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IN "EXAME"
19/01/20
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É urgente adaptar o sistema
de ensino básico e secundário
Não precisamos de ir muito longe para encontrarmos um dos melhores exemplos a seguir no que toca a educação.
Ao longo de todos estes anos, várias têm sido as reflexões que
tenho feito relativamente ao Sistema de Ensino Básico, nomeadamente,
em Portugal. Estas reflexões surgem não só por ser professor
(embora universitário), mas também pelas mais diversas preocupações
(quase constantes) que tenho sobre como Portugal conseguirá cumprir
a sua promessa e alcançar a sua meta (não declarada) de
convergência com a média dos países da União Europeia em termos
de riqueza por capita.
As
inúmeras visitas internacionais, aos mais diferentes países, a que
geralmente o meu trabalho me leva, têm-me proporcionado uma visão
global bastante interessante, mas, ao mesmo tempo, preocupante
(quando penso em Portugal).
A
velocidade a que o mundo está a mudar, nomeadamente ao nível dos
avanços tecnológicos, está a ficar cada vez mais próxima da
velocidade da luz. E basta pensarmos que, há cerca de 30 anos, os
computadores mais avançados (na altura, domésticos) tinham uma
capacidade cerca de 4 200 vezes inferior à que hoje um simples
telemóvel suporta. Aliás, o telemóvel que temos hoje no bolso, é
mais poderoso do que o computador da NASA que levou Apollo 11 à Lua.
Todos estes avanços tecnológicos estão a provocar uma mudança
drástica na sociedade e, para que não fiquemos pelo caminho, temos de
nos moldar e adaptar a todas estas alterações. É imperioso que a
educação se adeqúe às necessidades da sociedade. E é aqui que urge a
preocupação de que vos falei no início desta reflexão. A adaptação do
sistema de ensino básico e secundário é urgente e imprescindível (…sobre
o ensino superior terá de ficar para outra altura). Neste momento, em
Portugal, este ensino está a afastar-se cada vez mais das necessidades
dos seus destinatários. Os pais sentem a necessidade de colocar os
filhos em actividades extracurriculares que lhes assegurem outras
competências que consideram essenciais, tais como informática, desporto,
música, dança, entre outras, e que a escola não assegura. A
versatilidade é um dos valores mais importantes e valorizados (passo a
redundância), não só no desenvolvimento pessoal, como também no campo
profissional.
Não
precisamos de ir muito longe para encontrarmos um dos melhores
exemplos a seguir no que toca a educação. Basta olharmos para cima
(sim, no mapa também). A Finlândia é um dos melhores países do
mundo em relação à qualidade do sistema educativo, classificado
como o melhor da Europa.
Um
sistema centrado nas crianças, onde as escolas estão abertas ao
mundo. Mundo este que está a mudar e o conhecimento está em todo o
lado.
Há
diferenças demais evidentes entre os sistemas português e
finlandês. Falando um pouco sobre o sistema de ensino finlandês (o
português nem preciso falar porque infelizmente conhecemo-lo
demasiado bem), este distingue-se por estar centrado nas crianças:
as escolas não têm gradeamentos ou portões, as turmas são
pequenas para permitir o ensino individualizado, os trabalhos de casa
escasseiam, não há exames nem listas de melhores escolas, os
telemóveis são permitidos na sala de aula, há cruzamento de
disciplinas e o ensino é totalmente gratuito. Acima de tudo, a
escola é aberta ao mundo e às novas formas de aprender. Este
cenário é bem diferente do que aquele em que vivemos. Bate de
frente com os extensos programas que os professores não conseguem
cumprir, com as horas a fio dos alunos sentados numa cadeira a
acumular matéria, com a pressão dos exames, com as turmas de 30
alunos e com os trabalhos de casa de duas horas. O foco reside mais
na quantidade do que na qualidade.
Mas,
entre todas estas diferenças, a que mais me preocupa é a
desvirtuação que existe cada vez mais entre o ensino e o mundo
real. Um dos temas a que me tenho dedicado muito ultimamente é
também um dos que considero essenciais a serem leccionados num
futuro bem próximo nas escolas (e desde bem cedo). A Inteligência
Artificial. Não há dúvidas de que esta irá, num curto espaço de
tempo (se não o fez já), ultrapassar a Inteligência Humana. E
temos de estar preparados para isso. Outra das matérias que
considero fundamental num programa actual é Programação/Código. É
imperioso dotar as nossas crianças das capacidades que se adequam
àquilo que é a nossa realidade.
Mas
não é só ao nível do ensino básico e secundário que o ensino
português requer alterações. O ensino superior, embora com maior
especificidade e orientado para determinada área, quando essa área
se relaciona com tecnologia (que hoje em dia são quase todas!), tem
de estar preparado para fazer o acompanhamento destes saltos
tecnológicos que temos estado a falar. O que acontece hoje não faz
sentido: o que aprendemos no primeiro ano de universidade, no
terceiro já foi ultrapassado.
Qualquer
mudança leva tempo a ser implementada e, quando falamos em sistemas
educativos e tudo o que isso envolve, esse tempo não é nada curto.
Contudo, penso que já existe a consciência de que é imperioso
mudar. Consciência e vontade. O primeiro passo está dado. Mas, pela
frente, ainda há um longo caminho a percorrer. E nunca se esqueçam:
a velocidade da luz é bem superior à do vento.
IN "EXAME"
19/01/20
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