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24/10/19
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Nordeste 1 Bolsonaro 0
E se as manchas de petróleo nas praias do Nordeste fossem um aviso dos deuses?”, pergunta Juan Arias na edição brasileira do El País.
Ou então “essas manchas pretas também poderiam ser um alerta da
decadência política, social e humana que o país está enfrentando”.
Por decadente Juan Arias toma, como é evidente, o Presidente Jair
Bolsonaro e as suas políticas. A ironia de questionar se o povo
brasileiro está a pagar o preço divino pela degradação das suas elites é
a facilidade com que se conclui que são as próprias elites -
representadas pelo Governo de Bolsonaro - as autoras morais das pragas
que assolam o país.
Da destruição da Amazónia ao maior derramamento de petróleo da
história do Brasil, a cumplicidade do Presidente com a tragédia
revela-se em ações e omissões. Acções. Porque não há nada mais
deliberado e permeditado pelo governo de Bolsonaro do que o ataque às organizações que impulsionam a legislação ambiental e denunciam a impunidade dos que a violam.
A destruição ambiental é a tentação permanente do capitalismo. Num
país continental em que as riquezas naturais fazem salivar os protegidos
negócios agrícolas e extrativistas, os movimentos ambientalistas são
muitas vezes a última trincheira entre o ruralista e o desmatamento.
Toda a política anti-ambiental de Bolsonaro, na linha dos negacionistas
climáticos liderados por Trump, é salvo conduto para a selvajaria
ambiental e social.
Omissões. Pela absoluta incapacidade (ou será falta de vontade?) para
responder à altura das responsabilidades. Na imprensa nacional e
internacional multiplicam-se as notícias sobre
o plano para conter derrames de petróleo que não foi acionado pelo
governo federal para o Nordeste. Foi essa inação que levou os
Procuradores federais de nove estados do Nordeste a entrar com uma ação
civil pública para obrigar o Governo a acionar em 24 horas o Plano
Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas
sob Jurisdição Nacional.
Pouco preocupado em conter os danos, o Presidente entreteve-se a
atribuir culpas à Venezuela ou a uma misteriosa mão criminosa com
intenção de prejudicar a recém decidida privatização do
petróleo brasileiro. Enquanto isso o país propriamente dito, que é como
quem diz, o povo, juntava-se para limpar a braços cada uma das manchas
de petróleo das praias nordestinas.
"É uma trabalheira, porque a gente tira o óleo, mas ele esquenta com o
sol, vai derretendo, rasga o saco, fura o balde. Tem que ter
paciência", diz um dos homens que recolhe bolas de petróleo com um pau
para encher os sacos que em breve serão acumulados em toneladas de
resíduos retirados das praias. Ao longo dos 2.250 quilómetros de costa
afetados, a limpeza tem sido protagonizada
por grupos de voluntários: autarcas, governantes locais, associações,
clubes de futebol, estudantes, ativistas, moradores e pescadores
nordestinos.
Apesar das suposições do Presidente, ninguém sabe exatamente qual foi
a origem deste acidente. Perante muitos mistérios que envolvem o maior
derrame de petróleo da história do Brasil, uma coisa é certa: o povo do
nordeste deu uma lição ao Presidente que o despreza. Nesse contraste vemos o Brasil que resiste: Nordeste 1 Bolsonaro 0.
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24/10/19
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