HOJE NO
"i"
Esquerda. Rui Tavares vai abrir um
novo espaço ou uma nova divisão?
Primeira reunião sobre nova organização partidária é hoje promovida em Lisboa. Esquerda está dividida sobre a utilidade de mais um partido
Rui
Tavares reúne-se hoje em Lisboa com quem anseia por "um novo espaço de
liberdade à esquerda". Foi esta a maneira que o eurodeputado encontrou
de responder às solicitações que tem recebido depois de se ter
manifestado disponível para debater - e encabeçar - um novo partido. Mas
na esquerda o aparecimento de uma nova organização partidária não é
consensual. Para alguns não vale a pena vir dividir ainda mais um espaço
já por si fracturado e sem entendimentos. Outros louvam a iniciativa,
mas temem que se trate apenas de um "projecto circunstancial" para
reeleger Rui Tavares nas próximas europeias.
As entrevistas do eurodeputado ao i , em Junho, e mais
recentemente ao "Expresso", abriram o debate à esquerda sobre a
possibilidade de um novo partido. Fenómeno comum e com um relativo
sucesso eleitoral por toda a Europa desde 2011, Portugal tem sido
excepção no aparecimento de novos partidos em período de crise, apesar
do surgimento de grupos e movimentos que promovem protestos com amplo
apoio popular.
André Freire não estranha que isto aconteça. "Noutros países a
política está mais fragmentada, em Portugal está tudo muito
concentrado", aponta o politólogo. Para Feire, mesmo dentro do Bloco de
Esquerda, do PS ou do PSD há militantes "descontentes" que acabam por
não ser consequentes com as divergências que têm com as lideranças. "Os
actores políticos em Portugal são defensivos, enquanto lá fora há
vitalidade e renovação partidárias."
Objecto à esquerda não identificado
A reunião de hoje é, segundo Rui Tavares ao i,
"uma coisa mais inicial", que vai servir para discutir "a necessidade
de despertar as pessoas para a realidade, tendo em vista uma alternativa
à esquerda". Além de querer tentar um espaço para criar alianças à
esquerda, o eurodeputado quer que esta nova plataforma sirva para evitar
que uma possível coligação de bloco central entre PS e PSD em 2015
"altere a Constituição".
Para o socialista Pedro Nuno Santos, em vez de ajudar a esquerda, o
surgimento de um novo partido só favorece a direita. "Lamento que a
esquerda, em vez de se entender, se continue a dispersar. Só prejudica a
esquerda e beneficia a direita, que tem conseguido fazer coligações",
aponta o deputado socialista, que esteve presente no Congresso
Democrático das Alternativas. Pedro Nuno Santos diz não saber o que um
novo partido à esquerda "pode trazer de novo à cena política" ou mesmo
se pode "acrescentar algo de novo".
Já para Daniel Oliveira, colunista e ex--militante do Bloco de
Esquerda, um novo partido "é bem-vindo se fizer sentido", mas sublinha
que a solução para a esquerda portuguesa passa por "haver uma
reorganização que resulte no surgimento de um sujeito político que
englobe pessoas disponíveis para um entendimento". "Seria uma coisa mais
abrangente que o Bloco de Esquerda, que agregasse não só quem lá está
descontente, mas também quem não se vê representado no PS", explica
Oliveira - que assegura não estar de qualquer forma envolvido neste
projecto, apesar da amizade com Rui Tavares.
Partido em causa própria
André
Freire diz que "é meritório que alguém vá a jogo" e encabece o projecto
de tentar criar um novo partido, especialmente se for criado para
quebrar o "desentendimento estrutural à esquerda" em Portugal. Mas, a
surgir, é necessário que esta força tenha "um projecto circunstancial" e
não seja apenas "uma plataforma para a reeleição de Rui Tavares".
Henrique Neto, ex-deputado socialista, considera que, se fosse esse o
caso, Rui Tavares teria aceitado o convite do PS. "Fica-lhe bem
recusar, mostra que não está apenas interessado num lugar no Parlamento
Europeu", sublinha o empresário, que vê em Rui Tavares "uma das
primeiras pessoas a chamar a atenção para a importância do entendimento à
esquerda", algo que "não é normal" no país. "Eu penso que há espaço
para um novo partido à esquerda. Se for para repetir as mesmas coisas
não vale a pena, mas se estiver aberto à cooperação com outros partidos e
tiver uma estratégia real para fazer face a esta crise, deve avançar."
No que toca ao convite do PS, Pedro Nuno Santos lamenta que Rui
Tavares não tenha aceitado a sugestão de Francisco Assis para integrar
as listas do PS. Não só ele próprio já defendeu essa solução mas o
eurodeputado daria um "contributo muito importante" ao partido. O i tentou ouvir a opinião de vários dirigentes do BE sobre o tema, mas sem sucesso.
* A direita em Portugal está melhor organizada, o CDS/PP, a direita da direita, o PPD/PSD a direita pura e o PS, um pouco menos à direita, por isso constituem o arco do covil da governação. Sempre foi assim e só se nos quisermos auto enganar é que pensaremos doutra maneira.
À esquerda temos a ortodoxia do PCP, defensor da paródia marxista-leninista, que ludribiou tanta gente durante décadas e a manta de retalhos, o BE, a não-solução para Portugal.
O desejo de Rui Tavares, pessoa séria e inteligente, pode ser uma lufada de ar fresco e desinfectante da nauseabunda partidocracia nacional, queremos isso.
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