ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
Escom gastou dois milhões
só para ocultar dinheiro
Luís Horta e Costa admite que operação serviu para esconder prémios pagos nos submarinos e contornar o fisco. "Hoje não faríamos isso".
A Escom gastou 2,1 milhões de euros só para constituir e
gerir um fundo secreto nas Bahamas com o objetivo de esconder o destino
final do dinheiro que o German Submarine Consortium (GSC) pagou pelos
serviços de consultoria prestados por aquela empresa do Grupo Espírito
Santo. "Quisemos dificultar o acesso a essa informação e esperar por uma
oportunidade para regularizarmos os impostos com melhores condições
fiscais", admite Luís Horta e Costa, administrador da Escom. "Além
disso, achámos que seria complicado que se viesse a saber que houve uma
distribuição de bónus à família Espírito Santo", acrescenta. "O momento
no país era diferente. Se fosse hoje não faríamos isso."
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MALABARISTA |
Ao todo, a Ferrostaal, uma das empresas do GSC, pagou
27 milhões à Escom pelo sucesso no negócio de venda de dois submarinos
ao Estado português em 2004. Dos 27 milhões de euros recebidos pela
Escom, cinco milhões tiveram como beneficiários finais os membros do
conselho superior do Grupo Espírito Santo (GES), incluindo Ricardo
Salgado, enquanto 16 milhões foram parar às mãos de três administradores
e de um consultor da Escom, Miguel Horta e Costa, irmão de Luís Horta e
Costa. Ou seja, 21 milhões foram convertidos em prémios. Até agora, no
entanto, não era ainda do conhecimento público o que tinha acontecido
com seis milhões de euros - o resto dos 27 milhões de euros transferidos
pela Ferrostaal.
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O rasto do dinheiro da Escom esteve no epicentro da
investigação que o Departamento Central de Investigação e Ação Penal
(DCIAP) desenvolveu durante os últimos oito anos, relacionada com
suspeitas de que teria havido corrupção no negócio dos submarinos. Esta
semana, a procuradora Josefina Escolástica e o procurador Júlio Braga
deram o caso por encerrado, concluindo pela não existência de indícios
de que tenham sido pagas 'luvas' a "decisores políticos" em troca de uma
vitória dos alemães no concurso público internacional lançado pelo
Estado português para a aquisição dos submarinos.
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Um milhão em juros para receberem mais cedo
De acordo com Luís Horta e Costa, além dos 2,1 milhões gastos com a criação do fundo nas Bahamas, houve ainda 940 mil euros de custos financeiros por causa de dois empréstimos contraídos pela Escom junto do BES Cayman para permitir que os prémios dos gestores da empresa e da família Espírito Santo fossem recebidos antecipadamente, logo em outubro de 2004, dias depois de o contrato dos submarinos com o Estado português ter entrado em vigor.
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De acordo com Luís Horta e Costa, além dos 2,1 milhões gastos com a criação do fundo nas Bahamas, houve ainda 940 mil euros de custos financeiros por causa de dois empréstimos contraídos pela Escom junto do BES Cayman para permitir que os prémios dos gestores da empresa e da família Espírito Santo fossem recebidos antecipadamente, logo em outubro de 2004, dias depois de o contrato dos submarinos com o Estado português ter entrado em vigor.
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O fundo constituído nas Bahamas, o Feltree Investment
Fund, foi criado através de uma empresa especializada no Brasil. A Escom
transferiu um total de 19 milhões de euros para uma conta titulada por
esse fundo no POBT Bank and Trust nas Bahamas. Desses 19 milhões, 13
foram para os administradores e para o consultor da Escom. Além disso,
foi usada uma sociedade do Grupo Espírito Santo nas Ilhas Virgens
Britânicas, a Afrexport, para onde foram 8,25 milhões de euros. Daí,
cinco milhões seguiram para contas da família Espírito Santo no KBL
Swiss Private Bank, em Genebra, e três milhões ficaram para os homens da
Escom.
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Ainda segundo Luís Horta e Costa, a Escom teve depois
outros gastos associados ao negócio dos submarinos. Pagou 750 mil euros
ao escritório de advogados Vieira de Almeida, por serviços jurídicos;
621 mil euros ao BES Investimento, por aconselhamento financeiro; 500
mil euros à Inteli, por consultoria técnica. E teve de suportar uma
sucursal no Reino Unido, criada e mantida de propósito para aquele
negócio, que custou 340 mil dólares, incluindo os salários e a
residência de um representante.
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Houve, por último, 360 mil euros gastos em Portugal com
despesas de viagem e uma avença mensal de cinco mil euros paga ao longo
de vários anos a Miguel Horta e Costa, o homem que geriu o dossiê dos
submarinos com os alemães desde o início. E que receberia depois quatro
milhões de euros de prémio, tal como os três administradores da Escom.
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Confrontado com as declarações de Ricardo Salgado
feitas numa reunião do Conselho Superior do GES em dezembro do ano
passado - e cujas gravações foram tornadas públicas -, em que o
banqueiro se refere a uma "parte que tem de ser entregue a alguém em
determinado dia", Horta e Costa diz: "O dr. Ricardo Salgado sabia
perfeitamente que o dinheiro era para o meu irmão. A questão é que ele
achava que não lhe devíamos dar dinheiro nenhum, apesar de ter sido o
Miguel Horta e Costa a trazer o negócio para a Escom."
* E ninguém vai preso!
* E ninguém vai preso!
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