3772.UNIÃO
EUROPEIA
PORTUGAL
MÍSIA
1955-2024
A VOZ QUE DECONHECIA FRONTEIRAS
ENTRE FADO E LITERATURA(DN)
Tinha 69 anos. Notícia foi avançada pelo escritor Richard Zimler,
amigo da música, nas redes sociais. “Partiu em paz, docemente, sem
dores”, escreveu.
A cantora e fadista Mísia morreu este sábado,
aos 69 anos. A notícia foi avançada numa publicação nas redes sociais
feita por Richard Zimler, escritor norte-americano há muito radicado em
Portugal. “Estou desolado, pois a minha velha amiga, a cantora Mísia,
acabou de nos deixar. Partiu em paz, docemente, sem dores”, escreveu.
Susana
Maria Alfonso de Aguiar, vulgo Mísia, nasceu no Porto. Filha de mãe
espanhola e pai português, escolheu o seu nome artístico depois ter lido a biografia de Misia Sert,
mulher nascida na Rússia dos czares e radicada em Paris que foi
pianista e patrona das artes (a sua trajectória cruza-se com os de gente
como Proust, Monet, Signac, Debussy ou Coco Chanel). “O seu nome
era curto e redondo; nunca o tinha ouvido. Adoptei-o imediatamente”,
diria a portuguesa.
A estreia discográfica aconteceu em 1991, com o simplesmente intitulado
Mísia. Seguir-se-ia, dois anos mais tarde,
Fado, em que cantava letras escritas por Lobo Antunes (
Nasci para morrer contigo) e Sérgio Godinho (
Liberdades poéticas), interpretava Jacques Brel (
As time goes by) e explorava repertório outrora assumido pelas cordas vocais da incontornável
Amália (
Nome de rua).
Em 2015, lançou Para Amália, álbum duplo com quatro composições originais (assinadas por Amélia
Muge, Mário Cláudio, Tiago Torres da Silva e pela própria Mísia) e
diversos fados integrantes do repertório de Amália Rodrigues. “Fiz o caminho inverso do que às vezes se faz quando se começa uma carreira a cantar coisas da Amália. Gravei a [canção] Lágrima
no meu primeiro disco e canto-a pontualmente, mas tive sempre a
prudência de não ir por aí. Até para poder ter, primeiro, um caminho
meu. Agora, sim, posso dizer ‘vou dar uma prenda à Amália’, como dei uma
prenda ao Carlos Paredes com o Canto”, afirmaria numa de várias entrevistas ao PÚBLICO.
Seguiu-se,
após o lançamento da compilação, um período árduo, em que Mísia teve de
travar uma batalha contra uma doença oncológica. Pura Vida (banda sonora), disco editado em 2019, é o retrato de “dois anos duros aos quais ela resistiu com os pés assentes no chão e na música”. “O
resultado, cruzando fado e tango, sons dos céus e do inferno, é
avassalador”, avaliou o jornalista Nuno Pacheco nas páginas do Ípsilon.
Numa
das fotografias que fazem parte da arte visual do disco, a cantora
surge a sair de uma máquina de lavar. Mísia explicou ao Ípsilon a ideia
por detrás dessa imagem: “Quando tive o primeiro cancro e, passados 15
meses, apareceu outro, senti-me como uma pessoa que está numa máquina de
lavar cuja programação desconhece. E quando pensa que vai sair já, a
máquina começa um novo programa e a centrifugar.”
Em 2021, montou o concerto As Mais Bonitas, em que revisitava novamente o seu percurso e as canções mais emblemáticas do mesmo. Um ano depois, editou Animal Sentimental, um disco e também um livro. “Antes,
eu dizia que não chorava as minhas lágrimas pessoais a cantar, porque
essas chorava-as na minha cozinha. Aqui, neste disco, não é que chore as
minhas lágrimas, mas foi impossível pôr um dique em certas experiências
dos últimos anos e guardá-las na gaveta”, contou-nos aquando do
lançamento do álbum.
IN "PÚBLICO" - 27/07/24
O MANTO DA RAÍNHA
NR: A nossa modestíssima homenagem a tão grande talento.
putin HUYLO
putin é um canalha.