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"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Organização policial "não funciona"
Consultor da NATO e ex-secretário-geral adjunto da ONU, Victor Angelo diz que Portugal é visto como o "elo fraco e incerto" da defesa coletiva europeia e que a crise impede que as polícias tenham os recursos exigíveis
O perito
internacional Victor Ângelo arrasou, numa conferência, o sistema de
segurança interna português e classificou de incompetentes os ministros
que tutelaram a defesa nos últimos anos. Criticou o 'sistema dual' (PSP
civil e GNR militarizada) que, na sua opinião "não funciona", e sugere
que "seja revisto no quadro das atuais restrições financeiras".
O
ex-secretário-geral adjunto da ONU foi o último orador da conferência
sobre "Segurança e Democracia", na Faculdade de Direito da Universidade
Nova de Lisboa, depois de Ângelo Correia, José Manuel Anes e Garcia
Leandro terem dissertado sobre o Conceito Estratégico de Segurança e
Defesa (CESD), um documento 'reservado' do Governo.
Contrastando
com as anteriores, a sua intervenção foi pragmática e realista. Primeira
nota: "O grau de desenvolvimento da economia portuguesa não permite o
financiamento adequado das funções essenciais na área da defesa e da
segurança nacional" e "enquanto isso não for resolvido não haverá
recursos suficientes para a segurança funcionar com níveis de exigência
para o nosso país".
Invocando a sua experiência e contactos
internacionais revelou que "somos vistos por alguns observadores
estrangeiros como o elo fraco e incerto do sistema de defesa coletivo
europeu, agravado pelo facto de Portugal ser fronteira estratégica da
Europa". Victor Ângelo sugeriu que, face a estas restrições económicas,
"devem ser focadas as principais ameaças, três ou quatro, e definir
quais as forças que lhe vão responder".
O LOJISTA |
No seu entender "há um
grande défice na opinião pública sobre questões de segurança" e isso "é
um obstáculo para a modernização do setor". Em parte, explicou, isso
deve-se ao "excesso de secretismo que os políticos atribuem" a estas
matérias. Um exemplo é o CESD, apresentado por Ângelo Correia naquela
conferência, mas a que nenhum dos presentes teve acesso, incluindo
Victor Ângelo.
Este especialista não excluiu os políticos da sua
mira de ataque, sublinhando que "a partir 2.ª metade década de 80 as
lideranças políticas têm tido uma enorme falta de sensibilidade para as
questões de segurança, defesa e inteligência", destacando que "alguns
ministros e diretores civis da Defesa revelaram um significativo grau de
desconexão com as chefias militares, escondendo mal e muitas vezes a
sua incompetência".
Concluiu a sua intervenção com uma análise
lapidar ao 'secreto' conceito estratégico. "Pelo que ouvi, pois não tive
acesso, é um documento "idílico" e demasiado abrangente, pois não
permite a focalização nas principais ameaças".
* Os habituais querubins sapientes dos assuntos de defesa dissertaram em deserto de ideias, Victor Ângelo disse a verdade.
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