Com apenas dois graus
Na semana passada foi notícia que Assunção Cristas decidiu subir a temperatura nos edifícios que dependem do seu ministério. A poupança energética com o corte no uso do ar condicionado abrange os 10.500 funcionários dos 1.500 edifícios do Ministério da Agricultura e do Ambiente, e poderá abarcar toda a administração se os resultados forem positivos.
Além do efeito esperado na factura da electricidade, a medida também permite a redução das emissões de dióxido de carbono. Não me parece uma medida simbólica. É uma poupança comparativamente pequena, se tomarmos a dívida soberana como referência, mas é uma economia considerável se pensarmos no descuido habitual na despesa das repartições do Estado. A medida não é original e já foi tomada noutros países. Mas a maioria dos comentadores e jornalistas não perdeu a oportunidade de criticar com ironia e sarcasmo este pequeno contributo para combater o desperdício. É curioso observar como o cinismo se instalou nos meios de comunicação social. Até ouvi dizer na televisão que esta era «a maneira de Cristas solucionar a nossa dívida pública». Com certeza que a medida não resolve tudo, mas é de pequenino que se torce o pepino.
Tudo muito
O s aniversários das empresas são boas ocasiões para fazer balanços e afinar estratégias. São também uma oportunidade para reflectir sobre a natureza do próprio negócio. O caso de uma rede social não é diferente. O Twitter fez cinco anos de idade e está de parabéns. A rede social foi originalmente pensada por Jack Dorsey, seu co-fundador, como um sistema de partilha de informação sobre locais físicos. O primeiro tweet foi na verdade escrito em 2001 e não em 2006. Após ter criado uma lista com e-mails de amigos e de ter criado um mapa da cidade, Dorsey twittou : «Estou no Bison Park». A mensagem não foi recebida por todos em tempo real e os amigos torceram o nariz à informação que lhes pareceu inútil. Faltava à tentativa de comunicar por escrito em tempo real a tecnologia das sms, que demoraria cinco anos a chegar aos Estados Unidos. Por não ter sido desenvolvido no Reino Unido, onde já havia sms, o Twitter faz cinco anos e não dez. A rede social tem actualmente mais de 200 milhões de contas registadas, embora nem todas activas. Por dia, mais de 460 mil novas contas aparecem na rede. O número de tweets diários impressiona: 140 milhões. É muita gente a falar.
Pas de pitié
No fim do julgamento e antes de os juízes ditarem a sentença de Henrique Sotero, estupidamente tratado por ‘o violador de Telheiras’, como se fosse um vilão de banda desenhada, o advogado de defesa fez uma recomendação ao tribunal. Pediu que a compulsão sexual do acusado fosse tida em conta na hora da decisão. Não sei se por hipocrisia ou desespero, o advogado defendeu a compulsão sexual como uma atenuante do crime de violação. Não é preciso lembrar que a lei serve precisamente para punir as compulsões que atentam contra a liberdade, a vida e a integridade das pessoas. A sociedade sobrevive graças a este pacto de respeito e contenção. Não dizemos tudo o que nos vem à cabeça, não fazemos tudo o que nos apetece, não nos apropriamos do que não é nosso. O apelo do advogado de defesa é delirante e perigoso. Só falta acusar as vítimas de incitarem ao crime. Pedir, ainda que seja como um recurso desesperado, a desresponsabilização de psicopatas é tornar qualquer crime numa doença. Deus nos livre de termos tribunais presididos por juntas médicas. Henrique Sotero perdeu a sua oportunidade de ser tratado como doente. Agora não é nada mais que um criminoso.
Gente chata
A notícia publicada no site do Diário de Notícias apanhou o mundo de surpresa: parece que Pamela Anderson, de 44 anos, eterna estrela de fato de banho encarnado da série televisiva Marés Vivas, envelheceu. A frase não a poupava: «A aparição da actriz deixou claro que o tempo passa para todos». Nos dias que correm, parece impossível que uma pessoa faça uma «aparição» que «deixe claro» uma certeza tão desagradável. E logo uma loura explosiva que fez sonhar adolescentes e pais. É uma falta de respeito para o público masculino macilento e um descanso para as mulheres feias. Perante a calamidade, resolvi investigar o estranho caso do envelhecimento precoce da modelo e descobri que os paparazzi adoram fotografar Pamela Anderson em duas ocasiões da sua vida privada: no parque do estacionamento do supermercado e no aeroporto de Los Angeles. E adoram porque aparece despenteada e sem maquilhagem, com aspecto de quem acabou de acordar. Os espectadores da vida alheia dizem que está velha. Nada mais natural. Mas também nada que escova e base não resolvam. Tenho uma ideia: deixem de a fotografar no seu dia-a-dia e vão ver como continua a mesma.
Obama tem razão
S heryl Sandberg era a vice-presidente da Google para as operações globais e vendas online quando conheceu, há três anos, Mark Zuckerberg, o génio do Facebook. O encontro aconteceu numa festa de Natal privada e consistiu numa primeira longa conversa de pé. Sucederam várias conversas demoradas entre ambos. Zuckerberg estava interessado em ganhar dinheiro com o Facebook e Sandberg ficou interessada no projecto. Quando entrou na empresa, a dúvida era se suportaria trabalhar num mundo quase exclusivamente masculino. Sandberg, por seu lado, só pensava nos dólares que o Facebook deveria estar a produzir. Passados três anos, a empresa deu lucro pela primeira vez. A estratégia de Sandberg, descrita num longo perfil da New Yorker, consistiu em não se fechar no seu gabinete. Toda a equipa do Facebook foi envolvida no processo, e cada funcionário deu as suas sugestões sobre como pôr a rede social a render. Depois de conversas, trocas de ideias e trabalho de equipa, Sandberg optou pela introdução discreta de publicidade nas contas. O resultado é o melhor. O Facebook tinha 130 funcionários. Hoje em dia tem 2.500. Obama tem razão: a América não é Portugal.
IN "SOL"
26/07/11
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