transporte público e conforto. Mas também faltam condições de trabalho dignas para quem nos transporta todos os dias.

Setembro trouxe uma petição extremamente importante: Todos a Bordo! - Medidas imediatas pelo direito à mobilidade, pelo planeta e pelo em (ver em baixo)

Falar de mobilidade não pode ser um exercício desgarrado, em que apenas falamos de autocarros, linhas de metro ou mais barcos. Tem que ser um exercício articulado com debates muito relevantes sobre clima, sobre planeamento urbano, sobre habitação, sobre arquitetura, sobre ocupação do espaço público, sobre decisões de onde se colocam ou não serviços públicos, sobre emprego.

Esta petição é, por isso, relevante porque agrega organizações ambientais, federações de sindicatos e associações de mobilidade suave ou ativa. É muito importante que se agreguem vários setores que debatem este tema, que se juntem por um mesmo objetivo, que tem muitas vertentes e deve ter decisões tomadas como um todo, de modo mais alargado.

Aliás, na Alemanha recentemente também se levou a cabo uma campanha deste género, porque se percebeu a necessidade de agregar lutas que aparentemente não comunicavam entre si mas que fazia todo o sentido serem feitas em conjunto.

É importante que a transição para uma mobilidade cada vez menos poluente tenha em conta quem trabalha no setor, bem como é importante que se pensem as cidades cada vez numa ótica de combate às alterações climáticas em prol de maior qualidade de vida. Finalmente, é preciso devolver o espaço público a quem o tem perdido imensamente ao longo dos últimos anos: peões.

Em Portugal, há muitos problemas de que podemos falar quando falamos de mobilidade. O facto de que durante décadas o investimento foi para a rodovia e houve falta de planeamento e investimento na ferrovia. O facto de em apenas 3 anos, Portugal ter ganho mais de 450 mil carros a circular. O facto de 30% dos trajetos feitos em automóvel cobrirem distâncias inferiores a 3 km e 50% dessas deslocações serem inferiores a 5 km.

Nas áreas metropolitanas, as cidades estão cada vez mais congestionadas com trânsito e o espaço para peões ou mobilidade suave ou ativa é ainda escasso, pondo até em causa a segurança rodoviária. Ao nível nacional, continua a ser muito caro utilizar o comboio para longas distâncias (inter-cidades ou alfa pendular), com viagens que, ida e volta, podem ultrapassar os 80€ (e de autocarro ficam por bem menos do que 30€). Fora das áreas metropolitanas, o planeamento de mobilidade é escasso, quando sequer existe oferta.

O país não tem sido capaz de, apesar de algumas tentativas meritórias e avanços importantes (a redução tarifária que veio com o PART é um bom exemplo), alterar significativamente a forma como nos deslocamos. Falta fiabilidade ao transporte público e conforto. Mas também faltam condições de trabalho dignas para quem nos transporta todos os dias.

Por isso é tão importante agregar estas lutas. Esta petição poderá vir a trazer uma mudança de paradigma sobre a forma como discutimos mobilidade. E isso não é coisa pouca. Sem deixar ninguém para trás na transição que urgentemente precisamos, investindo onde é preciso, sem receios.

 Todos a Bordo! - Medidas imediatas pelo direito à mobilidade, pelo planeta e pelo emprego.

* Licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais e mestranda em Ciências Políticas Dirigente do Bloco de Esquerda.

IN "ESQUERDA" -27/09/24.

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