HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
E se a próxima crise financeira
já estiver a caminho?
Os sinais de alerta começam a amontoar-se nos mercados globais e os especialistas aconselham cautela nos investimentos.
Os sinais de alerta estão a soar nos mercados
internacionais. No final de Junho, o banco central dos bancos centrais, o
Bank of International Settlements (BIS), afirmava que a euforia nos
mercados financeiros não encontra suporte na realidade económica, e
exultou os bancos centrais a reverter políticas monetárias que continuam
a alimentar "as subidas insustentáveis nos mercados financeiros".
Referia-se não só ao excesso de liquidez injectada, mas principalmente
às taxas de juro que permanecem em mínimos históricos. Mas o BIS não foi
o único a pronunciar-se neste sentido nas últimas semanas. No seu
último relatório semestral, publicado a 14 de Julho, o World Gold
Council, o organismo que representa a indústria mundial do ouro,
alertava precisamente para o facto de "tantos dólares a perseguirem tão
poucos produtos com elevados retornos pode criar o risco de bolhas
financeiras". Uma dinâmica que, dizem, "poderá vir a provar-se
insustentável".
Esta semana, o fundo de pensões do maior banco dinamarquês, o Danske
Bank, colocava de parte 5% do capital para investir em activos mais
ligados "à economia real", menos expostos aos mercados financeiros que,
segundo o banco, poderão sofrer uma forte correcção. "É difícil enumerar
a quantidade de negócios exóticos que nos têm proposto sem quase
nenhuma extra ‘yield' (face a activos seguros]. Ninguém os teria
sugerido há dois ou três anos", explicava o CFO do banco,
Aarup-Andersen. "No momento em que as ‘yields' desaparecem de uma
classe de activos as pessoas simplesmente seguem para a seguinte. É
difícil encontrar ‘yield' e não queremos estar cegos perseguindo ‘yield'
ao longo da curva".
E mesmo Janet Yellen, que recusou recentemente a
formação de uma bolha nos mercados accionistas norte-americanos,
reconhece a existência de alguns excessos. Num relatório enviado esta
semana ao Congresso, a presidente da Reserva Federal dos EUA escreve
que: "As avaliações das empresas mais pequenas, bem como das empresas de
redes sociais e do sector da biotecnologia parecem excessivas, com
rácios preços/lucros estimados bem acima da média histórica".
A Cynk Technology é um exemplo paradigmático. Na semana passada o
regulador do mercado norte-americano foi forçado a suspender a
negociação das acções, depois de terem disparado 3.600% , de 10 cêntimos
para 21 dólares no espaço de um mês.
Uma avaliação de seis mil milhões
de dólares, apesar desta empresa de redes sociais só ter um funcionário e
não ter receitas. A Cynk está longe de ser um exemplo isolado. Nos EUA
mas também em alguns mercados europeus, os principais índices têm vindo
a renovar máximos históricos. O S&P 500 está 27% acima do pico
registado em Outubro de 2007 e, desde os mínimos de 2009, já quase
triplicou de valor.
Um rally que dura há cinco anos o que é, segundo
dados reunidos pela Bloomberg, cerca de um ano mais longo do que a média
histórica. Além disso, a volatilidade, medida pelo índice VIX, está no
valor mais baixo de sempre. Muitos analistas, incluindo o BIS, têm
alertado para este factor, que sugere uma atitude complacente dos
investidores em relação ao risco.
Uma atitude que está longe de cingir-se aos mercados accionistas.
E se a próxima bolha estiver na dívida das empresas?
Nesta
busca incessante por retornos ('yield') a dívida ‘high yield' tem sido o
grande "êxito de bilheteira". Trata-se da dívida emitida por empresas
com qualidade creditícia inferior, ou seja, a dívida das empresas ‘junk'
e que, por isso, oferece retornos superiores aos investidores.
Quanto
maior o risco, maior o juro exigido. Essa é a teoria. Não admira
portanto que, num ambiente de taxas de juro próximas de zero, a procura
por estes títulos tenha disparado. 2014 prepara-se para bater todos os
recordes em termos de montantes emitidos, com a consequente queda nos
juros exigidos, em resultado precisamente deste excesso de procura.
"Os
‘spreads' das obrigações corporativas, bem como os indicadores de
volatilidade em algumas classes de activos, caíram para níveis mínimos, o
que sugere que alguns investidores podem estar a subponderar o
potencial de perdas", afirmou Yellen perante o Congresso. Explicando
que: "Os padrões de crédito para as empresas com menores ‘ratings' foram
relaxados de forma significativa, em resultado da procura por ‘yield'
num contexto de taxas de juro persistentemente baixas".
Numa nota
enviada aos investidores esta semana, intitulada ‘Bubbles Detector',
Giordano Lombardo, o ‘Chief Investment Officer' da Pionneer Investments,
escrevia o seguinte: "A compressão de ‘spreads' continua ao longo de
todo o espectro de ‘ratings'. As taxas de ‘default' corporativo estão
artificialmente baixas: empresas que no passado se teriam debatido para
aceder aos mercados de crédito estão a conseguir levantar dinheiro para
se refinanciarem. (...) Entretanto, a liquidez no mercado começa a
desaparecer". Para concluir que: "Portanto, na nossa perspectiva, os
mercados de crédito precisam de ser manuseados com muita cautela".
E
se, em 2007/2008, muitos apontaram o dedo às agências de ‘rating' pelo
facto das notações não reflectirem adequadamente o nível de risco da
empresa, hoje simplesmente ninguém parece dar atenção às suas
avaliações. Segundo a revista ‘Fortune', actualmente o ‘rating' mais
comum das empresas norte-americanas é de BBB+, um nível acima de ‘junk'.
Arturo Bris, actual director do World Competitiveness Center e
professor do IMD na Suíça, previu recentemente o início da próxima crise
global para Abril de 2015, avançando oito possíveis possíveis
cenários. Num deles escreve: "As empresas têm demasiada dívida e a nova
norma é ter um ‘rating' BBB. (...) Se os ‘ratings' forem um indicador de
falência, então vão existir falências de forma transversal. Se as taxas
de juro aumentarem 2%, metade do sector empresarial vai desaparecer".
E
nos mercados de dívida soberana , a tendência é idêntica. Este mês, o
Quénia emitiu 1,5 mil milhões de dólares - um novo recorde para um
Estado africano - com uma taxa de juro de 6,875%.
Para o responsável pela estratégia de investimentos da Pioneer: "Mais do que nunca, é altura de ter o GPS ligado".
* Uma notícia importante, tome atenção.
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