ESTA SEMANA NA
"SEMANA INFORMÁTICA"
"SEMANA INFORMÁTICA"
Segurança levará as empresas
a mudar para a cloud
A Point.io está a procurar
clientes em Portugal em parceria com a portuguesa Be-Flux. O CEO da
empresa especialista em BPM e API, Ron Rock, acredita que no futuro o
ambiente cloud será o mais seguro.
A Point.io é uma startup tecnológica norte-americana fundada por Ronald R. Rock, que integra uma equipa de profissionais experientes em business process management (BPM). A empresa tem dois anos e chega agora a Portugal através de uma parceria firmada com a tecnológica nacional Be-Flux.
Em conjunto, as duas empresas vão explorar oportunidades na economia das API (Application Programming Interface) em Portugal e em países de língua oficial portuguesa.
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A primeira ronda de reuniões com prospects decorreu durante o mês de Novembro, altura em que o Semana teve ocasião de entrevistar o responsável norte-americano.
Conhecido por Ron Rock, o empreendedor acumula mais de 25 anos de
experiência profissional repartidos entre grandes organizações e a
criação de empresas. Descreve-se como um «pensador» que tem a
«capacidade de ligar os pontos antes mesmo de outros se aperceberem que
existem pontos para relacionar», como descreve na sua apresentação no Linkedin.
Entre as startups criadas por Ron Rock destaca-se a Knowledge Rules, consultora especializada em BPM, que liderou durante mais de sete anos, até ter sido adquirida pela Accenture em 2010.
A criação da Point.io resulta do alinhamento entre a experiência
profissional da equipa, muitos provenientes originalmente da Knowledge
Rules, e a identificação da necessidade de ajudar as empresas a migrar
os seus sistemas para a cloud e para o mobile, através de BPM. A Point.io opera no espaço da economia das API, com soluções de API as a Service (AaaS) ou mobile Backend as a Service (mBaaS), entre outras.
Ron Rock explica que o paradigma dos sistemas de informação está a
mudar nas empresas. Se, nos últimos 30 anos, as «empresas blindaram a
informação, construíram firewalls, eram donas dos mainframe, da cablagem e dos ecrãs, nos quais se via a informação», actualmente, «a cablagem foi substituída pelo wireless
e cada colaborador transporta o seu próprio dispositivo para o
trabalho. Os utilizadores acedem à informação a partir do dispositivo
que receberam no Natal».
Este é um grande desafio para os CIO (chief information officer) e para as empresas. É necessário «cumprir requisitos de complicance, de segurança, entre outros», num ambiente cada vez mais heterogéneo, com novos fornecedores a surgir diariamente no espaço cloud/mobile
e a disponibilizar serviços e soluções diversificados. Esta nova
realidade, que se acentuou nos últimos cinco anos, pode ser «muito
confusa para as empresas e clientes».
E a Point.io pode esclarecer as empresas e apresentar soluções para
tirar partido dos sistemas de informação antigos, sejam eles quais
forem, orquestrando-os através do BPM e tirando partido da economia das
API para que qualquer pessoa possa aceder a qualquer informação a partir
de qualquer dispositivo actual.
Economia das API e a segurança na cloud
A economia das API são core expertise da Point.io e da Be-flux. As API são o standard através das quais «qualquer coisa pode comunicar com qualquer coisa», explica Ron. «Os mainframe,
os sistemas de CRM ou de ERP não foram desenhados com API, por isso a
Point.io, através de API ajuda as organizações a tirar partido de todos
os sistemas recorrendo ao valor acrescentado que pode representar o
BPM.»
Além disso, Ron Rock perspectiva o futuro. «Hoje tendemos a pensar no mobile como smartphone ou tablet. Mas o que fazer quando todo os colaboradores aparecerem com Google Glasses ou Apple iWatchs? Ou quando for comum um browser integrado no tablier
do automóvel, ou quando o frigorífico for inteligente?» O consumo de
conteúdos está a mudar e para fazer face a esta mudança radical em curso
as empresas têm de ter uma estratégia. «Com a nossa plataforma não será
necessário reescrever as aplicações de raiz, tudo é publicado via API e
simplesmente se faz a ponte entre o dispositivo e a aplicação
subjacente. Toda a segurança, compliance ou conectividade se mantém.»
A segurança tem sido apontada como a principal razão pela qual as grandes empresas dizem não pretender mudar para a cloud. «No entanto, por mais dinheiro que gastem individualmente em segurança, nunca será suficiente», sublinha RonRock.
Neste sentido, o especialista prevê que, no futuro, a segurança se vai
tornar na principal razão pela qual as empresas irão migrar para a cloud.
Imagine-se que cada banco norte-americano gasta entre 150 e 200 milhões
e dólares em segurança, não seria mais eficiente e eficaz reunir todos
esses recursos num investimento conjunto? Sairia eventualmente mais
barato do que cada empresa estar a gastar determinado montante em
segurança, sendo que o sistema seria no todo maior e melhor do que a
soma de múltiplos sistemas diferentes. «Até porque a segurança é um
investimento contínuo, diário, todos os meses, para sempre», defende.
O caminho a percorrer é longo «até que as poupanças de custos inerentes à mudança para a cloud se tornem apelativas. Mas, se há dois anos alguns clientes diziam que não iriam mudar nada para a cloud, hoje, começam a mudar um ou outro sistema». Para já são sistemas não core
e com níveis de segurança menos exigentes, mas será uma «questão de
tempo até que decidam que encontraram um sítio para colocar também os
dados, mesmo os mais críticos para o negócio».
E esta mudança é realizada com o recurso à economia das API. «Podemos construir uma app que pode estar ligada a quaisquer sistemas onde quer que estejam alojados (na cloud ou atrás da firewall), mediante a layer de orquestração e interfaces API. O user interface será independente da app. E uma mesma app poderá ser suportada em óculos, relógios, mesas de café ou qualquer outro dispositivo. «É um work in progress», conclui.
Be-Flux simplifica cadeia de valor
A Be-Flux – Process Improvement, consultoraespecializada na melhoria de processos, está a apresentar-se ao mercado. A startup
foi criada há cerca de seis meses, opera a partir de Portugal, mas já
conta com operações na Europa. A Be-Flux reúne um conjunto de
profissionais com experiência em BPM que optaram «por fazer as coisas de
uma forma diferente na área dos serviços de TI, operando essencialmente
em projectos que passam pela integração de software», explica Filipe Rato, managing partner
da empresa. «Quisemos simplificar e tornar-nos um veículo de inovação
para disponibilizar o valor de TI às empresas», num mundo complexo, com
as tecnologias sempre a mudar, em particular agora, com o mobile, a Internet of Thing (IoT) ou a cloud.
Na senda da melhoria dos processos, e com o objectivo de adicionar valor, «procurámos soluções inovadoras e encontrámos a Point.io e a sua oferta».
A Be-Flux, que representa a oferta Point.io, dedica-se especialmente
às indústrias de telecomunicações e serviços financeiros, em Portugal,
nos países de língua oficial portuguesa, com destaque para Angola, e já
tem prospects na Europa.
A cloud transformará as TI numa commodity
A Point.io está a investir «a maioria das receitas obtidas bem como os 5,5 milhões de euros angariados junto de uma rede de business angels nos EUA» em Investigação e Desenvolvimento (I&D), explica Ron Rock. «Gastamos muito mais em I&D do que em marketing e vendas. Neste momento o nosso objectivo é desenvolver a plataforma e a tecnologia.»
A plataforma, explica Ron, pode ser utilizada por empresas de
qualquer sector: banca, seguros, telecomunicações, saúde, entre outros.
Sobre o futuro do sector, Ron Rock concebe um mundo em que as TI serão uma da commodities.
E num breve retorno ao passado recorda: «Em 1900, quando se construía
uma fábrica era necessário construir também as instalações de produção
de energia. E gastava-se muito dinheiro a construir geradores de
energia, antes sequer de terminar a construção da fábrica. Uso essa
analogia quando penso em todas as empresas que investiram em
departamentos de TI. Porque é que um fabricante de vestuário para
mulher, de automóveis ou um banco precisam de um departamento de TI?
Penso que os nossos filhos vão olhar para trás e rir-se».
E assevera: «Estamos no início da jornada, mas a cloud vai
tornar o processamento informático em algo tão ubíquo como a energia
eléctrica, em que basta ligar à tomada e já está. As empresas vão mudar a
forma de fazer negócio, de pensar em gestão de informação, vão reduzir o
investimento em TI e aumentar o investimento no core business.
Esta mudança terá um impacto profundo quer no trabalho das pessoas,
quer nas implicações financeiras a montante. Com mais dinheiro
disponível, as empresas terão mais lucro ou investirão mais em I&D,
acelerando a inovação.
Expansão internacional
A Point.io conta actualmente com «meia dúzia de clientes nos EUA, incluindo duas empresas que integram a lista Fortune 500». A partir daqui «vamos apostar na expansão internacional». A operação europeia é liderada por Charles Paumelle, em Londres, e a empresa está a procurar parceiros estratégicos noutros países. Em Portugal é a Be-Flux, de Filipe Rato, que jámediou a apresentação das soluções e a estratégia da Point.io a alguns prospects que operam especialmente no sector das telecomunicações. O acolhimento «foi bom», assinalou Ron Rock.
A estratégia apresentada é gradual: «Não nos propomos a passar toda a infra-estrutura, aplicações e dados do cliente para a cloud
de um dia para o outro», frisa Ron Rock. «Propomos uma migração gradual
que nas grandes empresas se pode prolongar por cinco a sete anos»,
explica. O empreendedor defende que é uma alternativa «única».
As grandes empresas têm a generalidade dos sistemas nas suas
instalações e, desde modo, poderão reaproveitar os sistemas, defende.
«Hoje em dia, a maior parte dos fornecedores está a construir produtos
exclusivamente para a Net ou exclusivamente para o mobile», a solução da Point.io permite aproveitar o que os clientes têm inhouse, optimizando o processo de mudança.
Para além das telecomunicações, a banca e os seguros são sectores onde existe maior pressão a nível de auditorias, compliance e segurança e é onde a Point.io irá concentrar os seus esforços.
Sendo ainda cedo para antecipar projecções de negócio, tanto Ron Rock
como Filipe Rato estão optimistas. «É prematuro definir a dimensão das
oportunidades. O que sei é que todas as PSI-20 portuguesas precisam da
ajuda que estamos a disponibilizar», explica o managing partner da Be-Flux.
A lição de Ron Rock
Desde meados da década de 80 do século passado, Ron Rock, CEO da Point.io, criou seis startups, entre elas a Knowledge Rules,
uma empresa que operava na área do BPM e que incluía entre os seus
clientes empresas dos sectores financeiro, saúde, entre outros nos EUA.
Foi posteriormente adquirida pela Accenture.
A maioria dos negócios iniciados por Ron Rock foi «um sucesso ou correu bem». No entanto, uma das startups foi
um «desastre absoluto». «Lembro-me diariamente desse desastre absoluto e
digo muitas vezes que sei bastante sobre o que não se deve fazer!» «A
maior lição que tirei foi que nada é mais importante do que ter clientes
e receitas», sublinha. Por mais dedicação que se tenha, é muito fácil
gastar todo o tempo e dinheiro a trabalhar (working) arduamente, sem fazer o nosso trabalho (job)». Ron Rock deixa um alerta à navegação: «Estes dois conceitos são facilmente confundidos».
E explica: «De nada vale arranjar dinheiro e desenvolver tecnologia
cada vez melhor, se não se tiver clientes. Clientes que compram e que
dizem o que pretendem comprar no futuro. Neste contexto, todo o trabalho
é desperdiçado». Ron assinala ainda que vê muitas vezes empresas a
gastar rios de dinheiro em espaço de escritório, infra-estruturas ou websites –
sem dúvida fundamentais a seu tempo –, mas que só podem ser
privilegiados depois de ter clientes a pagar. Caso contrário a excelente
ideia pode ficar pelo caminho.
«A magia das startups é ter uma visão do futuro, mas
descobrir um produto táctico que os clientes estejam dispostos a pagar
hoje, assegurando o futuro do negócio», frisa.
* Não estamos tão eufóricos quanto à segurança na "cloud" como o sr. Ron Rock, aliás quanto à segurança na Web somos dos mais pessimistas.
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