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"JORNAL DE NEGÓCIOS"
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Passos quer reconduzir governador
. elogiado por banqueiros e atacado
. elogiado por banqueiros e atacado
pela comissão de inquérito
Os principais banqueiros elogiam. Outros optam
pelo silêncio. O PCP arrasa. A comissão de inquérito ao BES criticou.
Marques Mendes já disse que o primeiro-ministro quer Carlos Costa no
poder. Passos Coelho não se compromete. Apenas elogia.
Carlos Costa vai ser reconduzido como
governador do Banco de Portugal? Ainda não há decisão mas as notícias
começam a surgir. Na sexta-feira, Pedro Passos Coelho
deu uma entrevista elogiosa para o governador mas adiantou não haver
decisão. Sábado, o comentador Luís Marques Mendes afirmou que o
primeiro-ministro quer a recondução no Banco de Portugal. "Passos Coelho admite manter Carlos Costa", escreveu esta terça-feira o Diário de Notícias.
O gabinete do líder do Executivo não faz comentários. Remete para a
entrevista concedida ao Sol na sexta-feira. À pergunta sobre se o
Governo vai reconduzir Costa, Passos Coelho respondeu à publicação que a
decisão "não esta[va] tomada". "Já vi notícias de que o Governo tinha
decidido não reconduzir o governador, e que havia já uma lista com
vários nomes. Essa lista não existe. Ainda não falei com a ministra das
Finanças sobre essa matéria, mas ela sabe que eu tenho uma visão muito
positiva do mandato do actual governador, que não foi escolhido por nós,
mas pelo anterior Governo, mas que nem por isso deixou de fazer um bom
mandato". Isso mesmo foi repetido pelo gabinete de imprensa de Passos ao
Negócios.
"Não há razão para que Carlos Costa seja substituído", declarou
Marques Mendes, no habitual comentário da SIC, sábado passado. "Uma
bofetada de luva branca aos deputados da maioria" e um "recado à
ministra das Finanças", acrescentou. Não foi possível obter uma reacção
do Ministério das Finanças.
E porquê essa "bofetada"? Querendo manter o actual governador, cujo
mandato termina em Junho, o líder do Executivo vai escolher uma
personalidade criticada nas conclusões do relatório final da comissão
parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, da autoria do
deputado social-democrata Pedro Saraiva, e que mereceu a aprovação dos
dois partidos da maioria e do PS.
Partidos não falam, PCP contra
Uma decisão do primeiro-ministro relativamente ao governador acontece numa altura em que ainda não entrou em vigor a lei
elaborada pelos socialistas, aprovada pelo PSD e pelo CDS, para que a
nomeação do líder do regulador do sector financeiro seja alvo de uma
audição na comissão de orçamento e finanças, do Parlamento, que fará um
relatório (não vinculativo) a dirigir ao conselho de ministros sobre o
nome proposto pelo Ministério das Finanças.
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Aliás, sem nenhuma confirmação oficial de que Carlos Costa é o nome a
propor para continuar à frente dos destinos do Banco de Portugal, os
partidos não querem comentar ainda o que são ainda rumores. O gabinete
do vice-primeiro-ministro Paulo Portas,
também líder do CDS, não comentou. A única força política que se
mostrou disponível para fazer declarações foi o Partido Comunista
Português.
"Como é que se pode reconduzir um dos protagonistas de um colapso
monumental?", questiona Miguel Tiago, referindo-se explicitamente à
derrocada do Banco Espírito Santo. "Verificámos que o Banco de Portugal
não conhece absolutamente nada do que se passa no sistema financeiro",
adiantou.
Embora sublinhe que Carlos Costa não é o único responsável pelo
colapso do banco, Miguel Tiago considera que a manutenção no cargo é uma
"mensagem muito estranha para os portugueses", dado que "cedeu a
pressões" e "não actuou quando era necessário actuar". O deputado
comunista sublinha, no entanto, que não é a mudança do governador que
vai resolver o problema da supervisão – o de os supervisores estarem
"capturados" pelos bancos.
E o que diz a banca?
Em Abril e Maio, realizaram-se as conferências de imprensa de
apresentação de resultados dos bancos relativos aos primeiros três meses
do ano e o tema da recondução de Carlos Costa foi sempre um assunto em
discussão.
"O balanço que fazemos da actividade do governador é positivo", comentou António Vieira Monteiro, presidente do Santander Totta. Antes dele, já Fernando Ulrich e Nuno Amado tinham feito comentários.
"Não vejo porque é que o governador do Banco de Portugal tem de mudar", afirmou Ulrich. "Parece-me uma opção muito válida a renovação do mandato do governador do Banco de Portugal".
"Fazendo uma análise objectiva sobre uma série de dossiês importantes
para o sistema financeiro e bancário e para o país, pode ser
perfeitamente argumentável que a melhor solução [para liderar o Banco de
Portugal] é de continuidade, de quem tem experiência, de quem está a
tratar desses dossiês. Tem um conhecimento maior das matérias do que
quem venha de fora. É difícil de replicar por alguém que venha de
fora".
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O líder do BCP,
Nuno Amado, considera que o caso BES não pode ser motivo para afastar
Carlos Costa. "Creio que, por estes últimos meses, não se está a dar a
devida atenção e valor ao que foi feito. Não era nada óbvio nem fácil
percorrer o caminho. Seguramente fez coisas menos bem mas globalmente
deu um contributo muito importante ao sector financeiro".
O único banqueiro que não elogiou foi António Tomás Correia,
presidente do Montepio Geral. "Relativamente à continuidade, não é
assunto que comente em público. Não faço balanço sobre actuações",
adiantou. "Não comento actuações do Banco de Portugal", disse o líder da
caixa económica.
Contactado, o gabinete de comunicação do Banco de Portugal não
esclareceu se Carlos Costa está disponível para um segundo mandato.
* Nem outra coisa seria de esperar da parte dos banqueiros, há sempre a hipótese de se cometer um "deslize" e lá estará o sr. governador para deitar água na fervura. Já confiámos nele, mas a confiança pertence ao jurássico.
Excertos do relatório da Comissão Parlamentar de inquérito:
"À luz daquilo que viria a suceder, o Banco de Portugal terá
porventura actuado tardiamente no que toca à introdução de alterações
significativas, efectivamente implementadas no terreno, naquilo que diz
respeito ao funcionamento do BES e do GES, nomeadamente no que se refere
à liderança, modelos de governação adoptados, segregação de funções ou
redução da exposição do BES, e seus clientes de retalho, ao GES".
"A intervenção do Banco de Portugal revelou-se porventura tardia,
nomeadamente quando à eliminação das fontes de potenciais conflitos de
interesse, e pouco eficaz ao nível da determinação e garantia de
cumprimento das medidas de blindagem impostas ao BES".
"A monitorização, fiscalização e controlo desta conta dedicada
(escrow), cuja constituição o Banco de Portugal ordenou, apresentou
portanto várias fragilidades, tanto por parte do BES como na eficácia do
seu acompanhamento por parte do Banco de Portugal".
"O Banco de Portugal teve conhecimento da existência de aparentes
distorções relevantes nas contas da ESI em Novembro de 2013,
comunicando-as à CMVM só em finais de Março e Abril de 2014"
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Pedro Saraiva
Relatório final da comissão de inquérito à gestão do BES e do GES
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