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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/10/19
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Podemos salvar
o cinema, os media
e o audiovisual?
Sou amigo do Nuno Artur Silva há alguns anos. A sua nomeação para o
Governo é um momento feliz porque é raro podermos contar com a
competência máxima no lugar certo.
O Nuno Artur vai arriscar tudo num trabalho ciclópico: reerguer o Cinema, o Audiovisual e os Media.
Comecemos
pelo cinema português, que representa 4 por cento nas vendas de
bilhetes em sala em Portugal, contra quase 60% em França e 40% em
Espanha - números apresentados pela NOS Audiovisuais em 2018. Ou seja, o
cinema português está quase sempre perto do zero. Não há uma indústria,
não há escala, nada tem continuidade. Vive-se na total precariedade e
de mão estendida face aos escassos públicos que existem - Instituto do
Cinema e Audiovisual (ICA) e RTP. Que têm tostões face a um setor
exaurido e sempre na (real) falência.
No audiovisual é igual: a
RTP não chega para suportar um setor inteiro. A SIC e TVI dedicam o
essencial do seu dinheiro às equipas internas para produzir muitas horas
a baixo custo (nos canais cabo isto representa quase o orçamento
total). As áreas de outsourcing nas televisões privadas estão limitadas aos programas de estúdio da manhã e a da tarde, às novelas e reality shows.
Sobra quase nada para filmes portugueses, documentários ou magazines. E
afetam algum dinheiro à compra de conteúdos estrangeiros, que chegam a
Portugal com custos muito mais baixos que os produzidos por cá (porque
fazem receita no mercado internacional, sobretudo os anglo-saxónicos).
Quem
já foi a feiras de conteúdos pelo mundo sabe quão utópico é vender
conteúdos falados em português - à exceção de novelas (a baixíssimo
preço por episódio).
Simultaneamente, toda a gente anda à espera
há muito que seja aplicada em Portugal uma nova diretiva europeia que
obriga, finalmente, a que os canais estrangeiros difundidos em Portugal
garantam alguma quota mínima de produção nacional... Porque sem memória e
história não há um coletivo nacional de ideias e valores, não há, em
certo sentido, uma pátria. Qualquer dia as novas gerações conhecem
melhor a história da Revolução Americana do que 1 de Dezembro de 1640. E
por aí fora.
Nos média nem é preciso dizer nada sobre a crise
total. Os jornais fecham (por todo o mundo) ou tornam-se mortos-vivos:
quase sem gente nas redações, sem pensamento, esmagados pelos média
acéfalos devoradores da atenção (sobretudo redes sociais), deixando os
media (mesmo os grandes) de mão estendida a todos os favores diretos ou
tácitos às grandes corporações que aparecem para comprar publicidade ou
mesmo o capital. Entretanto, é preciso encontrar capacidade de
remuneração para os conteúdos digitais.
Por fim, a música
portuguesa, que parece melhor que os outros mas, na verdade, quando a
escala é Lilliput, até um anão é gigante.
Uma simples radiografia
como esta mostra o quão atrasados nós estamos nestas áreas. Se isto não
precisa de uma ação urgente que defenda a cultura e democracia, então
não sei para que serve o Estado.
Só o Governo pode organizar o
sector, descobrir alguns apoios europeus mais transversais, diminuir a
precariedade nos vínculos laborais e garantir o futuro da língua. Esta é
a grande esperança (talvez excessiva) que os sectores de conteúdos
depositam no novo secretário de Estado.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/10/19
* Mesmo não sendo amiga de Nuno Artur Silva deposito nele uma enorme confiança.
(Alampadinha)
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