26/12/2010

PORTUGUÊS EMIGRANTE

4 - TOP TEN


NOVO BRINQUEDO DE PRAIA

VALIDADO

é um pouco longo mas muito bom

RUI SANTOS




A macieira

Foram 11.360 sócios que elegeram José Eduardo Bettencourt (JEB) como o 36.º presidente do Sporting e o 1.º como presidente profissional. Há um ano e meio. O tempo passado dentro e na periferia da “estrutura do futebol” e principalmente o perfil de dirigente sereno e discurso estruturado, nas cirúrgicas aparições públicas que protagonizou, a par da fama granjeada ao serviço de um banco, conferiam-lhe um halo de respeitabilidade à partida para um primeiro mandato à frente dos destinos do clube leonino.

Um conjunto de declarações absolutamente desastrosas, algumas das quais “non-sense”, a contrastar com a imagem construída durante anos, e a ausência de resultados desportivos, contribuíram para uma rápida perda de credibilidade. A esperança esvaiu-se num mar de erros e contradições que se foram acumulando a um ritmo vertiginoso. Três treinadores em menos de dois anos, um dos quais herdado e os restantes contratados, três “diretores para o futebol”, exatamente nas mesmas condições, e um naipe de aquisições e dispensas que, feito o balanço, não pode considerar-se positivo. A forma como o Sporting perdeu João Moutinho, que realizou em Alvalade maior número de jogos consecutivos do que Vítor Damas e Oceano, só para citar dois exemplos de “raça de leão”, diz muito sobre alguma incapacidade para resolver os problemas de gestão desportiva que se lhe depararam nos últimos tempos. Nem a disponibilidade revelada pelo “mago” dos “agentes-FIFA”, Jorge Mendes, para tentar “ajudar um amigo” (Costinha) serviu para contraditar a lógica de anti-espectáculo futebolístico que se instalou em Alvalade no “pós-Peseiro”. Não é só a falta de dinheiro e a dependência da banca. Também falta liderança. É preciso perceber, em primeiro lugar, por que razão o Sporting ficou totalmente refém da banca, como é que o passivo aumentou exponencialmente com pouco investimento na área desportiva, por que motivo se colocou numa posição de subalternidade perante a Olivedesportos e questionar os últimos 5 presidentes da agremiação sportinguista por que não souberam ou não quiseram procurar as causas de uma derrapagem financeira que se acentuava de uma forma preocupante e dramática. Falamos, como sempre, da auditoria externa, essa “bruxa má” que ninguém, estranhamente, quer ver por perto. Quem tem medo do quê?

Este ponto é vital porque sem ele, sem o devido apuramento de responsabilidades, é muito difícil aferir tudo o resto. Há quantos anos o Sporting não tem dinheiro para contratar um treinador com perfil ganhador, à altura da dimensão histórica de Alvalade? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma “grande venda”, sem reforçar os plantéis dos adversários? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma grande contratação? E o argumento do clube-formador não colhe como “solução de modernidade”, porque o Sporting sempre foi, desde o tempo do Passadiço, um clube-formador.

Não estava JEB preparado para ser presidente de um clube com a dimensão histórica do Sporting? Não estava Costinha preparado para ser, fulminantemente, diretor do futebol? Não estava Paulo Sérgio preparado para ser, em função da conjuntura criada, treinador do Sporting? Parece evidente. E é evidente que o presente está muito marcado por quem ajudou a criar a miniatura. O Sporting não é isto – e é tempo de olhar para a macieira.

IN "RECORD"
16/12/10

UM ANO EM 40 SEGUNDOS

A NOITE FURIOSA


IMAGENS DE RARA BELEZA, VEJA EM ECRÃ TOTAL

CHARLOTTE CHURCH

TRANSITO EM PEQUIM

...

"Too Fast, Too Much" from Nathan Mauger on Vimeo .

1 - AUTOESTRADA DO ATLANTICO

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2 - AUTOESTRADA DO ATLANTICO


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ANIMAL CRACKERS II

ADVOGAR EXIGE RACIOCÍNIO RÁPIDO, INTELIGÊNCIA E CLIENTE ESPERTO



Na Inglaterra um réu estava sendo julgado por assassinato...
Havia evidências indiscutíveis sobre a culpa do réu, mas o cadáver não aparecera.
Quase ao final da sua sustentação oral,o advogado, temeroso de que seu cliente fosse condenado, recorreu a um truque:
- "Senhoras e senhores do júri, senhor Juiz,eu tenho uma surpresa para todos!" - disse o advogado olhando para o seu relógio...
- "Dentro de dois minutos, a pessoa que aqui se presume assassinada, entrará na sala deste Tribunal."
E olhou para a porta.
Os jurados, surpresos, também ansiosos, ficaram olhando para a porta. Decorreram-se dois longos minutos e nada aconteceu.
O advogado, então, completou:
- "Realmente, eu falei e todos vocês olharam para a porta com a expectativa de ver a suposta vítima. Portanto, ficou claro que todos têm dúvida neste caso, se alguém realmente foi morto.Por isso insisto para que vocês considerem o meu cliente inocente".
(In dubio pro reo) na dúvida a favor do réu.

Os jurados, visivelmente surpresos, retiraram-se para a decisão final.
Alguns minutos depois,o júri voltou e pronunciou o veredicto:
- "Culpado!"
- "Mas como?" perguntou o advogado..."Eu vi todos vocês olharem fixamente para a porta, é de se concluir que estavam em dúvida!   Como condenar na dúvida?"
E o juiz esclareceu:
- "Sim, todos nós olhamos para a porta,  menos o seu cliente..."
"MORAL DA HISTÓRIA:"

"NÃO ADIANTA SER UM BOM ADVOGADO
SE O CLIENTE FOR ESTÚPIDO ".

2 - ILUSÃO DE ÓPTICA

2 - A PROPÓSITO DO "EXERCÍCIO FÍSICO"

A única razão por que voltei a fazer exercício, foi para voltar a ouvir respiração ofegante.

Inscrevi-me num ginásio o ano passado, gastei cerca de 200€. Não perdi nem um quilo. Só depois é que me explicaram: - Parece que é preciso ir lá. 
 
Eu tenho que me exercitar logo de manhã, antes que o meu cérebro perceba o que eu estou a fazer.
 

JU MING ART MUSEUM (TAIPÉ) - IX





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2 - ILUSTRES PORTUGUESES DE SEMPRE »»» bento de jesus caraça




Biografia

Bento de Jesus Caraça nasceu a 18 de Abril de 1901, na Rua dos Fidalgos, em Vila Viçosa, numa modesta dependência do Convento das Chagas, onde se alojavam alguns criados da casa de Bragança. Era filho de trabalhadores rurais: João António Caraça e Domingas da Conceição Espadinha.

Viveu os primeiros cinco anos da sua vida na “herdade da Casa Branca”, na freguesia de Montoito, onde aprendeu a ler e escrever com um trabalhador, José Percheiro.

A extraordinária rapidez com que aprendia impressionou a esposa de Raul de Albuquerque (de quem o pai de Bento era feitor), que decidiu tomar a seu cargo a educação do jovem.

Tendo concluído com distinção o exame de instrução primária em 1911, em Vila Viçosa, fez o curso liceal nos liceus de Santarém e de Pedro Nunes, em Lisboa, que terminou em 1918, ano em que ingressou no Instituto Superior do Comércio, posteriormente designado Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras(I.S.C.E.F.), actual Instituto Superior de Economia e Gestão.

No 2º ano deste Instituto( 1 de Novembro de 1919) foi nomeado 2º assistente do 1º grupo de cadeiras, pelo professor Mira Fernandes.

Licenciou-se com altas classificações em 1923.

Em 13 de Dezembro de 1924 é nomeado 1º assistente, em 14 de Outubro de 1927 professor extraordinário e em 28 de Dezembro de 1929 professor catedrático da 1ª cadeira (Matemáticas Superiores- Álgebra Superior. Princípios de Análise Infinitesimal. Geometria Analítica).


Integrou o Conselho Administrativo da Universidade Popular Portuguesa desde a sua fundação, em 1919, quando era ainda estudante universitário, tendo assumido a sua presidência em Dezembro de 1928, encetando a sua reactivação . Reorganiza a biblioteca, cria um conselho pedagógico e prepara-se para organizar um cooperativa de cinema educativo. Realiza ali uma conferência sobre “Comércio e Finanças”, em 1927 ou 1928,um “Curso de Iniciação Matemática”, de 1931 a 1933, diversas conferências e palestras sobre os mais variados temas, de que se destacam: “Galileo Galilei, Valor científico e valor moral da sua obra “(1933), “A Arte e a Cultura Popular”(1936) , “Rabindranath Tagore”(1939) e diversas outras . No âmbito da mesma actividade de esclarecimento cultural dá aulas em cursos de aperfeiçoamento no sindicato do Arsenal da Marinha no princípio dos anos 30, profere a célebre conferência sobre “A Cultura Integral do Indivíduo- Problema central do nosso tempo”, na União Cultural “Mocidade Livre”(1933) e sobre a “Escola Única”, na Sociedade de Estudos Pedagógicos(1935).

Em 1938 propôs, com os professores Mira Fernandes e Beirão da Veiga, ao Conselho Escolar do I.S.C.E.F. a fundação do Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia, de que foi director até Outubro de 1946,ano da sua extinção por decisão ministerial.

Em 1940 fundou, com os professores António Monteiro, Hugo Ribeiro, José da Silva Paulo e Manuel Zaluar, a “Gazeta da Matemática”.

Em 1941 fundou a “Biblioteca Cosmos”, de que foi o único director.



Esta verdadeira “enciclopédia do saber”, pioneira mesmo a nível da Europa, publicou 114 títulos, com uma tiragem global de 793.500 exemplares(tiragem média por livro:6960 volumes). Nela publicou Bento Caraça o seu notável livro “Conceitos Fundamentais da Matemática” que revolucionou a abordagem da história da Matemática focada dum ponto de vista interdisciplinar e dialéctico.

Foi eleito Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Matemática para o biénio de 1943-44 e Delegado da Sociedade aos Congressos da Associação Luso-Espanhola para o Progresso das Ciências, de 1942 a 1944 e de 1946 a 1948.


A subida do fascismo ao poder leva Bento Caraça a intensificar a sua actividade política quer a nível clandestino como militante comunista, quer a nível legal e semi-legal : participa activamente na Liga Portuguesa contra a Guerra e o Fascismo e no Socorro Vermelho Internacional; mais tarde participa na fundação do MUNAF, em 1943, e do MUD, em 1945.

Constantemente perseguido, nunca abdicou dos seus ideais. Acabou por ser preso pela PIDE e, posteriormente, demitido do seu lugar de professor catedrático do I.S.C.E.F., em Outubro de 1946.

Publicou diversas obras e numerosos artigos sobre Matemática, de que se destacam “Interpolação e Integração Numérica”(1930-32), “ Lições de Álgebra e Análise”, em 2 volumes( 1935-1940), “Cálculo Vectorial” (1937).

Colaborou na “Revista do Instituto Superior de Comércio”, “Revista da Economia”, “Técnica”, “Seara Nova”, “Vértice”, no quinzenário “O Globo”, que fundou juntamente com Rodrigues Migueis; e nos semanários “O Diabo” e “A Liberdade”.

Talentoso matemático e professor universitário, não só sabia criar nos alunos aplicação e gosto pelo estudo, como criar amigos com os quais permanentemente passava a conviver.

Resistente antifascista, lutador pela liberdade e a democracia, apontava como horizonte mais vasto profundas transformações sociais, uma sociedade sem exploradores nem explorados, uma sociedade socialista..

Homem de cultura, atacava o monopólio cultural das classes dominantes , apontava o caminho da criatividade e da fruição culturais pelo povo e sublinhava o consequente imperativo da solução dos graves problemas económicos das massas trabalhadoras. Deu uma importante contribuição para a democratização da cultura. Apontando o valor e o papel do indivíduo, inseria a sua actividade em realizações colectivas.

Homem de profundas convicções, reflectia e incitava os outros a reflectirem, respeitava as opiniões diferentes, era sereno na controvérsia. E porque confiava no futuro, acreditava na juventude, convivia com os jovens, que com ele conversavam e passeavam. E nem ele nem os os jovens sentiam as diferenças da idade.

Morreu em Lisboa, a 25 de Junho de 1948, com apenas 47 anos de idade. O seu funeral transformou-se numa impressionante manifestação de pesar e de homenagem sentida a um dos maiores vultos da intelectualidade portuguesa que jamais traiu a sua humilde e honrada condição de classe.

IN O SÍTIO DA CGTP-IN

2 - FIGURAS DO ESTADO NOVO »»» antónio ferro


Nome completo António Joaquim Tavares Ferro
Nascimento 17 de Agosto de 1895
Lisboa, Portugal.
Morte 11 de novembro de 1956 (61 anos)
Lisboa, Portugal.
Nacionalidade Portugal Português.
Ocupação Escritor, jornalista, político.
Principais interesses Modernismo português
Idéias notáveis A Filosofia do Espírito
Cargo Director do Secretariado de Propaganda Nacional e do Secretariado Nacional de Informação
Cônjuge Fernanda de Castro
Filho(s) 2: António Quadros e Fernando Quadros Ferro.

António Ferro (Lisboa, 1895 - 1956) foi um escritor, jornalista e político português.

Sob o Estado Novo, António Ferro abraçou a carreira política, tendo dirigido o Secretariado da Propaganda Nacional (SPN) desde a sua criação por Salazar, em 1933, até 1949. É sua a formulação doutrinária, a partir de 1932, da chamada Política do Espírito, nome que teve em Portugal a política de fomento cultural e de propaganda do regime. Depois de em 1933 ter publicado um livro de entrevistas com o ditador (Salazar, o Homem e a Obra), este chamou-o para seu próximo colaborador com as funções simultâneas de chefe da propaganda e de responsável pelo sector cultural.

Com apenas 19 anos foi editor da revista Orpheu, responsabilidade para que foi escolhido por Fernando Pessoa precisamente por ser ainda menor. Foi jornalista nos diários O Jornal 1915 (dirigido por Boavida Portugal e no qual também colaborou Fernando Pessoa), O Século e Diário de Notícias, dirigiu a revista Ilustração Portugueza e fundou ainda a revista Panorama. Em 1921 publicou o manifesto modernista Nós.

Simpatizante do fascismo, fascinado por Benito Mussolini e pelos regimes autoritários da época, foi ele quem sugeriu a Salazar a criação de um organismo que fizesse propaganda aos feitos do regime. Esse organismo chamou-se Secretariado de Propaganda Nacional até ao final da II Guerra Mundial, quando passou a chamar-se Secretariado Nacional de Informação (SNI). Ferro dirigiu o organismo até 1949, quando partiu para a legação portuguesa em Berna.

Esteve ligado às áreas do espectáculo, jornalismo, turismo e às actividades culturais em geral. Foi comissário-geral das exposições internacionais de Paris (1935) e de Nova Iorque (1938), fundador do Museu de Arte Popular, do Grupo de Bailado Verde Gaio e presidente da Emissora Nacional (1941).

Como era um homem de cultura e de espírito, Ferro serviu-se do organismo criado para defender e divulgar alguns dos artistas mais arrojados do seu tempo. Travou lutas com os conservadores do regime em defesa da arte moderna.

António Ferro foi casado com a poetisa Fernanda de Castro, pai do escritor António Quadros e avô da escritora Rita Ferro.

Obras

* Missal de Trovas" (1912)- de colaboração com Augusto Cunha
* As Grandes Trágicas do Silêncio (1917)
* O Ritmo da Paisagem" (1918)
* Árvore de Natal (1920)
* Teoria da Indiferença (1920)
* Árvore de Natal (1920)
* Leviana (1921)
* Gabriele d'Annunzio e Eu (1922)
* A Idade do Jazz-Band (1923)
* A Amadora dos Fenómenos (1925)
* Viagem à Volta da Ditadura (1927)
* Salazar, o Homem e a Obra (1933)
* D. Manuel II, o Desventurado (1954).
* Saudades de Mim (editado postumamente, em 1957)

WIKIPÉDIA


A Matriz

"Política do Espírito" | Áreas de Intervenção | Estruturas | "Filosofia Portuguesa" | As Causas do Afastamento

António Ferro continua a ser uma figura incontornável para a compreensão das políticas culturais em Portugal. A cultura tornou-se com ele não apenas num veículo de propaganda, mas sobretudo um eficaz instrumento de controlo social. Ao contrário do que se afirma, a sua principal preocupação não era a criação e difusão das ideias do regime, mas a criação de meios de ocupação dos "tempos livres" dos portugueses. Estes constituíam um tempo potencialmente perigoso para o poder se não fosse organizado. A contribuição mais significativa de António Ferro foi, como veremos, ter mostrado que as múltiplas manifestações culturais podiam ser organizadas de modo a predisporem os indivíduos para certas formas de comportamento e pensamento espontâneo.

A política cultural do Estado Novo nos anos trinta e quarenta, estava longe de reduzir-se ao SPN/SNI. Era partilhada e prosseguida por diversos organismos do Estado, sob a orientação de Salazar, o seu verdadeiro mentor. Em todas as áreas contava com a colaboração de muitos dos melhores criadores e intelectuais do tempo. Para além dos aparelhos locais, como as câmaras municipais, no Estado, cinco organismos possuíam uma acção muito relevante, ainda muito longe de ser esclarecida na sua globalidade.

- O Ministério da Educação Nacional (MEN), com Carneiro Pacheco (1936-1940) e depois com Mário de Figueiredo (1940-1944), assumiu claramente uma função doutrinária no regime.

- O Ministério do Interior(MI), desde 1927 tinha a seu cargo a censura à imprensa e aos espectáculos. Cabia-lhe ainda o licenciamento dos espectáculos e divertimentos (vistos), assim como dos recintos onde estes se realizavam. Controlava ainda o registo dos artistas, intérpretes e das empresas promotoras de actividades artísticas. Em 1940, a censura da imprensa e espectáculos passou a ser coordenada também pelo SPN, sendo integrada definitivamente no SNI em 1944, assim com as restantes áreas. O MI assumiu então uma função mais estritamente policial.

- A FNAT- Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, criada em 1935, ocupava-se dos tempos livres dos trabalhadores e da sua formação cultural, segundo os valores do regime.

- O Comissariado Nacional do Emprego, criado em 1932, chefiado por Duarte Pacheco, de forma muito discreta, mas não menos eficaz, teve um papel activo na promoção cultural, nomeadamente financiando a contratação de desempregados.

- O Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), criado em 1933 e transformado em 1944, no Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), duas criações atribuidas a António Ferro, estavam directamente ligadas a Salazar. De forma persistente, António Ferro, ao longo de 16 anos foi transformando uma estrutura inicial muito artesanal, numa verdadeira máquina de propaganda e controlo das actividades informativas, culturais e turísticas que ainda hoje é apontada como modelo de eficiência.

Apesar das limitações inerentes a uma análise centrada apenas num destes organismos - a SPN/SNI/SEIT -, foi todavia a perspectiva seguida neste trabalho, em grande parte ditadas por os condicionalismos que lhe são inerentes.

A "Política do Espírito"

António Ferro não estava sozinho quando defendia todo um ideário que expressava identidade da cultura portuguesa, naquilo que julgava ser a sua autenticidade. Desde finais dos anos trinta, que este ideário percorria toda a administração pública , sendo nos aos quarenta teorizado por muitos dos mais reputados intelectuais portugueses.

António Ferro, tal como Gobbels tinha uma percepção clara de como a cultura se poderia transformar num poderoso instrumento de poder ao serviço do Estado, nomeadamente na construção de uma retórica cultural onde os conflitos sociais são harmonizados em torno de grandes desígnios nacionais.

Ao Povo Português é atribuida uma missão divina - propagar e defender os grandes valores da cristandade no mundo. O seu Império é apresentado como o exemplo da obra civilizacional do mundo ocidental. As suas aldeias, constituída por gente trabalhadora, pobre e feliz é apresentada como um exemplo às outras nações civilizadas, onde pululam grandes urbes industrializadas minadas pela desordem e imoralidade.

A política do Estado Novo, no seguimento da ditadura militar de 1926, assumiu como missão restaurar a "alma da pátria portuguesa" que os governos democrático-liberais haviam procurado destruir. A ordem pública, o miraculoso equilíbrio das contas públicas eram apresentados como exemplos de um país que voltou a reencontrar-se consigo próprio, aceitando o que herdou do seu passado glorioso, com o orgulho de quem aceita o que melhor pode aspirar, libertando-se de todos os seus desejos exteriores. Conformam-se os pobres com o que possuem, e os ricos com aquilo que Salazar lhes proporciona. As elites culturais com o estatuto de privilégio que lhes é proporcionado. A exaltação patriótica dos "valores nacionais" não se projectam no sentido de descobrir novos saberes ou técnicas, mas na auto-contemplação do ser português, como se nessa atitude se contivesse tudo o que de melhor se pode aspirar. A história de Portugal, como a concebe Salazar e a encena António Ferro, termina afinal na quietude contemplativa da sua própria trajectória, nos seus hábitos e costumes, tudo o que em suma, faz que sejamos o que já somos.

Áreas de Intervenção

Nos dez primeiros anos, o SNP privilegiou três áreas: a propaganda do ideário do regime, o turismo como meio de difusão da imagem de um país feliz consigo próprio, e a cultura popular como instrumento integrador das camadas mais baixas da população.

Depois de 1944, o SNI, dotado de novos meios, para além da propaganda, começa a actuar no controlo e censura da informação veículada pela comunicação social e com a inspecção das actividades culturais. O Estado Novo sente-se cada vez mais isolado, e com uma ideário que não consegue gerar tão amplos consensos como os que no período anterior foi capaz de produzir. O turismo foi perdendo grande parte da sua função ideológica, para se transformar na promoção de mais um destino para férias a preços baratos. As preocupações económicas secundarizam as de natureza ideológica. A cultura popular acabou por ser enquadrada no âmbito da etnografia, em regra ao serviço também da promoção turística. O SNI que até aí privilegiara a população rural e o imaginário dirige-se agora para as camadas urbanas, nomeadamente as de maior rendimento e instrução. Só após a saída de António Ferro, em 1949, será possível dar corpo a esta nova orientação política.

Estruturas

Para além das ideias que caracterizaram, cada período, António Ferro, foi criando uma poderosa estrutura burocrática e concebendo amplos programas culturais que ainda hoje, em grande parte, sobrevivem. Entre as suas funções mais salientes destacam-se as seguintes:

A recolha e tratamento da informação dos órgãos de comunicação nacionais ou estrangeiros de apoio aos altos dirigentes do Estado, servidos por uma biblioteca, uma Fototeca e uma Filmoteca,

A propaganda era alimentada por uma contínua produção de informação destinada aos órgãos de comunicação e à Emissora Nacional, desdobrando-se numa vastíssima produção editorial, em diversas línguas, organização de exposições em Portugal ou no estrangeiro. O Brasil surgia neste contexto como uma força que permitia amplificar a voz de Portugal no mundo. António Ferro, apesar de entrever a importância económica do turismo, viu sobretudo nele um meio de propaganda. O apoio à cultura, nomeadamente às artes plásticas, cinema, música, dança, teatro, privilegiou a atribuição de prémios, a encomenda ou compra de obras ou a produção de eventos em detrimento do apoio à criação de estruturas para a produção cultural.

A grande promoção cultural de António Ferro centrou-se contudo em volta da cultura popular, que tinha nas romarias, arraiais e feiras a sua expressão mais genuína. À sua volta procurou criar uma grande encenação não apenas para os estrangeiros, mas sobretudo para consumo interno. Uma vasta equipa de artistas e intelectuais, como dissemos, ao longo dos anos sob os motivos mais diversos foi pacientemente re-elaborando as grandes manifestações populares em termos plásticos mais modernos, apresentado-as em seguida como expressões genuinamente populares. Fragmentos de memórias locais são pretexto para a criação de tradições centenárias. A confusão entre o falso e o autêntico era total. A promoção da cultura erudita junto do povo, foi neste contexto limitadíssima, pois a mesma correspondia a um desvio à integração do povo numa cultura popular que se lhe apresentava como exaltante.

No final da década de quarenta, a política cultural do Estado Novo, nas suas diversas vertentes, estava claramente esgotada, surgindo entre os defensores do regime, um número crescente dos que preconizam a sua mudança. No plano económico, o modelo corporativista, ainda assente na ideia de um retorno às corporações medievais, apesar de continuar a alimentar o imaginário de muitos intelectuais, é esvaziado de conteúdo ideológico. Em breve, teremos um corporativismo regulamentado pelo Estado, cujos dirigentes não se reconhecem no próprio corporativismo. No plano cultural, como reconhecerá Salazar, apesar das inúmeras obras encomendadas ou apoiadas pelo Estado Novo, nenhum criador, ideia ou obra cultural conquistara projecção além fronteiras. Depois de 1938, a imposição por parte do Estado das temáticas regionalistas ou historicistas, contribuira afinal para desligar ainda mais a arte produzida em Portugal das grandes correntes internacionais.

A "Filosofia Portuguesa"

Face a esta evidência, muitos intelectuais passam a defender que a cultura portuguesa, reflectia outras categorias mentais inapreensíveis noutras línguas. A originalidade da racionalidade do pensar português, só os portugueses o podiam compreender. Durante os anos cinquenta, no nosso acanhado meio filosófico, a questão central é a existência ou não de uma filosofia portuguesa. Nos seus pressupostos, continuava-se afinal a discutir a política do espírito de António Ferro, afirmando ou negando-a.

As Causas do Afastamento

Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), dois fenómenos começaram a esvaziar o discurso ideológico montado por António Ferro.

- O primeiro, foi o contraste que transparecia entre a miséria sentida pela maioria dos portugueses e a exaltante opulência de paz e bem estar com que alguns milhares de portugueses e estrangeiros viviam nas estâncias balneares, em especial na Costa do Sol. A activa propaganda do SPN/SNI, exaltando a paz e prosperidade do país, feita na base de contrastes sociais, entre pobres e ricos, apenas aumentava esta sensação de privação para a maioria da população. A partir de 1943, conforme reconhecia a Igreja, o Partido Comunista Portuguêscomeçou a emergir explorando estes mesmos contrastes a que o Neo-Realismo dará forma artística.

- O segundo foi a emergência dos Estados Unidos da América como a grande potência mundial, constituindo os seus estilos de vida e a sua democracia verdadeiros símbolos da modernidade. Na reconstrução dos países europeus devastados pela guerra, a imprensa reconhecia ritmos de crescimento económicos que não tinham paralelo com os fracos progressos obtidos pelo Estado Novo. A comunicação social, afecta ou não ao regime, não deixa de difundir imagens desta prosperidade distante de que a grande maioria dos portugueses estava privada.

O discurso da superioridade de modelo de sociedade portuguesa, assente no corporativismo, transformou-se subitamente no discurso das causas do atraso económico do país. Neste contexto, Salazar rapidamente percebeu que tinha que alterar o discurso do regime e mudar os mecanismos de controlo social, mas para isso tinha também que afastar o homem que criara e encarnara o modelo anterior. Em 1949 António Ferro é compulsivamente afastado do cargo que desempenhara desde 1933. Chegara a hora dos burocratas.

Carlos Fontes

IN"POLÍTICA"
(http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=42306313870801481348pli=1)

INVASÃO ROMANA DA PENÍNSULA IBÉRICA


Avanço romano na península Ibérica

1ª divisão provincial.

2ª divisão provincial.

3ª divisão provincial.

A invasão: Cartago versus Roma

A invasão romana da península Ibérica iniciou-se no contexto da Segunda Guerra Púnica (218 a.C.-201 a.C.), quando as legiões romanas, sob o comando do cônsul Cneio Cornélio Cipião, para ali se movimentaram taticamente, a fim de atacar pela retaguarda os domínios de Cartago na região.
De facto, a influência cartaginesa na península Ibérica permitia um expressivo reforço, tanto de suprimentos quanto de homens, a Cartago. A estratégia do Senado romano visava, desse modo, a enfraquecer as forças cartaginesas, afastando os seus exércitos da península Itálica.
O primeiro combate importante entre Cartagineses e Romanos ocorreu em Cissa (218 a.C.), provavelmente próximo a Tarraco, embora os historiadores tenham tentado identificá-la com Guissona, na actual província de Lérida. Os Cartagineses, a mando de Hannon, foram derrotados pelas forças romanas a mando do próprio Cneio Cipião. O caudilho dos Ilergetes, Indíbil, que combatia aliado aos Cartagineses, terá sido então capturado. Não obstante, quando a vitória de Cneio parecia concretizada, acudiu Asdrúbal Barca, com reforços, que dispersaram os romanos sem, no entanto, os derrotar. Assim, as forças opostas regressavam às suas bases militares — os Cartagineses a Cartago Nova (actual Cartagena) e os Romanos a Tarraco — e já só no ano seguinte a frota de Cenio Cipião venceu Asdrúbal Barca na boca do rio Ebro. Pouco depois chegaram reforços de ItáliaPúblio Cipião, permitindo o avanço dos Romanos em direcção a Sagunto. dirigidos por
Atribui-se a Cneio e Públio a fortificação de Tarraco e o estabelecimento de um porto militar. A muralha da cidade foi provavelmente construída sobre a anterior muralha ciclópica, já que nela se observam algumas marcas de trabalho da pedra tipicamente ibéricas.
Ainda no ano de 216 a.C. há registo de combates entre Cneio e Públio contra os iberos, provavelmente de tribos a Sul do rio Ebro, embora sem grandes consequências para Roma. Já no ano seguinte, receberam os Cartagineses reforços, encabeçados por Himilcão, dando-se novo combate nas bocas do Ebro, segundo parece, próximo de Amposta ou Sant Carles, naquela que ficou conhecida como a batalha de Hibera, ou Ibera. Para prejuízo de Cartago, deste confronto saíram os Romanos vencedores.
A rebelião de Sifax em 214 a.C., aliado de Roma, na Numídia (Argel e Orã) obrigaria Asdrúbal a regressar a África com as suas melhores tropas, deixando o caminho livre para a progressão romana. Asdrúbal Barca, já em África, conseguiria o apoio de Gala, um outro rei númida, senhor da região de Constantina e, com a ajuda deste (e do seu filho, Massinissa), conseguindo a derrota de Sifax. Regressou em 211 a.C. à península fazendo-se acompanhar de Massinissa e os seus guerreiros númidas.
Algures entre 214 e 211 a.C., Cneio e Público regressaram ao Ebro. Sabe-se que em 211 a.C. os Cipiões incluíam no seu exército um forte contingente de milhares de mercenários celtiberos. Estes actuavam, frequentemente, como soldados de fortuna.
As forças cartaginesas estruturaram-se em três exércitos, comandados respectivamente pelos irmãos Barca (Asdrúbal e Magão) e ainda por outro Asdrúbal, filho do comandante cartaginês Aníbal Giscão, morto durante a Primeira Guerra Púnica. Do lado oposto, os romanos organizaram-se em três grupos, comandados por Cneio, Públio, e ainda por Tito Fonteio. Asdrúbal Giscão e Magão Barca, apoiados pelo númida Massinissa, conseguem derrotar Públio Cipião, matando-o. Cneio Cipião, em pleno combate a 211 a.C., assiste à deserção dos mercenários celtiberos — a quem Asdrúbal Barca ofereceu uma soma maior daquela paga por Roma — e é obrigado a retirar-se. Faleceu durante a retirada, deixando os Cartagineses aptos a atravessar o rio Ebro, que só puderam ser contidos graças à intervenção de Gaio Márcio Séptimo, eleito como general pelas tropas. O cenário destes combates é, porém, incerto, embora sabendo-se que Indíbil combatia novamente do lado dos cartagineses.

No ano seguinte, 210 a.C., foi enviada uma expedição dirigida por Cláudio Nerão com vista à captura de Asdrúbal Barca. Não obstante, Cláudio traiu a sua palavra e fugiu desonrosamente. O Senado insistiu, e enviou novo exército ao rio Ebro, para conter o avanço das tropas cartaginesas em direcção à Itália. O líder desta nova força foi o célebre Cipião Africano, filho do general homónimo, morto em combate em 211 a.C. Cipião fazia-se acompanhar do pró-consul Marco Silano (que deveria suceder a Cláudio Nerão) e do conselheiro, Caio Lelio, chefe de esquadra. À sua chegada, os exércitos cartagineses encontravam-se instalados da seguinte forma: aquele dirigido por Asdrúbal Barca encontrava-se próximo da nascente do rio Tejo; o exército de Asdrúbal Giscão na região da futura Lusitânia, próximo à actual cidade de Lisboa; o exército de Magão encontrava-se na zona do estreito de Gibraltar. Cipião, aparentemente desprezando a importância da região do Ebro, atacou directamente Cartago Nova por terra e por mar. A capital púnica peninsular, cuja guarnição, insuficiente, era dirigida por outro Magão, foi obrigada a ceder, sendo ocupada pelos Romanos. Rapidamente, retornou Cipião a Tarraco antes que Asdrúbal atingisse as desguarnecidas linhas do Ebro.
Esta operação marcou o início da submissão de grande parte da Hispânia Ulterior. Cipião soube convencer vários caudilhos ibéricos, até então aliados a Cartago, como Edecão (inimizado com Cartago desde que a sua mulher e filhos foram tomados como reféns), Indíbel (pela mesma razão), e Mandónio (declarado inimigo por Asdrúbal Barca).
No Inverno de 209 a 208, Cipião avançou em direcção a Sul, chocando com o exército de Asdrúbal Barca (que, por sua vez, se deslocava para Norte), próximo a Santo Tomé (Jaén), na aldeia de Baecula, onde decorreu a batalha de Baecula. Não obstante Cipião reclamar para si a vitória, que permanece por confirmar, o facto é que Asdrúbal Barca prosseguiu o avanço em direcção ao Norte com a maior parte das suas tropas, atingindo o sopé das montanhas dos Pirenéus. Sabe-se que, desta forma, Asdrúbal cruzou os Pirinéus passando pelo região basca, provavelmente na tentativa de conseguir uma aliança com estes embora, em todo o caso, os bascos não dispusessem de grandes meios de oposição faze à força cartaginesa. Asdrúbal acamparia no Sul da Gália entrando na Itália em 209 a.C.. No ano seguinte Magão transladou as suas tropas para as Baleares e Asdrúbal Giscão manteve-se na Lusitânia.
Em 207 a.C., reorganizados os cartagineses e com novos reforços procedentes da África e dirigos por Hannon, conseguiram recuperar a maior parte do Sul da península. Após a submissão desta zona por Hannon, uniu-se Asdrúbal Giscão na região, e Magão regressou à península. Pouco depois, as forças de Hannon e Magão foram derrotadas pelo exército romano a mando de Marco Silano, de onde resultou a captura de Hannon e a retirada de Giscão e Magão para as principais praças-fortes até receberem novos reforços desde África (206 a.C.). Entretanto recrutaram contingenes de indígenas e confrontaram-se com os Romanos na batalha de Ilipa (na zona da actual Alcalá del Río), na província de Sevilha. Nesta batalha vence Cipião sem sombra de dúvida, obrigando nova retirada de Magão e Asdrúbal para Gades. Cipião tornara-se assim dono de todo o sul peninsular, e pôde cruzar a África onde se encontrou com o rei númida Sifax, que já o havia visitado na Hispânia.
Aproveitando uma convalescença de Cipião, algumas unidades do exército aproveitaram-se para amotinar-se exigindo os salários em atraso; por sua vez, a oportunidade foi aproveitada pelos Ilergetes (a mando de Indíbil) e pelos Ausetanos (a mando de Mandónio) que iniciariam uma rebelião dirigida, sobretudo, aos procônsules L. Lentulo e L. Manlio. Cipião soube conter o motim, colocando um ponto final na revolta dos ibéricos. Mandónio foi preso e executado (205 a.C.), mas Indíbil conseguiu escapar.
Magão e Asdrúbal abandonaram Gades com todos os seus barcos e tropas para acudir a Aníbal, já em Itália. Roma tornava-se assim senhora de todo o Sul da Hispânia, desde os Pirenéus ao Algarve, no seguimento da costa e, para o interior, de Huesca em direcção ao Sul até ao rio Ebro e para Este em direcção ao mar. A partir de então, iniciou-se a administração romana da península, inicialmente com o caráter de ocupação militar, com o fim de manutenção da ordem e de exploração dos recursos naturais das regiões ocupadas, doravante integradas no território controlado pela República. Assim, a porção ocupada ficava desde já dividida em duas províncias: a Citerior, a Norte, e Ulterior, a Sul, com capital em Córdoba. A administração ficava incumbida a dois pretores bianuais que, de resto, nem sempre se cumpria.

 A resistência


Mapa da invasão romana das Astúrias e Cantábria.

Bronze de Alcantara, inscrição latina declarando a rendição incondicional ("deditio") ante os romanos do povo que habitava um castro entre o território dos Lusitanos e dos Vetões, 104 a.C., Cáceres

A derrota dos cartagineses, entretanto, não garantiu a ocupação pacífica da península Ibérica. A partir de 194 a.C., registraram-se choques com tribos de nativos, denominados genericamente como Lusitanos, conflitos que se estenderam até 138 a.C., denominados por alguns autores como guerra lusitana. A disputa foi mais acesa pelos territórios mais prósperos, especialmente na região da atual Andaluzia.
Nesse contexto, destaca-se um grupo de Lusitanos liderados por Viriato, eleito por aclamação. Esse grupo infligiu duras derrotas às tropas romanas na região da periferia andaluz, tornando Viriato um mito da resistência peninsular.
Em 150 a.C. o pretor Sérvio Galba aceitou um acordo de paz com a condição de entregarem as armas, aproveitando depois para os chacinar. Isto fez lavrar ainda mais a revolta e durante oito anos os romanos sofreram pesadas baixas, culminando no assassínio de Viriato por três companheiros tentados pelo ouro romano. Mas a luta não parou e Roma enviou à Península o cônsul Décimo Júnio Bruto, que pactuou e fortificou Olisipo, estabeleceu a base de operações em Móron próximo de Santarém, e marchou para o Norte, matando e destruindo tudo o que encontrou até à margem do Rio Lima. Mas nem assim Roma conseguiu a submissão total e o domínio do norte da Lusitânia só foi conseguido com a tomada de Numância, na Celtibéria que apoiava os castros de Noroeste. Em 60 a.C. Júlio César dá o golpe de misericórdia aos lusitanos.
No século I, consegue-se a Pax Augusta: a Hispânia é dividida em três províncias. Neste período o geógrafo Estrabão, e o historiador universal Trogo Pompeu descrevem assim os seus habitantes:
Os hispanos [de Hispânia] têm o corpo preparado para a abstinência e fadiga, e ânimo para a morte: uma dura e áustera sobriedade para todos[3]. […] Em tantos séculos de guerra com Roma, não tiveram nenhum outro capitão a não ser Viriato, um homem de tal virtude e continência que, depois de vencer os exércitos consulares durante 10 anos, nunca quis distinguir-se no seu modo de vida de qualquer soldade raso
. Outro historiador romano, :
Ágil, belicoso, inquieto. A Hispânia é distinta da Itálica, mais disposta para a guerra por causa do agreste terreno e do génio dos homens
Tito Lívio (59 a.C.-17 d.C.), sobre o carácter do homem hispânico
Ao se iniciar a fase imperial romana, a pacificação de Augusto também se fez sentir na península: com a finalização das Guerras Cantábricas, a partir de 19 a.C., as suas legiões ocuparam a região norte peninsular, mais inóspita, ocupada por povos cântabros e astures. Com esta ocupação, asseguravam-se as fronteiras naturais e pacificava-se essa região mais atrasada, de modo a que não constituísse ameaça para as populações do vale do rio Ebro e da chamada Meseta, já em plena fase de Romanização.

 A romanização


Teatro Romano de Mérida, Espanha)

Vista de Conímbriga, Portugal

Na península Ibérica, a romanização ocorreu concomitantemente com a conquista, tendo progredido desde a costa mediterrânica até ao interior e à costa do Oceano Atlântico. Para esse processo de aculturação foram determinantes a expansão do latim e a fundação de várias cidades, tendo como agentes, a princípio, os legionários e os comerciantes.
Os primeiros, ao se miscigenarem com as populações nativas, constituíram famílias, fixando os seus usos e costumes, ao passo que os segundos iam condicionando a vida econômica, em termos de produção e consumo. Embora não se tenha constituído uma sociedade homogênea na península, durante os seis séculos de romanização registraram-se momentos de desenvolvimento mais ou menos acentuado, atenuando, sem dúvida, as diferenças étnicas do primitivo povoamento.
A língua latina acabou por se impor como língua oficial, funcionando como factor de ligação e de comunicação entre os vários povos. As povoações, até aí predominantemente nas montanhas, passaram a surgir nos vales ou planícies, habitando casas de tijolo cobertas com telha. Como exemplo de cidades que surgiram com os Romanos, temos Braga (Bracara Augusta), Beja (Pax Julia), Santiago do Cacém (Miróbriga), Conímbriga e Chaves (Aquae Flaviae).
A indústria desenvolveu-se, sobretudo a olaria, as minas, a tecelagem, as pedreiras, o que ajudou a desenvolver também o comércio, surgindo feiras e mercados, com a circulação da moeda e apoiado numa extensa rede viária (as famosas "calçadas romanas", de que ainda há muitos vestígios no presente) que ligava os principais centros de todo o Império.
A influência romana fez-se sentir também na religião e nas manifestações artísticas. Tratou-se, pois, de uma influência profunda, sobretudo a sul, zona primeiramente conquistada. Os principais agentes foram os mercenários que vieram para a Península, os grandes contingentes militares romanos aqui acampados, a acção de alguns chefes militares, a imigração de romanos para a Península, a concessão da cidadania romana.

A divisão administrativa

Finalizado o processo de conquista, a província foi integrada ao Império Romano, dividida administrativamente em três partes:
Registra-se neste período uma etapa de paz e prosperidade econômica, marcada pela construção de cidades e de uma rede de vias, talvez o elemento mais marcante da administração imperial romana. A maioria das cidades na península adquiriu progressivamente a sua autonomia, vindo posteriormente a se constituir em sede de municípios.

 Aspectos económicos


Fábrica romana de salga, Setúbal, Portugal

Durante a romanização da península, a economia de subsistência das primitivas tribos foi paulatinamente substituída por grandes unidades de exploração agrícola em regime intensivo (as villae), produzindo azeite, cereais, vinho e pecuária, ao mesmo tempo em que o primitivo artesanatoindústrias especializadas como as da cerâmica e da mineração. A atividade agro-pecuária localizava-se, particularmente, ao Sul do rio Tejo sendo a terceira região que mais produzia grãos perdendo para apenas as peninculas africanas e as italianas. Também houve desenvolvimento na atividade pesqueira, produzindo o valorizado Garum que por sua vez demandava o desenvolvimento da extração de sal e das atividades de construção naval. Sendo uma das regiões mais romanizadas e controláveis do império, era moradia de várias famílias populares em Roma e até mesmo de imperadores, o que contribuiu muito ao desenvolvimento da região.
No tocante à exploração mineral, na qual a península era particularmente rica, todas as minas passaram a pertencer ao Senado romano, sendo exploradas por escravos. Entre elas destacava-se a região que se estende de Grândola a Alcoutim, de onde era extraído o cobre e a prata.
Para esse desenvolvimento, muito contribuiu a circulação da moeda romana.

 Aspectos arquitetônicos e religiosos

Assim como em diversas outras regiões do Império Romano, também foram erguidas na península pontes, teatros, termas, templos, aquedutos e todo o tipo de edifícios públicos e privados, civis e militares.
No campo da religião, registra-se a sobrevivência de divindades primitivas ao lado de divindades romanas, por vezes, também miscigenadas.




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