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HOJE NA
"SÁBADO"
As cinco reformas estruturais que
o BE quer levar para o governo
Catarina Martins deu uma bofetada de luva branca a António Costa, revelou o "único momento em que a legislatura esteve em risco", confessou que acha que vai "ganhar o céu" por negociar com ministros e secretários de Estado e apresentou as linhas essenciais que o Bloco quer para um governo de esquerda.
Desta vez, é a esquerda a apresentar um programa de reformas
estruturais. São cinco as que Catarina Martins apresentou no final da XI
Convenção do BE, a que se junta mais um desafio:o de mudar o Tratado
Orçamental.
Lei de Bases da Saúde
A
protecção do Serviço Nacional de Saúde, através da aprovação da Lei de
Bases da Saúde, apresentada por António Arnaut e João Semedo, é a
primeira das "reformas estruturais" que Catarina Martins acha que o país
precisa. Para coordenadora do Bloco, é importante que o Estado deixe de
entregar "4 em cada dez euros aos grandes grupos privados" e que aposte
numa rede pública de qualidade.
Demografia
"A
reforma que é preciso fazer é exactamente o contário do que a direita
fez", defendeu Catarina Martins, que acha que só se promove a
natalidade, "com melhores salários, salários iguais para homens e
mulheres, respeito pelos imigrantes, abono de família, transportes e
livros gratuitos, a universalidade do Estado Social".
Combate às alterações climáticas
A líder
bloquista recordou o "braço de ferro com as autoridades sobre as
concessões petrolíferas" que tem levado à caducidade de licenças de
exploração e até à desistência de contratos por petrolíferas e defendeu
que o caminho passa pela descarbonização e pela aposta numa economia
verde e sustentável. "A insistência em não apostarmos no petróleo é a
única forma de virarmos a economia para a sustentabilidade".
Sistema de crédito e dos bens comuns
O
BE quer garantir o controlo público da energia e da banca. Pagamos uma
das electricidades mais caras da Europa e tivemos resgates bancários e
garantias que chegaram aos 40 mil milhões de euros", frisou Catarina
Martins, que quer inverter essa tendência, mas que não foi clara sobre
de que modo e em que termos será feito esse "controlo público" sobre
sectores que são hoje privados.
Salto de qualidade na democracia
O
combate à corrupção é a última das reformas consideradas prioritárias
por Catarina Martins e aquele que foi apresentada com uma medida
concreta e calendário de concretização ainda nesta legislatura. "Tudo
faremos para que a Entidade da Transparência seja uma realidade ainda
este ano", afirmou, defendendo que este organismo tenha "competência e
meios" para assegurar um maior controlo dos titulares de cargos
públicos. A líder bloquista acha que "é insuportável a degradação e o
pântano" gerados pela corrupção e esta é a proposta do BE para lutar
contra isso.
A bofetada de luva branca a Costa e a revelação de uma crise
Foi
a primeira vez que Catarina Martins falou nestes termos sobre a tensão
gerada pelo facto de o Governo de António Costa ter procurado compensar
os patrões da subida do salário mínimo com uma descida da TSU. "Só houve
um momento em que a legislatura esteve em risco. quando o Governo
decidiu compensar os patrões do aumento do salário mínimo nacional com a
descida da TSU", afirmou a coordenadora do Bloco, que aproveitou para
lançar uma farpa ao Governo socialista. "Não damos com uma mão para
tirar com a outra", vincou, lembrando o desfecho que diz ter sido
conseguido pelo seu partido: "manteve-se a TSU e o aumento o salário
mínimo nacional".
"Estão a ver? Conseguimos o impossível", disse,
para dar o mote à ideia de que o que hoje não parece possível, como ter o
BE no governo a impor políticas de esquerda, pode vir a ser uma
realidade depois das eleições legislativas de 2019.
No discurso de
encerramento, Catarina Martins concentrou-se mais no que o BE quer para
o futuro e menos nos ataques ao Governo. Mas não deixou de dar aquilo
que pode ser visto como uma bofetada de luva branca a António Costa,
quando se referiu à forma como secretário-geral do PS omitiu o papel dos
parceiros da esquerda no seu discurso no Congresso do PS na Batalha.
"Eu
prefiro a cordialidade de sublinhar que esse caminho contra a
austeridade foi possível porque houve uma convergência", afirmou
Catarina Martins, que saudou "toda a gente, o Governo, o PS, o PCP e o
PEV"-
"E acrescento que não nos arrependemos de nada", vincou,
assumindo ter "orgulho em que esta convergência e negociação permanente
com o Governo tenha conseguido a devolução de rendimentos". Ainda que
tenha confessado que essas negociações nem sempre são tarefa fácil.
"Confesso-vos que negociar com tantos ministros e secretários de Estado é
tarefa para ganhar o céu", brincou, antes de atirar um "pois
habituem-se agora ao Bloco".
A luta pelo Governo
A
ideia mais forte que sai desta Convenção do Bloco de Esquerda é a de
que partido se assume com ambição para ir para o governo. "Toda a
política é luta pelo poder e pelo governo", afirmou Catarina Martins,
citando-se a si própria ao recuperar o que disse na última reunião magna
do BE há dois anos. Só que, desta vez, Catarina Martins deu um passo em
frente.
"Esta é a nossa luta pelo governo. Trabalharemos para que
esse governo exista, para que esse governo cumpra", prometeu Catarina
Martins, que não quis falar em fasquias eleitorais ou tipos de acordos,
pondo essa decisão nas mãos dos eleitores. "Alcançaremos a força para
sermos parte de um governo quando o povo quiser", disse, antes de
declarar que "o grande projecto da esquerda para o século XXI é este: a
democracia a tomar conta da economia".
A promessa é a de ir agora
mais longe do que se conseguiu nesta legislatura. "Fizemos, fazemos e
faremos o impossível pela nossa gente, pelo nosso povo", frisou Catarina
Martins que até foi buscar um slogan muitas vezes usado por António
Costa para se apropriar dele. "Essa enorme maioria ficou com a certeza
de que para o BE palavra dada é palavra cumprida", afirmou,
desvalorizando quem à direita defende que o BE trabalha apenas para
beneficiar as suas clientelas eleitorais. "Lutamos para a maioria, não
nos esquecemos de ninguém".
Mudar os tratados
As
críticas à União Europeia estiveram sempre presentes ao longo da
Convenção do BE. Mas o discurso de encerramento foi a primeira vez que a
coordenadora bloquista se referiu de forma clara à necessidade de mudar
as regras europeias.
"A urgência é derrotar o Tratado
Orçamental", proclamou, depois de dizer que "chega de resgatar a banca,
agora o povo", porque "o compromisso é com o povo".
"Quando os
tratados atacam o povo, a responsabilidade da esquerda é clara: mudem-se
os tratados", clarificou, num diagnóstico de "crise profunda" numa
União Europeia onde há fenómenos como Salvini e Órban e apresentando
Marisa Matias como a candidata capaz de dar resposta a esses problemas.
"Levamos muito a sério as eleições imediatas em Maio para o Parlamento
Europeu", afirmou.
A resposta ao Diabo da direita
A
direita também não ficou ausente do discurso de Catarina Martins,
apesar de não ter sido uma referência tão constante nas intervenções dos
delegados como o PS.
"O diabo não apareceu", ironizou Catarina, que lembrou a forma como a situação política se alterou desde 2015.
"A
Comissão Europeia teve de recuar nas sanções, mas não nos esquecemos de
que as propôs", "a coligação de direita desfez-se e agora é o salve-se
quem puder", "Passos Coelho espera o dia de nevoeiro em que vai
desembarcar embuçado no Terreiro do Paço", descreveu a bloquista, que
diz que os políticos da direita "vivem no passado".
"A nostalgia
desse passado magoa-os, mas é bom que saibam que já chegámos ao
presente", declarou Catarina Martins, que não falou em virar a página da
austeridade, como prefere Costa, mas em parar a "sangria".
"Virámos uma página e toda a gente vê o resultado (...), parámos a sangria", defendeu.
* Grande pedrada no pântano.
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