HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Parlamento ignora imbróglio de datas
nos vetos de Cavaco
Possibilidade
de vetos a diplomas da adoção por casais do mesmo sexo e aborto serem
inválidos por excederem prazos constitucionais não foi abordada na
conferência de líderes
Na
conferência de líderes parlamentares que ontem decidiu a data de 10 de
fevereiro para o novo debate sobre os diplomas sobre adoção de casais do
mesmo sexo e interrupção voluntária da gravidez (IVG) vetados pelo
Presidente, não foi abordada a possibilidade, objeto da manchete do DN
do mesmo dia, de os vetos serem inválidos por terem excedido o prazo
constitucionalmente previsto de 20 dias após remissão das leis a Belém.
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"No
que toca à questão do prazo para vetar ou promulgar não foi dada
nenhuma indicação de irregularidade pela presidência da Assembleia",
informa Pedro Filipe Soares, o líder da bancada bloquista. "E na
conferência de líderes de hoje ninguém questionou esse aspeto ou sequer
falou disso." Em todo o caso, prossegue, "só tomei conhecimento da
notícia do DN depois da conferência e teria de me informar sobre o
assunto em pormenor. Mas, se a Constituição diz que há prazos, não está
prevista nenhuma consequência. Poderíamos, claro, discorrer sobre a
validade dos vetos.
Francamente, porém, não me parece útil uma batalha
jurídica. A resposta deve ser política. E politicamente já qualificámos
os vetos como mesquinhos e frisámos que vão acarretar uma desautorização
do PR".
O DN noticiou atestarem os documentos na
posse da Assembleia da República que os diplomas em causa deram entrada
no Palácio de Belém no dia 30 de dezembro. De acordo com a Constituição,
artigo 136.º, "no prazo de vinte dias contados da receção de qualquer
decreto da Assembleia da República para ser promulgado como lei (...)
deve o Presidente da República promulgá-lo ou exercer o direito de veto,
solicitando nova apreciação do diploma em mensagem fundamentada". O que
significa que os vetos, ao darem entrada a 25 na Assembleia, terão
ultrapassado em seis dias o prazo constitucional. Facto que o Palácio de
Belém, citado na notícia de ontem do DN, refuta, alegando terem os
diplomas entrado no dia 30 mas já após as 18 horas, estando a secretaria
fechada. Sendo o dia seguinte, 31 de dezembro, de tolerância de ponto,
explicou o assessor de imprensa da Presidência, a secretaria não abriu.
Sexta, dia 1 de janeiro, foi feriado, e seguiu-se o fim de semana, pelo
que os diplomas só terão dado entrada na secretaria a 4 de janeiro, data
que Belém considera dever ser a referência para a contagem do prazo de
20 dias.
O DN tentou ouvir sobre o
mesmo assunto outros líderes de bancada, sem sucesso. Mas a deputada do
PS e constitucionalista Isabel Moreira, que previa fazer ontem uma
intervenção sobre os vetos (adiada para dia 10), considera que se os
documentos da Assembleia confirmam a entrada dos diplomas em Belém a 30
de dezembro os vetos são inconstitucionais. E considera a justificação
da tolerância de ponto sem sentido. "Supunha, até por um princípio de
continuidade do funcionamento das instituições, que Belém tivesse tanta
exigência como a AR nesse aspeto; no Parlamento há sempre alguém para
receber documentos. Era o que faltava não haver quem recebesse um
documento na Presidência. Imagine-se que era uma declaração de guerra,
ficava na portaria?"
Além disso, a
deputada considera que ao vetar estes dois diplomas o PR "se revogou a
si mesmo". E explica: "A lei sobre a IVG repõe a lei de 2007, que
promulgou. Na altura, decidiu não vetar; agora veta a reposição?"
Acresce que, relembra, "quando promulgou o casamento das pessoas do
mesmo sexo, em 2010, o PR alegou não valer a pena vetar por estar
garantido que a AR ia de novo aprovar. O que valeu para esse diploma não
vale para estes?"
De facto, no texto
da promulgação de 2010, Cavaco afirma a inutilidade do veto: "As forças
políticas que aprovaram [o diploma] voltariam a aprová-lo." E conclui:
"Sendo assim, entendo que não devo contribuir para arrastar inutilmente
este debate (...). Há momentos na vida de um país em que a ética da
responsabilidade tem de ser colocada acima das convicções pessoais de
cada um." Noutros momentos, pelos vistos, não.
* Era tudo tão mais fácil se o sr. Silva se tivesse vetado a si próprio, Portugal seria melhor. De qualquer dos modos achamos "cool" que o sr. Silva seja obrigado a promulgar as leis que rejeitou.
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