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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
Projeto social fez meninos ciganos trocar ruas de bairro em Matosinhos pela escola
Projeto 100 + Preconceito foi criado em 2004 e ajuda crianças ciganas do bairro da Biquinha, em Matosinhos, a frequentar a pré-escola.
No bairro da Biquinha, em Matosinhos, todas as crianças ciganas
frequentam a pré-escola, graças a um projeto e uma mediadora social
daquela etnia que estão a mudar a tradição.
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Junto
à Estrada da Circunvalação, num bairro onde vivem 4.000 pessoas, 270
das quais de etnia cigana, incide sobre estas um projeto iniciado em
2004, chamado 100 + Preconceito, e uma aposta, a da criação de uma
mediadora social, Élia Maia, para facilitar o passar da mensagem à
comunidade.
O sossego é a primeira sensação ao entrar no bairro rumo ao local onde
está o Gabinete de Apoio Individualizado da Associação para o
Planeamento Familiar (APF), palco da conversa de Nuno Teixeira e Élia
Maia com a agência Lusa, num espaço de duas salas, no rés-do-chão de um
dos blocos habitados por ciganos.
Distribuído por áreas de
atendimento públicas e privadas, a APF desenvolve ali o seu trabalho de
sensibilização e de ajuda à comunidade cigana.
Atualmente com 27
anos, Élia ligou-se ao projeto logo após ter saído da escola, aos 12
anos, numa fase, explicou à Lusa, em que era encarada pela comunidade
"não como um objetivo, mas como uma obrigação imposta pela sociedade".
Apesar
da renúncia aos estudos, a jovem cigana "chamou a atenção pelo seu
perfil", explicou Nuno Teixeira, começando a participar em "cada vez
mais ações" do projeto.
Um compromisso fez o resto e aos 20 anos
ingressou nas Novas Oportunidades e completou o 12.º ano, tornando-se
então na "primeira mediadora social cigana do país" e com um "projeto
muito bem definido: fazer a ponte entre o projeto e a comunidade e ser
também a voz cigana nas sessões de esclarecimento promovidas pela APF",
revelou Nuno Teixeira.
Élia quer formar-se em psicologia e vai
candidatar-se à faculdade ao abrigo do "Mais 23" mas, enquanto isso não
acontece, frequentará "formações complementares como mediadora social"
promovidas "pelo Alto Comissariado para as Migrações que recentemente
lançou um projeto para mediadoras municipais", disse o coordenador.
Desde
novembro de 2018 em funções, Élia fala "na primeira pessoa de e para os
ciganos", o que não impede alguns, disse, "de continuarem a pensar que
sair do seu percurso é deixar de ser cigano" resultado de viverem "em
famílias com mentalidade mais fechada".
Reiterando "sempre" ter
mostrado que queria fazer "um percurso diferente" e de por vezes "ouvir
coisas" de que não gosta e que "são mentira", afirmou como seu "maior
objetivo conseguir chegar aos ciganos" e, também, fora da comunidade,
utilizar o seu exemplo "como desmistificador do que se pensa da cultura
cigana".
"Temos de ser nós, ciganos, a mostrar que mudamos, que
nos capacitamos, porque o conhecimento vai dar capacidade e, assim,
mostrar que a nossa cultura mudou", acentuou Élia Maia, falando de uma
luta para "dar autonomia ao povo cigano".
Sobre a evolução
registada na comunidade, a colaboradora da APF falou das crianças que
"já frequentam a pré-escola", mas também das "mães que os incitam a
estudar", numa espécie de herança de um centro comunitário da APF que
"retirou as crianças da rua, ensinando-os a brincar, ao mesmo tempo que
fez a transição para o meio escolar", revelou Nuno Teixeira.
Mas
se há crianças no pré-escolar, o não às creches continua a pontificar,
assumindo Nuno Teixeira que "o valor dado pelo cigano à criança,
tornando-a no centro da família, torna difícil confiar em alguém para
cuidar dela, numa cultura em que a mãe fica em casa a cuidar dos
filhos".
Élia Maia reconhece estar a viver a "sua missão" e,
disse à Lusa, daqui por dez anos imagina-se num projeto seu, uma
associação, auxiliando o seu povo.
Parceiro importante no
projeto, a Câmara de Matosinhos rotula de "sucesso o que está acontecer
no bairro", acentuando a presidente Luísa Salgueiro que "todas as
crianças frequentam o I e II Ciclo do Agrupamento de Escolas Óscar
Lopes".
"Temos uma comunidade muito bem integrada, que consegue
apresentar níveis de formação idênticos aos da restante população,
quebrando um certo estereótipo que persiste em relação à comunidade
cigana", disse Luísa Salgueiro.
* Uma boa notícia torna logo um domingo diferente. Convidem o sr. Ventura a visitar este projecto, sim, aquele que não gosta de ciganos.
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