Como se fossem escravos
As
atenções viram-se para Matteo Salvini, ministro do Interior de Itália: o
homem que recusa receber no porto de Lampedusa um barco com 134
migrantes a bordo. Ontem, obedecendo a uma ordem do primeiro-ministro,
Giuseppe Conte, não escondendo a má vontade, Salvini autorizou o
desembarque de 27 menores que viajavam sem companhia. Uma atitude de
pura desumanidade, mais uma do governante de extrema-direita.
Parece
cómodo, todavia, voltarmos as nossas atenções unicamente para o
indesculpável Matteo Salvini. É hora de se reclamar algo mais dos
responsáveis políticos europeus. Não basta, pontualmente, ir aceitando
receber migrantes como deverá acontecer neste caso - Portugal, França,
Alemanha, Luxemburgo, Roménia e Espanha já se disponibilizaram - e
depois continuar, como se nada fosse, até à próxima emergência ou
tragédia.
O
"Open Arms", um navio humanitário há semanas ao largo de Lampedusa com
134 migrantes salvos de um naufrágio, faz lembrar um barco negreiro, do
tempo em que as embarcações portuguesas e espanholas cruzavam os mares
com mão de obra escrava. A situação é explosiva, relatam os voluntários,
também eles retidos num navio sob um sol escaldante, com escassos meios
de subsistência e praticamente nenhumas condições de higiene.
Não
podemos continuar a ver nestas pessoas o outro, como os nossos
antepassados olharam para os escravos, sem qualquer gesto de humanidade -
como se eles não fossem seres humanos em tudo iguais a nós.
É
tempo de a União Europeia definir uma política séria de imigração.
Também é tempo de colocar um ponto final na hipocrisia cúmplice:
alimenta, como sabemos, conflitos que conduzem ao êxodo destas pessoas
em busca, não só de uma vida não digna, mas apenas melhor. E, sobretudo,
à procura de um refúgio onde as armas não substituam as palavras.
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
18/08/19
.
Sem comentários:
Enviar um comentário