A Inteligência Competitiva
Quando esteve em Portugal Thomas Malone, emérito professor da MIT
Sloan School of Management, apresentou uma excelente visão sobre o papel
que a “inteligência colectiva” tem nas organizações do futuro. Trata-se
de uma nova plataforma de articulação entre os diferentes actores,
destinada conhecer as “competências centrais” da sociedade e
qualificá-las duma forma estruturante como vias únicas de criação de
valor e consolidação da diferença. Para Portugal a oportunidade é única
também. Impõe-se, de facto, um sentido de “inteligência competitiva” num
tempo novo que se quer para o país.
Para Portugal a essência desta nova “inteligência competitiva” tem
que se centrar num conjunto de novas “ideias de convergência”, a partir
das quais se ponham em contacto permanente todos os que têm uma agenda
de renovação do futuro. Importa acelerar uma cultura empreendedora em
Portugal. A matriz comportamental da “população socialmente activa” do
nosso país é avessa ao risco, à aposta na inovação e à partilha de uma
cultura de dinâmica positiva. Importa por isso mobilizar as Capacidades
Positivas de Criação de Riqueza. Fazer do Empreendedorismo a alavanca
duma nova criação de valor que conte no mercado global dos produtos e
serviços verdadeiramente transaccionáveis.
Na sociedade da “inteligência competitiva”, a falta de rigor e
organização nos processos e nas decisões, sem respeito pelos factores
“tempo” e “qualidade” já não é tolerável nos novos tempos globais. Não
se poderá a pretexto de uma “lógica secular latina” mais admitir o não
cumprimento dos horários, dos cronogramas e dos objectivos. Não cumprir
este paradigma é sinónimo de ineficácia e de incapacidade estrutural de
poder vir a ser melhor. Importa por isso uma cultura estruturada de
dimensão organizacional aplicada de forma sistémica aos actores da
sociedade civil. Há que fazer da “capacidade organizacional” o elemento
qualificador da “capacidade mobilizadora”.
Pretende-se também um Portugal de “inteligência competitiva” mais
equilibrado do ponto de vista de coesão social e territorial. A
crescente (e excessiva) metropolização do país torna o diagnóstico ainda
mais grave. A desertificação do interior, a incapacidade das cidades
médias de protagonizarem uma atitude de catalisação de mudança, de
fixação de competências, de atracção de investimento empresarial, são
realidades marcantes que confirmam a ausência duma lógica estratégica
consistente. Não se pode conceber uma aposta na competitividade
estratégica do país sem entender e atender à coesão territorial, sendo
por isso decisivo o sentido das efectivas apostas de desenvolvimento
regional de consolidação de “clusters de conhecimento” sustentados.
A sociedade civil portuguesa tem nesta matéria um papel central. A
aposta na excelência, na sua diferença e no seu sucesso, é o resultado
duma agenda estratégica que se pretende voltada para um futuro
permanente. Apostar na excelência deve constituir um compromisso
permanente na procura do valor, da inovação e da criatividade como
factores críticos da mudança. Os bons exemplos devem ser seguidos, as
boas práticas devem ser percebidas, o caminho tem que ser o da distinção
e da qualificação. Na Sociedade da “inteligência competitiva” sobrevive quem consegue ter escala e participar, com valor, nas grandes Redes de Decisão.
Num país que se quer voltada para o futuro, as Empresas, as
Universidades, os Centros de Competência Políticos têm que protagonizar
uma lógica de “cooperação positiva em competição” para evitar o
desaparecimento. O desafio da “inteligência competitiva” tem que ser
desenvolvido. Fazer de Portugal a Oportunidade Possível dum país onde o
Conhecimento e a Criatividade sejam capazes de fazer o compromisso nem
sempre fácil entre a memória dum passado que não se quer esquecer e um
regresso a um futuro que não se quer perder.
* Presidente da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública
IN "OJE"
24/04/16
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