O pensamento de
Fernando Pessoa aplicado
à gestão das PME
Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre o apoio às PME
nacionais. Seja através de anúncios prospetivos de medidas
governamentais, seja nos anúncios frequentes a novas linhas de crédito
comunicadas pela banca nacional, as PME estão, definitivamente, na
agenda.
Não há como negar a importância destas organizações, que representam
97% do nosso tecido empresarial e empregam 41% da população ativa. São,
sem rodeios, o suporte da economia nacional!
Por outro lado, quase diariamente vemos notícias de PME que abrem
falência e, as que felizmente não estão insolventes, lamentam-se dos
mesmos problemas que tinham no início da crise, antes de sermos
socorridos. A título de exemplo, em 2014, foram declaradas 11.785
insolvências judiciais de empresas, para além das 31.392 dissoluções.
Podem-se culpar as restrições à concessão de crédito ou as medidas de
austeridade, sendo que ambas, infelizmente, trabalham em equipa para
desgastar a resistência do nosso tecido empresarial. Contudo, há ainda
outra questão que deve ser considerada quando se analisam os atuais
obstáculos ao crescimento da economia nacional: quantas PME estão a
deixar escapar ou subaproveitar todas as oportunidades existentes na
nossa legislação, em mercados internacionais ou no acesso ao
financiamento? Há programas de financiamento aos quais as empresas podem
candidatar-se e ver os respetivos projetos financiados e, dessa forma,
ganharem pernas para andar. Esta questão é mais difícil de quantificar e
de assumir, pois é endógena, está dentro das empresas, não é imposta
por um ambiente que, como vimos, é por si só ainda adverso.
Todas as semanas surgem ideias novas, planos de negócio equacionados,
timings definidos e targets identificados – todos os dias estes novos
empresários procuram soluções e evitam focar-se exclusivamente nos
problemas.
Neste contexto, um relatório da Associação Empresarial de Portugal –
AEP, constata que é comum faltarem soft skills à direção das PME
portuguesas: domínio de técnicas de marketing e negociação, segmentação e
divulgação por targets, gestão estratégica e contabilidade, são alguns
exemplos das principais competências em falta. Ou seja, há algo que se
torna evidente: ao contexto difícil da atual conjuntura económica e
financeira, dever-se-ia acrescentar mais preparação técnica e
especializada, por forma tornar os gestores das nossas PME verdadeiros
especialistas.
Para ilustrar esta infeliz associação, o mesmo relatório da AEP
conclui que, quer a quantidade, quer a qualidade da informação de
crédito fornecida, são fatores determinantes da disponibilidade de
crédito. O mesmo se pode dizer em relação à perceção das oportunidades
de negócio no mercado externo. Ou seja, apesar do mercado estar
complicado, continuam a existir oportunidades por explorar, o que
significa que o céu não está assim tão negro!
Não faço referência aos sinais ténues de uma recuperação económica que o
Banco Central Europeu já indicou não serem suficientes para “emancipar”
Portugal. Refiro-me aos mercados internacionais, especialmente os
emergentes, que vão ganhando o gosto pela “Marca Portugal”. Por outro
lado, considero os diferentes fundos nacionais e internacionais que, ou
são desconhecidos ou considerados inatingíveis. Para não falar do
momento, que se afigura crítico, para mudar ou definir uma imagem e uma
estratégia de marketing que, frequentemente falta às nossas PME.
Há bons exemplos de pequenos negócios em Portugal que estão a
crescer, a encontrar mercados novos e a conseguir financiamento. A
questão mais pertinente é saber o que têm estas empresas que as outras,
(as que abrem falência, por exemplo) não têm. Da minha parte, pelo
conhecimento que tenho desta realidade, a resposta é simples: falta
terem uma visão ampla e que contemple a definição e implementação de
estratégias de gestão financeira e de marketing, o desenvolvimento das
capacidades de negociação, bem como a capacidade de conseguirem
aproveitar os vários programas de financiamento, nacionais e europeus,
que fazem a diferença na capacidade de sobrevivência e crescimento de
qualquer negócio.
No final do dia, como dizia Fernando Pessoa, é mesmo tudo uma questão de
visão e não de dimensão. Esperemos que as nossas PME adquiram a
especialização e conhecimento necessários para corresponderem ao que o
país espera (e precisa!) delas.
Diretora Geral da Ediprisma – Soluções de Gestão Assistida para PME
IN "OJE"
13/05/15
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