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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Portugal obliterado
E eis que, chegados ao segundo Natal pandémico, nos encontramos mais manietados pelo medo do que no primeiro. A economia está menos limitada nos movimentos, estamos quase todos vacinados, a covid mata menos, empurra menos doentes graves para o hospital, mas, ainda assim, esta maldita variante ómicron está a conseguir ser bastante mais destrutiva da nossa ingénua vocação para acreditar que já estivemos mais longe do fim.
Porque o vírus sorrateiro descobre sempre um alçapão por onde entrar, consegue sempre encontrar uma forma de regressar em força a nós. Ora, se há coisa que fomos aprendendo como esta experiência coletiva traumatizante foi a importância da relativização das coisas. Das derrotas, mas sobretudo das conquistas. Não era isto certamente que gostaríamos de dizer uns ao outros num dia como o de hoje, de harmonia e comunhão familiar, de bondade espiritual, mas só vale a pena acreditar em contos de fadas se quisermos ser enganados.
Na habitual mensagem de Natal aos portugueses através das páginas do Jornal de Notícias, que o presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa já transformou num ritual institucional, é esse clamor que se pede também, um esforço de direcionamento das nossas energias para junto daqueles que continuam arredados do discurso político e tantas vezes da agenda mediática. Ou, como tão habilmente resume o chefe do Estado, "a nossa consciência não pode parar no dia 26 ou no dia 2 de janeiro".
Atentemos, pois, aos milhões de portugueses sem retaguarda, sem amparo social e económico, a todos aqueles cuja saúde mental está profundamente contaminada. Porque estes continuarão a ser irremediavelmente esquecidos, incapazes de emergir deste torpor. Que em 2022, ano de decisões políticas determinantes, sejamos capazes de ouvir mais esse Portugal obliterado, empobrecido, de lhe apresentar soluções sérias e realizáveis, que sejamos capazes de o tirar desse canto em que permanece de mão estendida, refém dos apoios públicos que simultaneamente o salvam e o condenam à pobreza geracional.
* Director adjunto
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 25/12/21
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