HOJE NO
"SOL"
Ex-administrador da PT desmascara Sócrates e Mário Lino na OPA da Sonae
Luís Coutinho confirma que Sócrates se opôs à OPA da Sonae e revela que foi repreendido pelo governo por ter votado a favor. Desvenda ainda reuniões entre Granadeiro e Dirceu em Monsaraz e Nova Iorque
Luís Coutinho, ex-administrador da PT, afirmou aos investigadores da
Operação Marquês que José Sócrates se opunha à OPA da Sonae – ao
contrário do que este ainda recentemente afirmou. E revelou que, após
ter votado a favor dessa OPA, contrariando a posição governamental, foi
chamado pelo ministro Mário Lino, que o repreendeu pela posição adotada.
Esta questão voltou recentemente a ser objeto de polémica depois de
Paulo Azevedo, líder da Sonae, ter dito que «estavam todos feitos» para
chumbar a OPA.
.
Sócrates respondeu a Azevedo num artigo do DN, afirmando que «o
Governo da altura assumiu uma posição de estrita imparcialidade, nem
contra nem a favor da OPA». E adiantou que quem fez pressão junto do
Governo foi o presidente da Sonae, solicitando-lhe que revisse a sua
posição e desse instruções à Caixa para apoiar a OPA. «Respondi-lhe que o
Governo não o faria e que se manteria fiel à sua conduta inicial de
estrita neutralidade», escreveu Sócrates.
Mas em declarações aos investigadores, o então administrador da PT Luís Coutinho refuta por completo essa versão.
Administrador fora convidado pelo Governo
Tendo sido convidado para administrador não executivo da empresa em
2006, pelo próprio ministro das Obras Públicas, Transportes e
Comunicações, Mário Lino, Coutinho esclareceu que votara a favor da OPA
por sua iniciativa, pois apesar de nomeado pelo Estado era um
administrador independente. Mas essa posição de ‘rebeldia’ seria
verberada pelo ministro, depois da Assembleia Geral em que a operação
foi chumbada por 46,6% contra 43,9%.
Coutinho afirmou que os restantes administradores votaram contra a
OPA por receio de perderem os seus lugares e também por obediência aos
acionistas que representavam, em particular o BES, que tinha dois
membros no CA: Joaquim Góis e Amílcar Morais Pires.
E recordou o reforço prévio da posição de alguns acionistas, como a
Ongoing, que meteu na administração da PT os seus principais elementos:
Nuno Vasconcelos e Rafael Mora. Este grupo, sustenta o MP, terá sido
aliás financiado por Ricardo Salgado com o objetivo de reforçar a sua
presença no capital da PT.
Vara teve contribuição decisiva
Para o chumbo da OPA foi ainda decisivo o voto da Caixa Geral de
Depósitos, detentor de 5,11% do capital. O representante da CGD foi
Armando Vara, que o MP suspeita ter recebido um milhão de euros de
‘luvas’.
Luís Coutinho diz, no entanto, que o chumbo aconteceria de uma
maneira ou doutra, pois o Governo recorreria à golden share para
reprovar a venda.
O Ministério Público suspeita que Sócrates também recebeu ‘luvas’ do
saco azul do BES para se opor à OPA – facto que abriu caminho ao ‘uso’
posterior da PT num conjunto ruinoso de negócios em que acabou
destruída. Destes negócios terão beneficiado, segundo a investigação,
vários indivíduos em Portugal e no Brasil, designadamente o próprio
Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Lula da
Silva e José Dirceu.
Na sequência do chumbo da OPA – informou ainda Luís Coutinho –, foram
deliberadas pela administração da PT medidas de compensação dos
acionistas, como a distribuição de um dividendo extraordinário (o que
satisfazia a necessidade de liquidez do BES, então já a atravessar uma
grave crise) e a separação da PT Multimedia, operação que, tal como a
primeira, também gerou ganhos vultuosos aos detentores do capital da
operadora.
A OPA seria ainda contrária aos interesses do BES por outra razão:
por estar em cima da mesa o projeto de criação de um grande grupo
lusófono de comunicações – onde se iria diluir a posição do banco
liderado por Ricardo Salgado, que perderia influência na gestão.
Reunião entre Granadeiro e Dirceu na herdade de Monsaraz
No seu depoimento aos investigadores, Luís Coutinho revela que, meio
ano depois da OPA frustrada de 2007, Henrique Granadeiro e José Dirceu
encontraram-se na herdade que o português possui próximo de Reguengos de
Monsaraz, tendo estado presente também o advogado Abrantes Serra – que
servia de intermediário a José Dirceu, antigo chefe da Casa Civil de
Lula da Silva (entretanto condenado no seu país por tráfico de
influências e enriquecimento ilícito).
Note-se que o escritório de Abrantes Serra esteve envolvido, com
Henrique Granadeiro, no esquema de faturas forjadas que serviram para o
BES pagar ‘luvas’ a Dirceu, que atingiram 217.875 euros. Dirceu e
Granadeiro voltariam a encontrar-se em Nova Iorque para falar dos
negócios brasileiros, reunião em que também participou Luís Coutinho
(que já tinha estado presente na anterior).
* O que se descobriria se toda a gente falasse.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário