Gangues das redes
Muito recentemente, por causa de um estado de Facebook de um amigo
que tem muitos amigos e opiniões que geram controvérsia, uma grande
comoção assolou a nossa pequena comunidade de amigos em comum. Após
muitos insultos e críticas e desamigamentos, o emissor da mensagem
controversa emitiu um novo estado que fazia referência ao terramoto que
provocara, dizendo de forma resumida que tinha muitos amigos cujas
opiniões não partilhava na totalidade ou amigos cujos trabalhos não eram
os seus favoritos, etc, e assentava este dicurso na bela ideia de
pluralidade, ao que parece o mais tremendo disparate dos nossos tempos.
Dias depois, num evento relacionado com arte, uma grande amiga em comum comentou comigo algumas das ondas de disparate que se sucederam ao dito estado de Facebook. Ondas essas que incluíram telefonemas e dramas sem fim, aliados a desilusões e cismas dignos do séc. XVI. Ela, uma das mulheres mais maravilhosas que conheço, pareceu-me agastada sobre a estupidez que se abatera naquela que é a nossa pequena comunidade virtual. Onde entre tantas outras coisas, trocamos ideias por amor à felicidade que é pensar um bocadinho mais adiante.
Dias depois, num evento relacionado com arte, uma grande amiga em comum comentou comigo algumas das ondas de disparate que se sucederam ao dito estado de Facebook. Ondas essas que incluíram telefonemas e dramas sem fim, aliados a desilusões e cismas dignos do séc. XVI. Ela, uma das mulheres mais maravilhosas que conheço, pareceu-me agastada sobre a estupidez que se abatera naquela que é a nossa pequena comunidade virtual. Onde entre tantas outras coisas, trocamos ideias por amor à felicidade que é pensar um bocadinho mais adiante.
Voltei a pensar nisto da influência das redes sociais em sociedade há
coisa de uns dias, quando ouvi António Luvalu de Carvalho falar sobre o
caso de Luaty Beirão. Não quis acreditar.
As redes sociais são de facto um perigo. Pervertem a forma como nos
relacionamos, para lá da estranheza que provocam aquelas pessoas que são
nossas amigas nas redes sociais e não nos cumprimentam na rua, a um
ponto que roça o absurdo.
Nas redes sociais somos emissores, daí que a posição em que nos
colocamos enquanto sujeitos possa por vezes dar origem a grandes
comoções. Ao emitir uma opinião ou simplesmente ao partilhar uma
fotografia ou uma música, estamos sempre a entregar ao mundo um bocado
daquilo que somos naquele exato instante. Para os nossos amigos,
deixamos de ser amigos e passamos a partidos, a ídolos, a fontes
oficiais. Somos os editores da nossa autobiografia em fragmentos, e isso
tem vindo a parecer-me cada vez mais estranho.
Porque é cada vez mais
recorrente assistir a trocas de galhardetes, a projeções e frustrações
sob a forma de comentários agressivos a emissões possivelmente
poluentes, no entanto passíveis de ser deixadas para trás. O simples
facto de fazer um like numa publicação suscita muitas vezes animosidades
em terceiros. E quando sei que metade de uma comunidade está revoltada
com uma opinião e contra as pessoas que apoiaram essa opinião, sei
necessariamente que essa comunidade tem um problema com os seus ídolos.
Quando ouvi que António Luvalu de Carvalho, referindo-se à detenção,
em junho, dos quinze ativistas sob a acusação de planearem um golpe de
estado em Angola, teve em conta o acesso a meios de comunicação e a
influência dos membros do grupo em redes sociais, soube que a situação
em que as redes sociais colocam o indivíduo começa a ser perversa para o
eu, bem com para a comunidade.
O que fazemos nas redes sociais não é como o que fazemos em Las
Vegas, porque as redes sociais fazem com que todo o nosso rasto esteja
arquivado e permanentemente disponível.
Mas será que antes das redes sociais os debates em mesas de café
também se constituíam como perigo eminente? Ou a troca de
correspondência?
Porque é que as redes sociais nos transformam simultaneamente em
ídolos e ajudam a esbater a ideia de ídolo? É por nos colocarmos todos
no mesmo patamar e sermos todos susceptíveis perante um like?
IN "SOL"
19/11/15
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