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Trump e Masquerade,
do Fantasma da Ópera
Medo de ver a realidade em seu redor. Talvez tenha sido este sentimento que fez que Donald Trump tenha desdenhado o vírus que veio da China e que nos obrigou a confinar. Trump, de peito feito, negou o vírus, tal como Bolsonaro, e incentivou aos mais disparatados tratamentos anticovid.
Trump será um homem com medo? Medo do
vírus, medo de umas eleições que teme perder para Joe Biden, apesar de
apregoar o contrário e de forma intimidatória, esquecendo-se de que os
Estados Unidos são os Estados Unidos e não uma qualquer Rússia, Turquia
ou Coreia do Norte.
Trump não é um homem corajoso. É um louco
medroso. Estará agora no colo de Melania arrependido dos disparates que
disse, desde que começou a pandemia? Ou afinal nem sequer está infetado?
Trump ignorou a ciência, a saúde, os médicos e especialistas, gozou com
as máscaras – tal como outros políticos o fizeram em Portugal, e, a
esse propósito, vale a pena recordar o socialista e presidente da
Assembleia da República, Ferro Rodrigues, quando chamou “mascarados” aos
que teriam a intenção de prevenir-se de eventual contágio no
Parlamento.
Mascarados. Cada um tem um a sua máscara. A da política, a das artes, a
do desporto, a da economia, a das sociedades secretas ou a da
comunicação social. Mas as máscaras não podem esconder a verdade nem o
conhecimento. As máscaras podem fazer sobressair a inteligência, a
prudência, a coragem, a ausência de preconceitos e a total
disponibilidade para a democracia e a liberdade.
“Esconda o rosto para que o mundo nunca o encontre”, como canta o
Fantasma da Ópera, é receita que não resultará nesta pandemia. “Olhe em
volta, há outra máscara atrás de si.” A letra de Andrew Lloyd Webber é
brilhante. Desmascara mascarados. “Corra e esconda-se, mas um rosto
ainda irá persegui-lo!”
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Joe Biden será esse rosto no próximo longo mês (a 3 de novembro os
americanos vão às urnas escolher o presidente dos Estados Unidos pelos
próximos quatro anos). No debate que decorreu nesta semana entre os dois
candidatos, Biden pode não ter tido o fervor que os analistas políticos
esperavam, e foi criticado por isso, mas a falta de civismo de Trump
superou tudo e caiu a máscara. O debate de insultos, infelizmente,
resultou numa derrota para a democracia. O candidato do Partido
Democrata terá de distanciar a sua narrativa da do “mascarado”.
O presidente em exercício e candidato à reeleição não resistiu a agradar
à sua base eleitoral e insistiu em pôr em causa as capacidades mentais
de Biden, chegando ao ponto de sugerir que o candidato do Partido
Democrata só teria uma boa prestação se fosse estimulado com drogas e
recebesse indicações através de um auricular… Num baile de máscaras não
vale tudo, mesmo que os dançarinos tenham essa ilusão.
IN "DINHEIRO VIVO" - 04/10/20
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