22/01/2014

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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"

Davos é o sítio certo para ‘vender' o país

Davos serve sobretudo para operações de marketing que costumam ser bem-sucedidas, como afirma Mira Amaral, que já lá esteve várias vezes.

A reunião anual de Davos, a 44ª, começa hoje. As novidades são poucas, numa agenda que se repete todos os anos. Mas não é isso que importa: o Fórum serve principalmente para operações de marketing que costumam ser muito bem-sucedidas, como afirma Mira Amaral, que já lá esteve várias vezes.

Apesar de todas as expectativas, de todo o corrupio de figuras mediáticas, de todo o aparato de segurança e da gigantesca operação de marketing que envolve a reunião anual de Davos do Fórum Económico Mundial (cuja 44ª edição, a primeira foi em 1971, tem hoje início naquela minúscula cidadezinha suíça), o certo é que, de ano para ano, as novidades são cada vez menos.

Há sempre um tema central em discussão - este ano é ‘Remodelar o Mundo: Consequências para a Sociedade, Política e Negócios', algo suficientemente genérico para oferecer conclusões para todos os gostos; há sempre figuras que preferem fazer-se notar pela ausência - este ano será a chanceler alemã Angela Merkel, aparentemente em retaliação por ter sido espiada pelos Estados Unidos; há sempre novidades sobre a desigualdade da distribuição mundial de riqueza e apelos à moralização que toda a gente faz questão de fazer de conta que tomará em consideração - a ONG Oxfam revelou esta semana que os 85 indivíduos mais ricos do mundo têm tanto dinheiro como os 3,57 mil milhões mais pobres (ora isto dá... isso: 42 milhões por cabeça); e há sempre desacatos entre Davos e os movimentos anti-Davos, que serão mais ou menos graves conforme mais ou menos elementos do Black Bloc estiverem presentes.

Mesmo assim, é um sítio onde "vale a pena ir", diz um dos portugueses que, na qualidade de ministro (da Indústria) mas também na de gestor privado, já lá esteve repetidas vezes: Luís Mira Amaral, actual CEO do banco BIC. A importância da presença varia em função da agenda de cada país. Dito de outra forma: se em cima da mesa das políticas nacionais estiverem em análise dossiers como por exemplo as privatizações, "é importante a presença de um ministro".

Portugal encaixa este ano nesse perfil: com a TAP a pretender levantar voo para outras mãos - depois de aterragem forçada a que foi obrigada na primeira tentativa - o ministro da Economia, António Pires de Lima, é um dos dez portugueses que estará em Davos.

Mira Amaral aceita que o dossier TAP é um motivo importante para explicar a presença de Pires de Lima, mas espera que a função do ministro seja mais abrangente: "é uma questão de imagem de Portugal, que é preciso ‘vender' aos nossos parceiros internacionais; fiz isso quando era ministro e sentir-me-ia chocado se o actual Governo não o fizesse também".

Aliás, recorda, Davos é o sítio certo para a promoção de um país: "em 1996, a Turquia fez uma grande operação no Fórum" e é isso que o gestor bancário espera que Portugal consiga fazer - nomeadamente numa altura em que os investidores aliviam as taxas que obrigam a República a pagar pelos seus empréstimos soberanos.

Jerónimo Martins está mais uma vez em Davos
Da restante lista de presenças nacionais constam António Guterres e Durão Barroso - presenças ‘por inerência' dos cargos que ocupam - e alguns empresários e gestores. Merece destaque a presença da Jerónimo Martins - a braços com sintomas preocupantes na operação polaca, país emergente para onde cessou a drenagem de fundos de investimento com excesso de liquidez - que se repete há vários anos. Pedro e José Soares dos Santos serão dois dos 2.633 presentes, mais coisa menos coisa, que se dividem entre 196 académicos, 288 membros de governos, 48 representantes de organizações internacionais e 2.101 figuras do sector privado.

Apesar da eventual importância da presença em Davos, não é fácil chegar lá. A razão é simples: é caro. Jorge Armindo, CEO da Amorim Turismo, que também já lá esteve, explicou que só a inscrição atinge os 25 mil euros; pior: para uma empresa ter a certeza de poder estar presente, só tem uma alternativa: tornar-se sócia permanente do fórum, juntando-se a uma agregado que já tem mais de mil participações. Para isso terá de despender um mínimo de 50 mil euros anuais (a que acresce, de qualquer modo, a inscrição para Davos) - o que não é grande coisa, se se levar em consideração a empresa-tipo que faz parte do Fórum: 4,5 mil milhões de euros de receitas, em média, e liderança (pelo menos regional) do sector.

Seja como for, Mira Amaral espera que a presença de Pires de Lima seja um grande benefício para o país. Mesmo que isso, para o ministro, não seja muito divertido: "quando era ministro vim embora no final da reunião; quando lá estive como gestor privado fiquei mais quatro dias a fazer ski na estância vizinha de Klosters, a convite do fundador do Fórum, o alemão Klaus Schwab".

* Davos é uma espécie de Feira da Ladra dos ricos, onde se negoceia  o destino dos povos a preço de saldo. 
Estarão presentes membros da maçonaria, opus dei e outras sociedades secretas em agradável e fraterno  convívio, à roda de uma mesa de iguarias, enquanto a cada minuto, um pouco longe daquele local, morrem cinco mil crianças por não terem um copo de água! 
É lá que Pires de Lima vai vender os portugueses.

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