14/01/2014

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HOJE NO
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Rico, egoísta e pouco solidário
 são dados "preocupantes" de 
estudo sobre literacia social

"O sistema educativo esqueceu-se de que o individuo não é só trabalho, é a relação com os outros, com a família. Não podemos educar apenas bons técnicos. Arriscamo-nos a ter ladrões competentes", diz Xavier de Carvalho

Os portugueses com mais habilitações e mais dinheiro são também os menos solidários, revela um estudo sobre literacia social, a ser divulgado na quinta-feira e cujos dados são "preocupantes" no entender do autor. 

"São resultados preocupantes, a própria comunidade científica e académica que acompanhou o estudo manifestou essa preocupação. Há uma correlação negativa entre pessoas com elevados rendimentos e a preocupação para com a solidariedade", disse à Lusa o autor do trabalho, Lourenço Xavier de Carvalho.
O estudo, realizado com o apoio da União Europeia, da Universidade Católica e do Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano, é apresentado numa conferência internacional sobre literacia social, na quinta-feira, no Palácio de Mafra. 

Nele se conclui, nomeadamente, que "os que mais têm materialmente são os menos disponíveis, quer para ajudar os outros, quer para lutar por uma causa justa", o que cria "um problema estrutural de democracia", porque "os que mais instrução têm são os mais propensos a ocupar lugares de liderança". 

Xavier de Carvalho é claro: "É assustador de alguma maneira". E diz a seguir: "É um alerta para se tomarem medidas". 


Em resumo, conclui o trabalho do académico que a sociedade é mais tolerante mas mais individualista, que a família é vista numa ótica restrita, que as pessoas se acomodam ao seu bem-estar crescente e têm dificuldades em partilhar riqueza, benefícios e privilégios, e que os jovens são educados apenas para serem ativos e competentes. 

"O sistema educativo esqueceu-se de que o individuo não é só trabalho, é a relação com os outros, com a família. Não podemos educar apenas bons técnicos. Arriscamo-nos a ter ladrões competentes", diz Xavier de Carvalho. 

O responsável aponta o dedo ao sistema de ensino, excessivamente técnico nas últimas décadas, esquecendo "competências humanas e éticas que têm de ser promovidas ao longo da vida".
E que resulta disso, segundo o estudo? Menos de 60 por cento dos portugueses com estudos superiores considera importante lutar por uma causa justa. 

O que é estranho, admite o autor, é que nos principais objetivos de vida os portugueses escolhem a família, a felicidade, o amor, a honra, e só depois a competência profissional. "As pessoas querem uma coisa para a vida e estamos a deformá-las para outras".
E são felizes? Os mais infelizes, segundo o inquérito, são os que ganham menos de 500 euros e os que ganham mais de 4500, o que leva o responsável a dizer que se os que são mais ricos (e logo menos solidários) partilhassem com os mais pobres "eram todos mais felizes". 


O debate sobre este tema, segundo Xavier de Carvalho a primeira vez estudado em profundidade, junta investigadores e peritos europeus, entre os quais a princesa Laurentien, da Holanda, enviada especial da UNESCO em literacia para o desenvolvimento. 

Lourenço Xavier de Carvalho diz ter a perceção de que, no resto da Europa, os resultados não seriam muito diferentes perante inquéritos idênticos, porque é uma questão de "cultura ocidental".
E aponta de novo as escolas, que têm de criar "espaços de formação humana". 

O pensador Agostinho da Silva escreveu que a escola esquece a importância da formação do caráter e Xavier de Carvalho cita-o para dizer: "Quem vai à escola desaprende de ser gente". 

* Arriscamo-nos a ter ladrões competentes? Isaltino, Oliveira, Loureiro, Lima, Arlindo, Rendeiro e tantos outros são incompetentes? Isso é ofensivo!

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