28/04/2024

NUNO BOTELHO

 .



Um inconsequente
na Presidência

Com a liberdade de ter defendido Marcelo Rebelo de Sousa em vários momentos, não é possível ignorar a gravidade e deselegância das afirmações que o Presidente da República proferiu no encontro com a imprensa estrangeira. Para mais, em vésperas da comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, altura em que se exigia um discurso positivo e agregador por parte do chefe do Estado. 

Caricaturar um atual e anterior primeiro-ministro do país, nos termos em que Marcelo o fez, não foi apenas uma demonstração de falta de respeito ou mais uma das suas diatribes verbais. Foi confirmar que não está à altura do cargo que ocupa, que enferma de uma visão classista e preconceituosa no exercício de funções políticas, que despreza e menoriza intelectualmente aqueles que não pensam ou agem como ele próprio. 

O Presidente prestou, com as declarações que fez, o pior tributo possível à democracia, aos princípios da liberdade, igualdade de oportunidades, tolerância, equidade e justiça, consagrados com a revolução. Mostrou, por outro lado, que Portugal permanece um país fatalmente centralista, em que uma elite lisboeta desconhece e despreza a população que a subsidia, ao mesmo tempo que tolera práticas absolutamente ruinosas para o interesse público, como as protagonizadas por Salgado ou Sócrates. 

Marcelo foi ainda mais longe no desastre retórico, ao abrir a caixa de Pandora das reparações às antigas colónias. Não só essas afirmações dão crédito a leituras parciais e complexadas sobre a história do país, como foram perfeitamente descontextualizadas no tempo e no espaço, deixando o Estado português - e, em grande medida, o atual Governo - com um ónus de difícil, para não dizer impossível, resolução. 

Como já alguém disse e foi repetido: é preciso ajudar o Presidente da República a terminar o seu mandato com dignidade. Infelizmente, já não iremos a tempo de evitar que Marcelo Rebelo de Sousa fique na história como o mais inconsequente da nossa vida democrática.

* Presidente da Associação Comercial do Porto

IN "DINHEIRO VIVO" - 27/04/24

NR: Muito nos admiramos de as pessoas ficarem surpreendidas com as inconsequências do Presidente MRS, mais ainda quando a avaliação vem de pessoas com muitas responsabilidades na vida económica e social do país. Nós que não gostamos nem um bocadinho de Passos Coelho demos-lhe razão quando afirmou que MRS era um catavento, houve quem se tivesse esquecido..

Sem comentários: