08/11/2022

JESSICA PACHECO

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O liberalismo murcha mais
depressa que uma alface

45 dias foram suficientes para desmontar a propaganda liberal no Reino Unido, que em jeito kamikaze acabou por ter impacto na Iniciativa Liberal em Portugal.

A curiosa saída de Cotrim de Figueiredo da liderança do partido, anunciada 3 dias depois da demissão de Liz Truss, pode parecer coincidência, mas note-se que a justificação de mudança para “popularizar o liberalismo” parece demonstrar as verdadeiras intenções do partido.

Um partido fragilizado por ver o seu programa desabar e gerar o caos, tem de arranjar novas estratégias para ludibriar o seu eleitorado. Para a IL, a liberal Liz Truss era afinal socialista! Aliás ao que parece até utilizou estratégias à José Sócrates só para se demitir 45 dias depois! De uma desonestidade intelectual nunca vista.

O liberalismo não passa de propaganda. Uma política que defende a redução de impostos é algo que todos nós podemos achar muito bom, exceto quando percebemos a sua real aplicação no nosso dia a dia e o impacto desastroso que tem no funcionamento dos serviços públicos fundamentais.

A política liberal cai rapidamente quando são chamados para falar de saúde e educação. Basta ver a cambalhota que a IL teve de fazer no seu programa eleitoral quando foram chamados à atenção pela coordenadora Nacional do Bloco de Esquerda no frente-a-frente das últimas legislativas.

A IL defendia que os estudantes deviam pagar integralmente o custo do ensino superior, ficando assim endividados para o resto da vida. Uma estratégia à semelhança do sistema “student finance” em uso no Reino Unido. Bem que a IL precisa de popularizar, ou melhor dizendo manipular o eleitorado para tentar esconder estas façanhas.

Se na nossa atual realidade açoriana, apenas 10% dos açorianos entre os 18 e 22 anos frequentam o ensino superior, imaginem o que seria com a aplicação desta medida da IL? Estaríamos a impedir muitos jovens de frequentar o ensino superior e isso seria condenar o futuro e a alavancagem da nossa região! Fica, pois, claro que o liberalismo não funciona e não se recomenda!

O mercado no Reino Unido respondeu ao liberalismo, caiu e provocou uma queda acentuada no valor da moeda. Isto demonstra que oliberalismo cresceu através da sua propaganda, mas quando aplicado murchou mais depressa que uma alface.

Nos Açores não é diferente, com as ameaças anuais do deputado Nuno Barata, que admitiu rasgar o acordo de incidência parlamentar se a sua proposta para a criação da AGRIAZORES não fosse aprovada no parlamento antes da discussão do Plano e Orçamento para 2023 e se o PSD não inviabilizasse os requerimentos dos parceiros de coligação. Como isto não se concretizou, o deputado teve de encapotar a sua incoerência e recuar na sua exigência.

E para terminar temos o cúmulo da proposta “não muito liberal” da IL nos Açores, que quer um apoio público para a renovação das frotas dos operadores de tráfego local da região. Mas então é para reduzir impostos e para acabar com apoios, taxas e taxinhas, mas depois para o business do costume já pode haver apoios com o dinheiro dos contribuintes, neste caso 4 M€.

É o paradoxo liberal, que quanto mais se expõe mais se conhece a sua perecibilidade.

*Enfermeira e presidente da VegAçores-Associação Vegana dos Açores.

IN "ESQUERDA" - 07/11/22.

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