15/07/2014

ANA RITA GUERRA

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Porque é que dar
 gadgets a crianças 
pode ser uma má ideia

A App Store da Apple tem dezenas de aplicações para iPad que ensinam as crianças a ler. Os novos tablets da Samsung têm um modo só para crianças porque, diz a marca, os filhos são os segundos maiores utilizadores dos gadgets dos pais. Quem quiser comprar um tablet específico para crianças, tem diversas opções à escolha.

Os miúdos mexem naquilo como se fosse um livro de colorir, sem qualquer dificuldade. É extraordinário e garante entretenimento e jogos educativos durante horas. Convenhamos, uma ama-seca bem melhor que deixar os miúdos à frente da televisão durante o tempo que quiserem.
É tudo fantástico, e tal, mas ultimamente deixou-me a pensar nos impactos de longo prazo. Tenho visto cada vez mais miúdos pequenos a brincar com um desses tablets baratos, que corre a Android, enquanto os pais tentam almoçar. Ou fazer compras. Ou receber amigos em casa mantendo os "terroristas" entretidos.

Porque é que isto levanta dúvidas, se - à partida - os benefícios educativos são tremendos? Biologia. E desenvolvimento de outras áreas do cérebro. O primeiro efeito negativo é o dano potencial aos olhos das crianças, e o seu envelhecimento precoce. Os médicos estão preocupados, e os pediatras do Royal College of Paediatrics and Child Health(Reino Unido) recomendam que crianças com idade inferior a três anos não sejam expostas a ecrãs. Televisão, computadores, consolas, tudo incluído.Isto porque a fase crítica de desenvolvimento do cérebro ocorre até aos três anos, e é vital a interacção directa olhos nos olhos - não olhos para ecrã.

Nos Estados Unidos, este estudo avisa para os efeitos negativos da utilização destes meios por crianças com menos de dois anos. Os canadianos dizem que nenhuma criança com menos de dois anos deve ter exposição a ecrãs de qualquer espécie. E depois há esta nova tendência, a de crianças bastante pequenas desenvolverem secura nos olhos.

Não bastassem estes avisos, que de resto já estão a ser feitos de forma consistente há alguns anos, há o facto de cada vez mais se substituir a escrita à mão pelo teclado, físico ou virtual. Podia ser, mas o problema não é saudosismo: é o facto de a escrita manual ser importante para o desenvolvimento cognitivo, em particular no treino do cérebro em especialização funcional. Além de ajudar a treinar a memória.

E sem esquecer que esta nossa adicção aos ecrãs contribui para um estilo de vida mais sentado ou parado. Uma pessoa senta-se no sofá com o tablet no colo e de repente está ali há uma hora, absorta nos milhares de links que se seguiram àquela consulta breve do Twitter. A inactividade é má para os adultos e para as crianças. Ainda é um fenómeno recente, pelo que pedir estudos de impactos a longo prazo é inútil. E não se trata de culpar a tecnologia pela aquisição de maus hábitos; trata-se de reconhecer essa propensão, e fazer algo por isso.


IN "DINHEIRO VIVO"
08/07/14


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