HOJE NO
"OBSERVADOR"
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Síria.
Como duas ‘médicas sem fronteiras’ viveram o cerco a Alepo
Lideraram equipas de socorro debaixo de fogo, viram vítimas de ataques químicos, assistiram partos a partir de um telefone. As histórias de duas médicas que viveram o cerco a Alepo, na Síria.
Maria Luz Ruiz já perdeu a conta aos partos que assistiu nas
condições mais arriscadas. Líbano, Afeganistão, Iraque… “Foram tantos,
tantos”, recorda a enfermeira e parteira chilena, com o olhar curioso de
quem os tenta somar, mas sem conseguir chegar a um número certo. Na
Síria, contudo, tem sido diferente: quase que os podia contar pelo
número de mensagens que recebeu com fotografias das crianças que ajudou a
nascer, mesmo sem nunca lhes ter tocado. Há uma explicação para isso:
Maria Luz faz parte de uma missão dos Médicos sem Fronteiras que deixou
de ter autorização do governo sírio para entrar no país.
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Maria Luz Ruiz numa das missões dos Médicos sem Fronteiras, no Líbano, depois de assistir um parto bem sucedido. |
Para não
abandonar as equipas de socorro que se mantêm nas principais cidades e
províncias da Síria, como Alepo ou Idlib, procuram locais seguros junto à
fronteira com a Turquia e é a partir daí que têm prestado assistência
médica às restantes equipas médicas que se mantêm no terreno. “Trabalhamos
em controlo remoto, por telefone, chat, Skype… E é assim que tenho
ajudado imensas crianças a nascer. Depois tiram fotos dos recém-nascidos
com as mães e mandam-me pelo WhatsApp”, explica Maria Luz. “Nunca
conheci pessoalmente as crianças que ajudei a nascer.”
Montse
Pubill sabe bem o que é esta angústia de prestar auxílio médico à
distância — muitas vezes, à distância de 15 ou 20 minutos de carro. A
médica catalã também já conhece bem a rotina de acordar e adormecer ao
som de bombardeamentos, do corrupio dos pedidos de socorro que se
seguem, do burburinho das sirenes, dos escombros que se amontoam quando
explode um carro ou caem bombas sobre a cidade. Só não se habitua ao
silêncio que tantas vezes se instala do outro lado do telefone quando há
um ataque. Uma noite, recorda, foi especialmente dramática. Montse
coordenava as operações das equipas de emergência médica durante o
último cerco a Alepo a partir da cidade turca de Gaziantep, a poucos
quilómetros da fronteira com a Síria. Agarrada ao telemóvel, trocava
mensagens com o diretor de um dos maiores hospitais da cidade através de
WhatsApp quando, subitamente, ele dá o alarme. “Agora! Estamos a ser
bombardeados!”. Montse seguia pelo telefone todos os movimentos do sírio
no terreno e sabia que se refugiara numa cave com pacientes e os
restantes elementos da equipa médica, enquanto uma tempestade de bombas
trovejava sobre as suas cabeças. A certa altura, ficou sem notícias. Nem
uma mensagem, um som. Nada. Seguiram-se momentos de aflição, sem saber
se tinham sobrevivido ao ataque. “Mais tarde, ele enviou-me o
vídeo e pudemos ver o que acontecera”, recorda a médica: tinham
resistido, mas um dos mais importantes hospitais da cidade estava
praticamente arrasado.
Montse Pubill, 44 anos, e Maria Luz Ruiz, 45 anos, fazem parte da
organização humanitária Médicos sem Fronteiras e integraram a missão na
Síria durante o último cerco à cidade de Alepo, entre julho e dezembro
do ano passado. “Foi um período muito difícil, com uma série de
bombardeamentos em toda a área, atingindo instalações médicas”, conta
Montse. “Todos os hospitais foram bombardeados” e, dos oito grandes que
estavam ao seu cuidado na missão, “apenas um se manteve, mais ou menos
funcional… todos os outros foram destruídos”.
De passagem por Lisboa —
para participarem num encontro de preparação das Conferências do
Estoril, que se realizam no final de Maio, dedicadas às Migrações
Globais (ver caixa no final do artigo) — Montse Pubill e Maria Luz
trouxeram os testemunhos de quem esteve num cenário de guerra e também
algumas denúncias que, de outra forma, dificilmente saltariam a
fronteira síria. As duas profissionais testemunharam bombardeamentos,
pedidos de socorro desesperados, vítimas de ataques químicos, crianças
queimadas pelo fogo das explosões. Viram muitas morrer antes de
conseguirem sequer à porta de um hospital. “Estas pessoas têm voz, mas
ninguém as escuta”, lamenta Montse Pubill. “Então nós falamos por elas.
Queremos contar o que se passa.”
“Não é possível atingir um hospital por acidente”
O conflito sírio, que começou em 2011, já provocou as maiores vagas de refugiados de que há registo desde a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que perto de 4,8 milhões pessoas tenham deixado a Síria nos últimos anos e que mais de 6,5 milhões tenham sido obrigadas a deslocar-se dentro do próprio país para fugir a tropas governamentais, forças da oposição e grupos rebeldes que lutam entre si pelo controlo territorial do país.
Com a degradação das condições de segurança, a organização dos Médicos sem Fronteiras mudou a sua forma de atuar no terreno. E, após
o rapto de uma equipa de médicos em 2014 por elementos do Estado
Islâmico, entretanto libertada, a organização decidiu retirar a maior
parte das equipas do país, recolocando-as em zonas fora do controlo do
grupo terrorista e em áreas junto da fronteira — muitas das equipas de
expatriados tiveram mesmo de ser resgatadas. Desde então, os
Médicos sem Fronteiras deixaram de ter autorização do governo sírio para
entrar no país e circular em segurança. Alepo, além de ser a principal
cidade no norte da Síria, tornou-se também um dos principais campos de
batalha na guerra entre as forças leais ao presidente Bashar al-Assad e
grupos rebeldes que querem derrubá-lo. E os cerca de seis meses que
durou o cerco à cidade, no final de 2016, foram especialmente difíceis
para as equipas de emergência médica.
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Para Montse Pubill (que já
estivera na Síria entre outubro de 2014 e março de 2015), a sua segunda
missão no país coincidiu com o cerco a Alepo. Mas, desta vez, foi muito
diferente, a começar pelo facto de ter de trabalhar em controlo remoto. A
partir de uma base na Turquia, perto da fronteira, habituou-se a
comunicar com as equipas no terreno via telefone ou computador. Um dia
normal arranca pelas seis da manhã, nunca largam o telefone. “Começamos o
dia com uma reunião, através de Skype, depois durante o dia temos
muitas comunicações através de Skype, WhatsApp, telefone…”, explica a
coordenadora das equipas de emergência médica. Às vezes, fazem reuniões
rápidas, aproveitam as pausas para comerem todos juntos, respondem a
emails, preparam a entrega de donativos de remédios e mantimentos. Num
dia bom, conseguem ir descansar pelas nove horas da noite e ainda
reservam um intervalo nas tarde de domingo para falar com a família.
Depois
há os dias sem horas para começar ou acabar, aqueles em que Montse se
recorda bem de ouvir as bombas a cair em Alepo. “A dormir, ou mesmo
durante o dia, ouvíamos os bombardeamentos ao longe. Só não tínhamos
medo, porque ouvíamos tudo isso muito ao longe”, primeiro em Kilis,
depois em Gaziantep, duas cidades turcas coladas ao norte da Síria. “Mas
sabíamos o que se estava a passar.
A lei internacional não estava a ser
respeitada! Os hospitais estavam a ser bombardeados!”, acusa Montse. E
não são apenas os hospitais, reforça a médica. “Há ataques
indiscriminados sobre hospitais, mercados, escolas, há uma lei
internacional que protege estes locais, que protege os civis, e que não
está a ser respeitada.” Para Maria Luz, “não é possível atingir
um hospital por acidente. Esses locais estão devidamente referenciados,
com coordenadas GPS, não são instalações militares. Mas quantos mais
sírios têm de morrer para o mundo perceber isso?”, questiona.
A estratégia do “segundo ataque”
As imagens chocantes de crianças e adultos em agonia, a morrerem
lentamente de asfixia e espasmos, depois de um ataque químico aéreo em
Khan Sheikhoun, na região de Idlib, correram mundo. Terão morrido, pelo
menos, 67 pessoas, entre as quais, 11 crianças — apesar de algumas
organizações no terreno atirarem as estimativas para mais de 100 mortes.
Montse e Maria Luz sabem que este não foi o primeiro ataque químico no
país e a escolha de Idlib também era previsível. “A informação
que tínhamos é de que Idlib seria mais tranquilo que Alepo, porque
estavam focados no controlo dessa cidade. Mas, assim que acabassem de
destruir Alepo, era de esperar o momento em que os ataques se iriam
virar contra Idlib”, explica Montse Pubill.
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A médica relata
que, durante o período em que esteve na missão Síria, já havia suspeitas
do uso de armas químicas, como o gás sarin. “Não fizemos o teste, por
isso não o podemos dizer oficialmente. Mas os médicos explicavam-me os
sintomas das pessoas que chegavam e da sua condição. E tínhamos 99% de
suspeita de que tinha sido um ataque químico”, garante.
A reação a um ataque químico já faz parte da preparação das
equipas dos Médicos sem Fronteiras. Além de terem sempre equipamentos de
proteção, é habitual, “a cada três ou seis meses, fazer uma simulação
com no terreno para testar como reagir em caso de ataque químico”,
explica Maria Luz Ruiz. “Estão todos muito bem preparados. Os médicos,
as enfermeiras, todos eles sabem o que fazer.” Só não há preparação
possível quando não se consegue chegar às vítimas: de explosões, de
ataques químicos e, também, das minas terrestres, outra das armadilhas
no terreno. Num dos ataques, recorda a enfermeira chilena,
“estava em Kilis. A minha base ficava a 45 minutos de carro do hospital.
Era a distância a que estávamos. Mas nunca fomos autorizados a fazer
esse caminho. O nosso limite era a fronteira entre a Turquia e a Síria,
por isso, da nossa casa até à fronteira eram mais ou menos 20 minutos. E
depois mais ou 10 ou 20 minutos.” Tentaram, mas nunca o conseguiram fazer.
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Resta-lhes
confiar nas equipas que estão no terreno para cumprirem as suas
orientações. Mas nem estes médicos e enfermeiros, mesmo sendo sírios e,
por isso, estando autorizados a trabalhar dentro do país, estão mais
seguros. “Muitos têm de atravessar a fronteira todos os dias e os que
ficam colocam em risco a sua vida e a das famílias”, alerta Maria Luz.
Montse recorda-se dos muitos profissionais que conheceu nestas
circunstâncias. Lembra-se em especial de um médico que dirigiu um dos
hospitais em Alepo e que viveu na cidade quase até ao fim. “Foi o último
médico a ficar até ao último momento. Vivia na cidade com a mulher e um
bebé. Contava-me que dormiam, ele e o stafe, três ou quatro horas por
dia. Faziam uma escala para descansar durante o cerco, tentavam
organizar os recursos da melhor forma possível, tentando resistir aos
bombardeamentos constantes. Aconteciam dois ou três num mês, às vezes,
dois na mesma semana”, recorda. “Então iam para as caves, onde
trabalhavam, muitas vezes a gerador, porque ficavam sem eletricidade, e
continuavam a trabalhar, mesmo com as bombas a cair. Os bancos de
sangue, o pessoal das ambulâncias, faziam o melhor que podiam nestas
circunstâncias em Alepo.”
Para agravar a situação, denuncia Montse Pubill, era frequente a
estratégia do duplo ataque durante um bombardeamento. “Havia um ataque,
cinco ou dez minutos depois chegavam as ambulâncias e as equipas de
socorro, para resgatar as pessoas que estiveram sob fogo. E então era
lançado um segundo bombardeamento”, descreve. “Sabe-se que, havendo
pessoas feridas, haverá equipas de socorro no local. E muitas vezes,
neste segundo ataque, fazem-se mais vítimas. E algumas delas podem até
ser os motoristas das ambulâncias que foram só prestar assistência.”
As crianças que morrem na fronteira
O interesse de Maria Luz Ruiz pelas missões dos Médicos sem
Fronteiras nasceu por causa de uma série de fotografias de África que um
dia viu penduradas na parede de um escritório em Santiago do Chile. A
enfermeira, e também psicóloga, já trabalhava há alguns anos e era na
altura responsável pelo programa de prevenção do HIV. Um dia, enquanto
esperava pela reunião com um alto representante do ministério da Saúde,
deu de caras com as imagens e não escondeu o fascínio.
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“Perguntei-lhe se
trabalhava com África, ele perguntou-me se eu conhecia os Médicos sem
Fronteiras, eu disse que não e então ele explicou-me”, recorda a
chilena. “Percebi nesse momento que era o amor de que eu estava à
procura há muito tempo.” Trocaram emails, passados uns dias foi
contactada para fazer testes, primeiro de inglês, a seguir outros mais
específicos, por fim enviaram diploma. Pouco tempo depois estava na sua
primeira missão de seis meses, no Darfur. Tinha 31 anos.
Desde
então, já cumpriu oito missões em países tão distintos como Líbano,
Afeganistão, Iraque ou Somália. Na sua função de enfermeira e também de
parteira, descobriu rapidamente que, ao contrário do que acontecia no
Chile, onde também era psicóloga, muitas vezes é a única pessoa que uma
mãe tem ao seu lado no momento em que nasce o seu filho. “Nesses
momentos, somos como ouro. Às vezes somos as únicas pessoas que eles têm
nesses momentos e que mais sabe sobre eles. Há médicos especialistas,
há ginecologistas, mas estão focados noutros problemas. Então a formação
específica que fazemos é mais focada em aprender mais, para sermos mas
independentes quando é preciso agir e tomar decisões.”
Essa realidade foi especialmente crítica na Síria. “Às vezes era
complicado. Confiava nos pediatras, estavam todos muito bem preparados e
qualificados. Mas todos eles viviam na Turquia. Trabalhavam em turnos,
atravessavam a fronteira todos os dias, mas às vezes não os deixavam
passar. Então havia dias em que o meu hospital não tinha um único
pediatra. E isso era caótico”, lembra. O mais dramático, contudo, era
quando as próprias vítimas eram bloqueadas. E mais duro ainda quando se
tratavam de crianças. “Apareciam feridas por causa de minas terrestres,
algumas morriam no hospital em Azaz, pelo estado extremamente grave em
que chegavam. Outras precisavam de entrar na Turquia para chegar ao
nosso hospital e eram bloqueadas. Não as deixavam passar”, conta.
“Algumas morreram na fronteira.”
Não lhe faltam, aliás, memórias
de vítimas a quem o socorro faltou ou ficou incompleto. Maria Luz
recorda uma menina de 11 anos, familiar de uma enfermeira que trabalhara
consigo na Síria, que ficara cega com os estilhaços de um
bombardeamento em Idlib. “Organizámos um enorme movimento para a retirar
do país e poder analisá-la na Turquia, no hospital de Gaziantep.
Decidiram que ela precisava de um transplante de córnea, o que já exigia
um alto nível de especialização para o local. Então pensaram em
transferi-la para Istambul. Mas aí havia outro grande problema… Ela
tinha perdido a mãe e para o pai era impossível ir com ela até Istambul.
Então pensou-se na possibilidade de ir para Damasco, disseram que não. E
o caso terminou aí. A família recusou totalmente a deslocação para
qualquer uma destas cidades que mencionei”, conta.
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Mas também há casos com um final menos trágico, como o da menina que
ficou com queimaduras graves depois de uma explosão, a ponto de não
poder mexer os braços. Valeu-lhe a intervenção dos Médicos sem
Fronteiras que, depois de a levarem para Kilis, a reencaminharam para um
médico na Jordânia que, através de uma cirurgia reconstrutiva, lhe
devolveu os movimentos.
Voltar a casa com vontade de partir
Montse Pubill ainda hoje estranha quando regressa a Espanha e volta a
vestir a bata para retomar o seu trabalho como médica de família no
centro de saúde. Estranha sobretudo o ritmo, bem mais calmo do que o das
15 missões que já cumpriu fora do país. Nasceu em Barcelona, cresceu e
estudou em Valência, mas gosta de dizer que é do “mediterrâneo”. Já na
universidade onde estudou medicina, “admirava os Médicos sem Fronteiras”
e interessou-se pelo trabalho da organização. “Seguia o que
faziam. Era como um sonho. Dois anos depois de terminar a
especialização, achei que valia a pena tentar. Candidatei-me e fiz o
processo de recrutamento e entrei.” Estava a estudar doenças tropicais
quando foi chamada para a primeira missão: quatro meses na Etiópia, para
tratar de uma emergência alimentar. Tinha então 35 anos.
A
preparação é intensa e está sempre a acontecer. Fez treino específico
para lidar com vírus e vários tipos de doença, mas também formação em
gestão. “Quando estamos no terreno, atuamos como médicos. Mas também
temos muitas funções de organização e gestão. Agora também fazemos
treinos online, que podem ser feitos a partir de qualquer sítio. Treinos
de vacinação, de segurança, depende sempre de onde estamos e das nossas
funções”, esclarece a coordenadora da equipa de emergência médica na
Síria.
Pelo meio, há sempre o regresso a casa e à família, ainda que seja
difícil fazer planos para uma relação estável ou ter filhos, dadas as
constantes partidas para missão. “Há quem me pergunte como, depois de
uma missão, posso voltar a um centro de saúde”, explica a médica catalã.
“Mas a verdade é que mudamos as nossas expectativas. Sou uma médica de
família que trabalha com uma população com outro tipo de necessidades.
Tenho doenças crónicas para tratar, mas não tenho uma emergência
alimentar para acudir”, explica. Por outro lado, reconhece, é bom
voltar. “Temos liberdade, podemos movimentar-nos para tantos lados,
podemos comer a nossa paella!”, afirma com uma gargalhada.
Maria
Luz encontra a mesma estranheza no regresso a casa. “Já trabalho com os
Médicos sem Fronteiras há 12 anos e ainda estranho aquela febre
consumista ou quando oiço as pessoas a queixarem-se das coisinhas do dia
a dia.” As rotinas também se ressentem. “Às vezes estou em casa e os
meus amigos ligam-me para sair e são 10 horas da noite. E para mim é
muito tarde, porque normalmente regresso a casa às 8 horas da noite e já
não saio para lado nenhum, é a minha rotina.” descreve. O regresso a
casa, explica, “é para desacelerar e ajustar as rotinas.”
Apesar
do cenário de conflito vivido nas últimas missões, Montse garante que
viveu situações mais críticas noutros países. Uma delas, recorda,
aconteceu há dois anos, em Beirute, na missão em que conheceu Maria Luz
Ruiz. “Foi um incidente crítico em Beirute, relacionado com um conflito
que estava a deflagrar naquele momento, e que obrigou a uma evacuação de
emergência e que se complicou colocando em risco a saída rápida do
local.”
Impedidas de revelar mais pormenores por questões de segurança, Montse e
Maria Luz contam apenas que “foi um momento delicado, mas mesmo muito
delicado, com toda a equipa junta a tentar ter a oportunidade de sair da
capital, o que não foi fácil”. Mas, realçam, “estávamos com uma pessoa
maravilhosa, daquele país, que nos ajudou…”
As equipas são constantemente colocadas à prova nestas situações, daí
que a competência, a união e a confiança sejam as chaves da
sobrevivência em momentos críticos. Montse conta com cerca de cinco
pessoas regulares e várias nacionalidades na sua equipa, desde a Arménia
ao Brasil e Argentina. Também já se cruzou com médicos portugueses, no
Curdistão e no Sudão do Sul. “Todos têm experiências totalmente
diferentes. São altamente profissionais, mas colocam o coração em tudo o
que fazem.” E é também pelo coração tanto Montse Pubill e Maria Luz
Ruiz mal podem esperar para voltar ao terreno e integrar de novo uma
missão na Síria.
* Havendo gente tão boa como os exemplos da notícia, como pode o mundo ser tão mau?
**
Um trabalho excelente de HELENA CRISTINA COELHO
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Um trabalho excelente de HELENA CRISTINA COELHO
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