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HOJE NO
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Parlamento.
Os deputados andam a ver
“raparigas avantajadas”?
Marcelo leu a carta de uma jovem que diz ter visto os deputados mais interessados nos vídeos do YouTube do que na discussão no plenário
A
história foi contada por Marcelo Rebelo de Sousa. Os deputados, em
plena discussão sobre o Orçamento do Estado para 2015, estavam mais
concentrados em tarefas menos dignas como ver “raparigas avantajadas” no
Facebook. No seu comentário na TVI, no domingo, o professor leu uma
carta de uma adolescente de 16 anos a estudar numa escola de Vila Franca
de Xira que, após assistir à discussão, ficou desiludida com o que viu.
“Deputados o tempo todo no Facebook a ver raparigas avantajadas, outros
a assistir a vídeos de quedas, aqueles que se encontram no Youtube para
fazer as pessoas rir, uma vez três deles juntaram-se a rir de qualquer
coisa no computador, outros a ver mails publicitários...”
A discrição não abona a favor dos deputados, que curiosamente
utilizaram o Facebook para protestar. Um deles é do partido de Marcelo e
escreveu que “esta história está muito mal contada”. Carlos Abreu
Amorim, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, não acredita que
“algum deputado veja imagens de jovens avantajadas no plenário”. Estão
concentrados no trabalho? Talvez. Mas Abreu Amorim tem outra explicação:
“Estão fartinhos de saber que os fotógrafos e as câmaras de TV estão
sempre à espreita de uma oportunidade dessas para darem notícia”. O
socialista José Magalhães também acha a carta que Marcelo recebeu “muito
estranha” e tem dúvidas de que das galerias seja possível perceber o
que estão os deputados a ver no seus computadores. “Mesmo uma senhora
muito avantajada dificilmente se distingue de uma banana, quando vista
das galerias” escreve o deputado socialista, lamentando que Marcelo
tenha lançado sobre “todo do hemiciclo uma suspeição de conduta
imprópria e estúpida”.
O vice-presidente da Assembleia da República e deputado do PSD
Guilherme Silva concorda que “só de binóculos” é que “os computadores
dos deputados são visíveis das galerias”. E o professor Marcelo não sabe
isso? “Também sabe ou devia saber”, responde Guilherme Silva. O
deputado do PSD está convicto de que de uma forma geral os deputado
estão concentrados no debate ou a fazer trabalho parlamentar. “Se
aconteceu algum caso isolado não devemos generalizar”, diz.
O social-democrata também não acredita que seja “verdade” que os
deputado andem a espreitar “mulheres avantajadas” na internet. E
ressalva que “é normal que os deputados usem o telefone, o computador e
outros meios enquanto estão no plenário, para trabalhar nos dossiers que
cada um tem a seu cargo”. Mas, acrescenta Duarte Marques, ninguém “está
a salvo de abrir um email cujo conteúdo desconhece e lhe sair uma foto
ou algo do género”.
Não é a primeira vez que os computadores dos deputados provocam
polémica. Em Março de 2010, o então presidente do conselho de
administração do parlamento, José Lello, defendeu que os deputados “não
podem estar sujeitos ao voyeurismo” dos fotógrafos e queria redefinir a
mobilidade dos repórteres. A bancada do PS aplaudiu e em sinal de
protesto muitos deputados baixaram os ecrãs dos seus computadores. Mas
até hoje nenhum partido apresentou qualquer projecto para mudar as
regras do jogo.
Os casos mais polémicos
O mistério das cartas anónimas
Estávamos no início dos anos 90, em pleno cavaquismo. O parlamento
era um lugar onde a maioria absoluta do PSD comandada com mão de ferro
por Cavaco Silva, podia controlar quase tudo. Mas aconteceu uma coisa
inesperada que perturbou profundamente todos os deputados e ficou
conhecido pelo mistério das cartas anónimas. Alguém desatou a escrever
cartas anónimas que começaram a circular na Assembleia, com pormenores
sobre práticas sexuais de deputados. Foi um choque com que o parlamento
conviveu em silêncio público, mas com o maior dos desconfortos. Toda a
gente que trabalhava no parlamento conhecia o conteúdo sórdido das
cartas e convivia com as vítimas dos escritos. O assunto assumiu
proporções tão graves que um dia foi discutido em conferência de líderes
parlamentares. De um dia para o outro as cartas anónimas acabaram.
“Uma palhaçada”
No início da legislatura, em 2011, o deputado social-democrata Pedro
Saraiva agarrou em centenas de post-its e deixou um em cada mesa do
plenário. A seguir subiu ao palanque e mostrou-se convicto de que “mais
de 230 passos serão dados no longo caminho do sucesso a percorrer”. A
oposição não gostou da ideia e os momentos seguintes deixaram este
deputado – que tem o doutoramento em Química e é professor catedrático
da Universidade de Coimbra – com as orelhas a arder. “Estas palhaçadas
desprestigiantes para o parlamento não podem ser autorizadas”, gritou o
deputado socialista Sérgio Sousa Pinto. “Patética intervenção”,
acrescentou o líder da bancada do PCP, Bernardino Soares. Os post-its
destinavam-se a recolher “sugestões” de todos os deputados, mas a ideia
morreu por ali, perante a reacção violenta de muitos deputados da
oposição.
Quando o José Eduardo Martins se passou
Em 2009, no tempo do governo Sócrates, o advogado José Eduardo
Martins era deputado do PSD. Com um debate sobre painéis solares como
pano de fundo, e perante os protestos de Martins, o socialista Afonso
Candal faz um aparte que vai provocar a ira do deputado do PSD. Candal
diz: “Eu sei que as suas preocupações são com os contribuintes. Eu sei
quais são os seus interesses”. Perante a alusão de que teria interesses
na matéria em causa, José Eduardo Martins passou-se e disse uma
expressão proibidíssima em quase todo o lado, muito mais no parlamento:
“Vai para o caralho”. Martins justificou-se com um “quem não se sente
não é filho de boa gente” e pediu a Candal para “concretizar a
insinuação”. Jaime Gama era presidente do parlamento e estava no seu
posto quando tudo aconteceu. Disse que não ouviu nada: “Não tive a
percepção.”
O ministro que fez cornos à bancada do PCP
Quando em Julho de 2009 o ministro da Economia, Manuel Pinho, decidiu
fazer os famosos corninhos que levaram à sua demissão instalou-se uma
disputa parlamentar. O Bloco de Esquerda foi o primeiro partido a
reclamar a demissão de Pinho mas o PCP era o verdadeiro alvo. “Os cornos
eram para nós”, desabafou uma assessora comunista quando percebeu que o
Bloco de Esquerda queria ficar com todo o protagonismo no combate
contra Manuel Pinho e a vitória política da demissão do ministro da
Economia. Embora Francisco Louçã tivesse sido o primeiro a reagir à
ofensa do ministro ao parlamento, efectivamente os cornos eram para a
bancada do PCP. Estávamos no debate do Estado da Nação e o líder
parlamentar Bernardino Soares atacou Pinho por entregar um cheque de
5000 euros ao clube de futebol de Aljustrel, no meio do caso das minas.
A grande confusão no gabinete de Jaime Gama
O amor é um grande demónio. À conta disso, o gabinete de Jaime Gama
foi uma vez invadido por uma mulher furiosa. Jaime Gama não tinha nada a
ver com o assunto – a questão, exclusivamente passional, dizia respeito
a um membro do seu gabinete que acabou por ser agredido pela sua
legítima esposa. Um caso de violência que não se pode chamar doméstica,
que é um crime público, mas que ninguém ousou invocar neste episódio. Os
seguranças do parlamento chegaram a ser chamados para acorrer ao
incidente. A situação foi gerida por Jaime Gama com a discrição
possível. De resto, no parlamento sempre existiram casos passionais,
embora tratados sempre de modo mais ou menos discreto. O caso mais
falado dos últimos tempos envolveu um assessor parlamentar que decidiu
passar parte da noite no plenário acompanhado. Coisas de pessoas
humanas.
“Manso é a tua tia, pá”
Estávamos em 2010 e José Sócrates era primeiro-ministro há seis anos.
Num debate quinzenal, Francisco Louçã virou-se para Sócrates e
disse-lhe que de “intervenção em intervenção vai ficando um pouco mais
manso”. O então primeiro-ministro não gostou e reagiu de imediato.
“Manso é a tua tia, pá”. Sócrates não falou para o microfone, mas a SIC
captou o som e todo o país o ouviu. Louçã não gostou e aconselhou o
líder do PS a “não baixar o nível, porque não é assim que deve ser o
debate na Assembleia da República”. Não foi a única vez que o debate
entre os dois azedou. Num outro debate, Sócrates virou-se para Louçã e
disse-lhe: “você está parvo, pá”. E, num debate sobre as leis laborais, o
líder do PS classificou o comportamento de Francisco Louçã como “uma
vergonha” por lançar “insinuações sobre pessoas do PS”.
* Esta notícia serve para perceber:
- Quão árida, primária e insidiosa é a inteligência de alguns doutos comentadores
- Quão indigente é o espírito paralamentar que se incomoda com comentários avulsos.
- Quão prespicaz é a púbere donzela mais interessada nos monitores dos deputados do que na enorme beleza da sala das sessões.
Portugal, no entanto, é muito isto.
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