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HOJE NO
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Rico, egoísta e pouco solidário
são dados "preocupantes" de
estudo sobre literacia social
"O sistema educativo esqueceu-se de que o individuo não é só trabalho, é a relação com os outros, com a família. Não podemos educar apenas bons técnicos. Arriscamo-nos a ter ladrões competentes", diz Xavier de Carvalho
Os portugueses com mais habilitações e mais dinheiro são também os
menos solidários, revela um estudo sobre literacia social, a ser
divulgado na quinta-feira e cujos dados são "preocupantes" no entender
do autor.
"São resultados preocupantes, a própria comunidade científica e
académica que acompanhou o estudo manifestou essa preocupação. Há uma
correlação negativa entre pessoas com elevados rendimentos e a
preocupação para com a solidariedade", disse à Lusa o autor do trabalho,
Lourenço Xavier de Carvalho.
O estudo, realizado com o apoio da União Europeia, da Universidade
Católica e do Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano, é
apresentado numa conferência internacional sobre literacia social, na
quinta-feira, no Palácio de Mafra.
Nele se conclui, nomeadamente, que "os que mais têm materialmente são
os menos disponíveis, quer para ajudar os outros, quer para lutar por
uma causa justa", o que cria "um problema estrutural de democracia",
porque "os que mais instrução têm são os mais propensos a ocupar lugares
de liderança".
Xavier de Carvalho é claro: "É assustador de alguma maneira". E diz a seguir: "É um alerta para se tomarem medidas".
Em resumo, conclui o trabalho do académico que a sociedade é mais
tolerante mas mais individualista, que a família é vista numa ótica
restrita, que as pessoas se acomodam ao seu bem-estar crescente e têm
dificuldades em partilhar riqueza, benefícios e privilégios, e que os
jovens são educados apenas para serem ativos e competentes.
"O sistema educativo esqueceu-se de que o individuo não é só
trabalho, é a relação com os outros, com a família. Não podemos educar
apenas bons técnicos. Arriscamo-nos a ter ladrões competentes", diz
Xavier de Carvalho.
O responsável aponta o dedo ao sistema de ensino, excessivamente
técnico nas últimas décadas, esquecendo "competências humanas e éticas
que têm de ser promovidas ao longo da vida".
E que resulta disso, segundo o estudo? Menos de 60 por cento dos
portugueses com estudos superiores considera importante lutar por uma
causa justa.
O que é estranho, admite o autor, é que nos principais objetivos de
vida os portugueses escolhem a família, a felicidade, o amor, a honra, e
só depois a competência profissional. "As pessoas querem uma coisa para
a vida e estamos a deformá-las para outras".
E são felizes? Os mais infelizes, segundo o inquérito, são os que
ganham menos de 500 euros e os que ganham mais de 4500, o que leva o
responsável a dizer que se os que são mais ricos (e logo menos
solidários) partilhassem com os mais pobres "eram todos mais felizes".
O debate sobre este tema, segundo Xavier de Carvalho a primeira vez
estudado em profundidade, junta investigadores e peritos europeus, entre
os quais a princesa Laurentien, da Holanda, enviada especial da UNESCO
em literacia para o desenvolvimento.
Lourenço Xavier de Carvalho diz ter a perceção de que, no resto da
Europa, os resultados não seriam muito diferentes perante inquéritos
idênticos, porque é uma questão de "cultura ocidental".
E aponta de novo as escolas, que têm de criar "espaços de formação humana".
O pensador Agostinho da Silva escreveu que a escola esquece a
importância da formação do caráter e Xavier de Carvalho cita-o para
dizer: "Quem vai à escola desaprende de ser gente".
* Arriscamo-nos a ter ladrões competentes? Isaltino, Oliveira, Loureiro, Lima, Arlindo, Rendeiro e tantos outros são incompetentes? Isso é ofensivo!
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