CDS de Portas,
um limão espremido
O
CDS esteve quase morto, no início dos anos 90, e foi Paulo Portas que o
ressuscitou. Sob a liderança de Adriano Moreira, o partido ficou
reduzido àquilo que ficou popularizado pelo “partido do táxi” – eram só
quatro deputados eleitos, o próprio Adriano Moreira, Nogueira de Brito,
um deputado em regime rotativo eleito por Aveiro e Narana Coissoró,
líder parlamentar. Na realidade, só existia na frente política Narana
Coissoró – estava habitualmente sozinho a enfrentar o governo cavaquista
e a esquerda. Os restantes tinham funções diminutas no combate
político. Com a demissão de Adriano Moreira na sequência da derrota
clamorosa, Freitas do Amaral é reeleito presidente do partido. Mas aqui a
famosa frase de Cesare Pavese – “Nada é mais inabitável do que o lugar
onde se foi feliz” – revelou-se adequadamente trágica. Surgem,
entretanto, Manuel Monteiro e “O Independente” de Paulo Portas, com uma
agenda poderosa, populista, popular, eurocéptica e que se revelou
decisiva para ressuscitar o partidofundador do regime democrático do
estado de coma eleitoral em que o tinham deixado os fundadores.
Portas ajudou a criar Manuel Monteiro, embora Monteiro tivesse “vida
própria” e não se reduzisse a um mero fantoche do director de “O
Independente”. Mas não dispunha da sua argúcia e capacidade de
sobrevivência quase imbatível entre os políticos portugueses no activo.
Portas sobreviveu a vários escândalos, a vários desaires políticos – mas
como sobreviverá à traição de todo o seu programa eleitoral sobre o
qual fundou a sua liderança? O segmento dos pensionistas, idosos,
pessoal das feiras, etc. já não pode voltar a pôr o voto no “Paulinho
das feiras” transmutado no Portas das Laranjeiras. A explicação sobre o
que aconteceu em Julho não existiu – talvez nem pudesse existir – mas a
sua formulação em congresso, com o recurso à expressão “o que tem que
ser tem muita força” não poderia ter sido mais infeliz. Se hoje existe
governo, é porque Pedro Passos Coelho recusou a demissão de Paulo
Portas, coisa em que, de facto, na altura ninguém acreditava. E este
gesto de Passos Coelho teve mais apoio dentro do CDS do que a demissão
“irrevogável” de Portas. O cargo de vice-primeiro-ministro e o de
interlocutor com a troika cola Paulo Portas a Passos Coelho para o resto
da legislatura, com evidentes prejuízos para o primeiro. É natural que o
próprio Portas já admita que a sua sucessão está na rua. As feiras e a
lavoura vão ter outros visitantes do CDS. E, ao que parece, são muitos
os disponíveis.
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13/01/14
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