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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Davos é o sítio certo para ‘vender' o país
Davos serve sobretudo para operações de marketing que costumam ser bem-sucedidas, como afirma Mira Amaral, que já lá esteve várias vezes.
A reunião anual de Davos, a 44ª, começa hoje. As novidades são
poucas, numa agenda que se repete todos os anos. Mas não é isso que
importa: o Fórum serve principalmente para operações de marketing que
costumam ser muito bem-sucedidas, como afirma Mira Amaral, que já lá
esteve várias vezes.
Apesar de todas as expectativas, de todo o corrupio de figuras
mediáticas, de todo o aparato de segurança e da gigantesca operação de
marketing que envolve a reunião anual de Davos do Fórum Económico
Mundial (cuja 44ª edição, a primeira foi em 1971, tem hoje início
naquela minúscula cidadezinha suíça), o certo é que, de ano para ano, as
novidades são cada vez menos.
Há sempre um tema central em discussão - este ano é ‘Remodelar o
Mundo: Consequências para a Sociedade, Política e Negócios', algo
suficientemente genérico para oferecer conclusões para todos os gostos;
há sempre figuras que preferem fazer-se notar pela ausência - este ano
será a chanceler alemã Angela Merkel, aparentemente em retaliação por
ter sido espiada pelos Estados Unidos; há sempre novidades sobre a
desigualdade da distribuição mundial de riqueza e apelos à moralização
que toda a gente faz questão de fazer de conta que tomará em
consideração - a ONG Oxfam revelou esta semana que os 85 indivíduos mais
ricos do mundo têm tanto dinheiro como os 3,57 mil milhões mais pobres
(ora isto dá... isso: 42 milhões por cabeça); e há sempre desacatos
entre Davos e os movimentos anti-Davos, que serão mais ou menos graves
conforme mais ou menos elementos do Black Bloc estiverem presentes.
Mesmo assim, é um sítio onde "vale a pena ir", diz um dos portugueses
que, na qualidade de ministro (da Indústria) mas também na de gestor
privado, já lá esteve repetidas vezes: Luís Mira Amaral, actual CEO do
banco BIC. A importância da presença varia em função da agenda de cada
país. Dito de outra forma: se em cima da mesa das políticas nacionais
estiverem em análise dossiers como por exemplo as privatizações, "é
importante a presença de um ministro".
Portugal encaixa este ano nesse perfil: com a TAP a pretender
levantar voo para outras mãos - depois de aterragem forçada a que foi
obrigada na primeira tentativa - o ministro da Economia, António Pires
de Lima, é um dos dez portugueses que estará em Davos.
Mira Amaral aceita que o dossier TAP é um motivo importante para
explicar a presença de Pires de Lima, mas espera que a função do
ministro seja mais abrangente: "é uma questão de imagem de Portugal, que
é preciso ‘vender' aos nossos parceiros internacionais; fiz isso quando
era ministro e sentir-me-ia chocado se o actual Governo não o fizesse
também".
Aliás, recorda, Davos é o sítio certo para a promoção de um país: "em
1996, a Turquia fez uma grande operação no Fórum" e é isso que o gestor
bancário espera que Portugal consiga fazer - nomeadamente numa altura
em que os investidores aliviam as taxas que obrigam a República a pagar
pelos seus empréstimos soberanos.
Jerónimo Martins está mais uma vez em Davos
Da restante lista de presenças nacionais constam António Guterres e
Durão Barroso - presenças ‘por inerência' dos cargos que ocupam - e
alguns empresários e gestores. Merece destaque a presença da Jerónimo
Martins - a braços com sintomas preocupantes na operação polaca, país
emergente para onde cessou a drenagem de fundos de investimento com
excesso de liquidez - que se repete há vários anos. Pedro e José Soares
dos Santos serão dois dos 2.633 presentes, mais coisa menos coisa, que
se dividem entre 196 académicos, 288 membros de governos, 48
representantes de organizações internacionais e 2.101 figuras do sector
privado.
Apesar da eventual importância da presença em Davos, não é fácil
chegar lá. A razão é simples: é caro. Jorge Armindo, CEO da Amorim
Turismo, que também já lá esteve, explicou que só a inscrição atinge os
25 mil euros; pior: para uma empresa ter a certeza de poder estar
presente, só tem uma alternativa: tornar-se sócia permanente do fórum,
juntando-se a uma agregado que já tem mais de mil participações. Para
isso terá de despender um mínimo de 50 mil euros anuais (a que acresce,
de qualquer modo, a inscrição para Davos) - o que não é grande coisa, se
se levar em consideração a empresa-tipo que faz parte do Fórum: 4,5 mil
milhões de euros de receitas, em média, e liderança (pelo menos
regional) do sector.
Seja como for, Mira Amaral espera que a presença de Pires de Lima
seja um grande benefício para o país. Mesmo que isso, para o ministro,
não seja muito divertido: "quando era ministro vim embora no final da
reunião; quando lá estive como gestor privado fiquei mais quatro dias a
fazer ski na estância vizinha de Klosters, a convite do fundador do
Fórum, o alemão Klaus Schwab".
* Davos é uma espécie de Feira da Ladra dos ricos, onde se negoceia o destino dos povos a preço de saldo.
Estarão presentes membros da maçonaria, opus dei e outras sociedades secretas em agradável e fraterno convívio, à roda de uma mesa de iguarias, enquanto a cada minuto, um pouco longe daquele local, morrem cinco mil crianças por não terem um copo de água!
É lá que Pires de Lima vai vender os portugueses.
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