HOJE NO
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Trabalhadores.
Como a ditadura usava
os sindicatos para controlar
Tempos houve em que ser sindicalizado era
obrigatório e uma forma de controlar os trabalhadores. Os mesmos tempos,
antes do 25 de Abril, em que tentar comemorar o Dia do Trabalhador
implicava coragem
“Havia sindicatos em todo o lado. Havia um sindicato por distrito, por profissão, desde que houvesse mais de 200 trabalhadores”, sublinha Américo Nunes, acrescentando que “não havia, no entanto, sindicatos na função pública, nem na agricultura ou na pesca. No caso destas duas últimas, o que existia era a Casa do Povo e a Casa das Pescas.”
Uma análise social da época, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, mostra o que os trabalhadores achavam dos sindicatos e como olhavam para eles. “A falta de confiança dos trabalhadores nos respetivos sindicatos permite, por vezes, que os seus interesses e as suas pretensões se exprimam indisciplinadamente, ladeando o sindicato e apresentando-se na forma de grupos solidarizados por necessidades comuns e facilmente conduzíveis para as atividades de reivindicação em termos que podem ser consentidos”, pode ler-se no trabalho “As Lutas Sociais nas Empresas e a Revolução do 25 de Abril”.
A memória de Américo Nunes vai exatamente nesse sentido: “Com mais ou menos êxito, e apesar da repressão, continuaram sempre a existir formas de luta. Havia 400 sindicatos corporativos. Desses, cerca de 30, até 1974, foram conquistados por homens da oposição mesmo no quadro da lei fascista.”
O boom sindical
No entanto, o número de sindicalizados tem mudado muito ao longo dos anos. De acordo com Américo Nunes, “nos anos 80, muitas pessoas começaram a sair dos sindicatos. Depois, de 90 a 2000, houve um aumento, mas nunca perto do que se viveu depois da Revolução”.
E a verdade é que os dados mais recentes não enganam. Num trabalho de 2012, Pedro Portugal, perito do Banco de Portugal, sublinhava que, no setor privado, a percentagem de pessoas sindicalizadas não chegava aos 9%. A taxa de sindicalização era de apenas 10,4% em 2010, um dos valores mais baixos da Europa. De acordo com o economista, a taxa somava o conjunto de duas esferas: nas empresas privadas, apenas 8,8% dos trabalhadores por conta de outrem eram sindicalizados; no setor empresarial público, a taxa subia para 49,8%.
Muitos estudos apontam exatamente para esta erosão sindical. No artigo “O futuro do sindicalismo na representação sociopolítica”, de 2015, percebia-se que, em 34 anos, a taxa de sindicalização em Portugal tinha descido 41,5% - ou seja, caiu de 60% para 19%.
Os números de sindicalizados estão longe de ser o que já foram, ainda que a relação entre os momentos de crise de um país e o número de pessoas sindicalizadas possa não ser o que a maioria pensa, mas exatamente o contrário: “Quando há uma crise, o medo faz com que o número de pessoas sindicalizadas diminua.”
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