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Inspecção da saúde abriu processo para averiguação ao Hospital de Santa Maria
Estudo indicou que o HSM está minado por interesses e lealdades a partidos, maçonaria e organizações católicas.
A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS)
decidiu abrir um processo para averiguação ao Hospital Santa Maria após
um estudo indicar que o HSM está minado por interesses e lealdades a
partidos, maçonaria e organizações católicas, disse à Lusa fonte
oficial.
.
Segundo a mesma fonte, esta averiguação será integrada num processo
de auditoria que a IGAS já tem a decorrer, a pedido do próprio ministro
da Saúde, na sequência de denúncias do anterior director clinico do
hospital, Miguel Oliveira e Silva.
No estudo, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, é
dito que o Hospital de Santa Maria, o maior do país, está minado por uma
teia de interesses e lealdades a partidos políticos, à maçonaria e
organizações católicas.
Entretanto, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, sem se pronunciar
concretamente sobre o conteúdo do estudo indicou esta quarta-feira que
“o conselho de administração do hospital está ainda analisar o assunto”.
A análise ao Hospital de Santa Maria (HSM), a cargo da investigadora
Sónia Pires, salienta que, “apesar das melhorias registadas a partir de
2005”, a unidade hospitalar “continua atravessada por fortes conflitos
de interesse e atos nas zonas cinzentas ou silenciadas que se configuram
como corrupção”.
“A Maçonaria, a Opus Dei e a ligação a partidos políticos ainda são
três realidades externas que intersetam a esfera do HSM”, refere o
estudo “Valores, qualidade institucional e desenvolvimento em Portugal,
que vai ser apresentado na quinta-feira.
A investigadora, que se baseou em questionários e entrevistas
recolhidos entre 2012 e 2013, traça um retrato negro da instituição onde
se entrecruzam os interesses públicos e privados de “grupos poderosos”,
nomeadamente na classe médica e na direcção de serviços de apoio que
condicionam o funcionamento dos serviços a nível de recursos humanos e
aquisição de material clínico.
O diagnóstico era ainda pior há dez anos: “a situação estava fora de
controlo, não havendo registos de utilização do equipamento e
verificando-se roubos regulares, por parte de médicos e de outro
pessoal, que se serviam a seu bel-prazer dos armazéns do hospital para
fornecer as suas clínicas privadas”.
O fecho do hospital chegou a ser ponderado e foi necessária “a
intervenção enérgica” do ministro da Saúde, que nomeou um novo Conselho
de Administração e um novo presidente para salvar a instituição, refere o
documento, acrescentando que esse dirigente e a sua família receberam
ameaças de morte e chegaram a ser acompanhados por uma escolta policial.
Sónia Pires destaca que “as condições melhoraram” entretanto, mas
continuam a ser “prática comum” pequenos atos de corrupção como, por
exemplo, “troca de favores, fazendo passar à frente, nas listas de
espera, amigos e familiares, e o médico assistente canalizar os
pacientes que têm de fazer análises para laboratórios privados dos quais
é sócio”.
A corrupção foi mais evidente até meados de 2000, e sofreu uma quebra com a reorganização dos serviços.
“Com efeito, a introdução da informatização dos serviços, as
alterações nas chefias dos serviços de apoio (com a vinda de actores do
sector privado bancário ou do sector dos seguros de saúde), a entrega de
relatórios de contas por serviço, área ou departamento, ou a
externalização de certos serviços (como a alimentação, a lavandaria ou
obras de manutenção) fazem com que o despesismo seja mais controlado”,
adianta o relatório.
O documento revela igualmente casos de absentismo de chefias médicas
nos serviços de ação médica e nomeações dos diretores de serviço feitas
“à revelia das normas e regulamentos”.
Justifica, por outro lado, a permanência de alguns médicos no serviço
público com o facto de “pertencer ao HSM ser útil para conseguir o
estatuto social e simbólico próprio à profissão”, admitindo que, embora
se mantenham os melhores elementos, há ausência de meritocracia, nas
nomeações e na promoção.
“Os processos de nomeação não são claros e estão atravessados por
outras dinâmicas como os jogos de interesse e as lutas entre professores
na Faculdade de Medicina, e a presença de dinâmicas externas próprias à
sociedade portuguesa – como a maçonaria, a Opus Dei e a ligação a
partidos políticos (ligação mais recente, temporalmente, e com ênfase
particular no Partido Comunista e no Partido Socialista)”, salienta a
investigadora, baseando-se nas informações que recolheu.
Santa Maria foi a organização mais mal classificada entre as seis
analisadas no estudo (Autoridade Tributária, ASAE, EDP, Bolsa de Lisboa,
Hospital de Santa Maria e CTT), destacando-se essencialmente na
avaliação sobre inovação e flexibilidade tecnológica.
No entanto, a partir de 2011, as restrições orçamentais no Serviço
Nacional de Saúde condicionaram a introdução de maior flexibilidade
tecnológica e inovação nos serviços, notou Sónia Pires.
O estudo envolveu vários investigadores e foi coordenado pela
professora da Universidade Nova de Lisboa Margarida Marques e pelo
professor da Universidade de Princeton Alejandro Portes.
* Somos utentes básicos do HSM e tanto a experiência pessoal com a de familiares muito próximos no que respeita a cuidados de saúde é no mínimo muito boa, apesar da ocorrência de dois óbitos.
Estamos portanto sem palavras depois de ler esta notícia.
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