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IN "VISÃO"
19/12/19
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Será André Ventura uma ameaça
à liberdade e à democracia?
A estratégia do Chega e de André Ventura assenta num “exército” de correligionários que alimentam as redes sociais, criando a imagem do herói corajoso, potenciando as fake-news e as mensagens populistas e anti-sistema do deputado
Passados 74 anos do fim da Segunda Guerra Mundial vemos ressurgir, no
sistema político dos países europeus, partidos de extrema-direita
representados nos parlamentos nacionais, partidos anti-sistema, que põem
em causa as instituições democráticas, utilizando o populismo
alicerçado na divulgação de ideias básicas, muitas vezes falsas ou
descontextualizadas, disseminadas de forma organizada, sobretudo através
das redes sociais.
Estes partidos baseiam-se num discurso de índole
nacionalista, anti-imigração, anti-diversidade e anti-escolha. A União
Cívica de Órban na Hungria, a Liga Norte de Salvini em Itália, a União
Nacional de Marine Le Pen em França, o Vox de Santiago Abascal em
Espanha, são exemplos, da normalização institucional de uma ideologia de
extrema-direita, disseminada através de uma estratégia comunicacional
assente nas redes sociais, de transmissão de uma mensagem simplista,
muitas vezes deturpada e enganadora, que tem como objetivo fomentar o
medo e a insegurança. Portugal viveu fora desta realidade até às
eleições legislativas deste ano e à entrada do Chega de André Ventura no
Parlamento Português, partido irmão da extrema-direita europeia.
Hoje temos uma representação do Deputado Único, que era até há pouco
tempo militante de um Partido moderado e cuja radicalização se iniciou
com a candidatura à Câmara de Loures, que tem uma estratégia de
afirmação através de uma postura de descredibilização das Instituições
incluindo a própria Assembleia da República. As intervenções do Deputado
baseiam-se na critica básica a tudo e a todos, usando recorrentemente
palavras como vergonha e escândalo, mostrando papeis que supostamente
provam coisas, criando casos e arruaças. Quando há alguma posição de
oposição a esta forma de intervenção, vem a vitimização levada ao
extremo, sempre com a acusação de estarem a limitá-lo na liberdade de
expressão. Juntam-se às intervenções os votos de pesar, de louvor, de
indignação, que são posteriormente usados nas redes sociais de forma
desonesta, utilizando os títulos sem divulgar o conteúdo, para provocar
indignação sobre os partidos que votam contra, sem nunca explicar o que
dizem concretamente e que levaram a esse sentido de voto.
Esta estratégia do Chega e de André Ventura assenta num “exército”
de correligionários que alimentam as redes sociais, criando a imagem do
herói corajoso, potenciando as fake-news e as mensagens populistas e
anti-sistema do deputado. Entre os correligionários estão ideólogos de
extrema-direita, ultra-conservadores e ultra-liberais, como é o caso de
Diogo Pacheco de Amorim.
Mas também ativistas radicais dos movimentos
anti-escolha e de movimentos racistas e xenófobos. O que André Ventura
não faz é apresentar no Parlamento as propostas para o país que estão no
seu programa eleitoral, porque Ventura sabe que muitas das pessoas que
estão a ser aliciadas pelas suas mensagens deixariam de o apoiar se
conhecessem a sua linha programática para o país – privatização total da
saúde, da educação e dos transportes, fim do Estado Social, só para dar
alguns exemplos.
Esta estratégia utilizada por estes partidos de extrema-direita é
assente numa lógica de populismo e propaganda que, através de ideias
simplistas e estereotipadas, potenciadas por um forte modelo
propagandista, são utilizadas para fomentar a desinformação e o ódio,
criando uma conjuntura de medo e de desconfiança perante os outros e
perante a diversidade. Não concordo com a tese de que não reagirmos a
Ventura seja o melhor para não lhe dar força, parece-me que devemos
combatê-lo com a verdade, combatê-lo obrigando-o a vir à liça com as
suas propostas, combatê-lo não tendo medo dos seus correligionários que
atacam com ódio e mal decência nas redes sociais. Só há uma maneira de
proteger o futuro da liberdade e da democracia. Não dar tréguas e não
transigir perante a demagogia e a radicalização dos Venturas.
IN "VISÃO"
19/12/19
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