.
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
16/04/2025
CONSTANTINO SAKELLARIDES
.
1. Dois espaços contrastantes
Nas Urgências coexistem dois espaços distintos: Um espaço-público-esquecido na sala de espera; um território “profissional-de-aconchego”, do outro lado da porta da espera.
O espaço de espera é público no sentido mais elevado do termo. Estamos lá todos. Metade têm sinais de quem vive com dificuldades. Mas ali somos todos iguais. Arroupados pela preocupação carinhosa dos acompanhantes-familiares. Valemos a cor da fita que trazemos no pulso. Trocam-se olhares discretos. Empáticos. Interrogando-se. Estamos todos à espera, algo perdidos entre a ansiedade e cansaço. O espaço de espera é limpo, exíguo, não-cuidado e afetivamente abandonado. As cadeiras são desnecessariamente desconfortáveis. A porta da rua abre de 3 em 3 minutos, sai-entra gente e com ela frio, muito frio.
Mas do outro lado da porta-da-rua, está a entrada de um espaço profissional de aconchego. Profissionais, na sua grande maioria jovens, e alguns mais experientes, acolhem, ouvem, cuidam e aconchegam. Médicos, enfermeiros e outros profissionais dedicados, trabalhando em horas impróprias, enquanto o resto do mundo repousa. Aqui, salvam-se vidas e sossegam-se outras.
Passa uma cama rolante, e quem a empurra fala amigavelmente, consolando uma mulher muito idosa e queixosa: “Nem pense nisso, ainda cá vai estar aquando da 4ª Grande Guerra Mundial...”.
2. Com um esforço ao nosso alcance, é possível fazer melhor
E, no entanto, é bem possível articular efetivamente aqueles dois territórios que coexistem nas Urgências do SNS. Pelo menos de duas maneiras. Dotar o espaço público com aquilo que precisa – conforto, mesmo que austero, o toque afetuoso próprio da arte de cuidar e informação útil. E depois, alguém que lá apreça periodicamente, solicito, interessado, pronto a corrigir imperfeições e omissões, ouvindo, explicando e intervindo porventura em esperas mais difíceis de entender. Prolongando a solicitude do espaço profissional para um espaço público delicado, em sofrimento. Não custa muito a fazer e fará muito bem a quem, doente e carente, espera a sua vez.
Desta forma, todos perceberíamos melhor a falta que o nosso SNS nos fará, quando, porventura, acabarem por arrendar o seu património. Em vez de ideias que desanimam, criem-se antes as condições necessárias para que mais profissionais de saúde nos possam assim cuidar, nos inevitáveis momentos de aflição.
3. De volta a casa...
Das Urgências, fica-se ou tem-se alta.
De alta, chega-se a casa, 10 horas passadas, ainda aturdidos, mas também agradecidos.
E não se resiste à tentação, antes de adormecer longamente no sofá, de espreitar como vai, entretanto, este nosso mundo. Dois toques incautos e a Televisão inundam-nos a sala. Um desconsolo, maior dor do que as picadas e os adesivos das Urgências, é observar mais um espaço público em incumprimento – o desrespeito, em demasiadas Televisões, pela obrigação de tratar, por igual, todos os pontos de vista sobre um futuro democraticamente reforçado para o país.
Um último pensamento, agora mais adocicado, percorre a consciência, antes de desligar-se. A ideia de um filósofo eloquente: “A esperança é uma terna audácia que desponta sobre a torrente da desesperança, aí onde o seu rugido é mais selvagem e perigoso” …
* Professor catedrático jubilado de políticas de saúde
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" -14/04/25.
.
ē¢໐ ค́fri¢ค/113
GOLFO DA GUINÉ
Peter Arkoli
.
NR: Desconhecemos a idoneidade dos autores deste site, ou caímos numa esparrela ou acertámos na sorte. Aos nossos visitadores pedimos ajuda quanto à seriedade da informação. Editamos o vídeo com muitas dúvidas, por vezes temos de arriscar..