valer a nossa geração?
Esta geração vive com a barriga cheia de uma grande ilusão. De
que é a geração mais informada, mais qualificada, mais viajada. É pura
ilusão porque em nada se concretiza e materializa.
Da derrota devastadora, mas não admitida do PSD, à
desilusão do CDS, da vitória que não é vitória do PS, à ascensão dos
animaizinhos do PAN ao Parlamento Europeu, bem a crónica podia
continuar, mas aquilo que mais nos devia deixar perplexos são os números
assustadores da abstenção.
Não creio que alguém se possa sentir verdadeiramente vitorioso depois
de umas eleições onde se bateram os recordes da abstenção. Quase 70% do
eleitorado achou que o assunto não interessava, achou que havia coisas
mais importantes que fazer, que a praia é maravilhosa e que não podia
esperar, quase 70% do eleitorado julgou que a Europa se decidia sozinha.
Estes
números já deixaram de ser um simples alerta há muito tempo, porque
destes números retiramos uma sociedade desinteressada,
desresponsabilizada e, também, profundamente, desacreditada. Porque a
política que se continua a fazer não mobiliza, não dá segurança, não
concretiza o futuro. Porque estamos completamente desligados daquilo que
nos diz a todos – e sem excepção – respeito.
Podem-se arranjar
todas e mais desculpas, mas nenhuma me consegue afastar da ideia e da
revolta de estar diante de gerações que pura e simplesmente não querem
saber. Admito, contudo, que a geração que mais me revolta é a dos
jovens. Precisamente por ser a minha e por ser a que me deveria
representar. Mas não. É a minha, mas não me representa. Sei,
seguramente, que haverá tantos outros jovens que, tal como eu, se veem
perdidos nesta geração que tinha tudo para fazer e criar melhor.
As
razões são muitas, as culpas são de muitos, a classe política nacional
envergonha-nos, o futuro não nos é seguro. Mas será que temos
consciência do quanto isto nos diz respeito? Será que nos apercebemos
que ao assistirmos impávidos e serenos estamos a cooperar? E que sempre
que deixamos de ir às urnas estamos a permitir que alguém decida por
nós? Será que nos lembramos que houve quem lutasse imensamente pelo
direito ao voto e que agora abdicamos dele sem vergonha?
Esta
geração vive com a barriga cheia de uma grande ilusão. De que é a
geração mais informada, mais qualificada, mais viajada. É pura ilusão
porque em nada se concretiza e materializa. Esta geração, a minha, age
como se vivesse num mundo paralelo, como se o mundo a mais ninguém
pertencesse, como se nada lhe dissesse respeito. Esta geração vive a
ilusão daquilo que não é, daquilo que não faz, daquilo que não cria. É
duro, mas é real. Estamos só, continuamente, a alimentar uma frustração e
um vazio que pagará muitas contas no futuro.
Jovens portugueses,
para um problema como este só há uma resposta e ela pode ser
simplesmente o levantarmo-nos de vez, pormo-nos de pé diante dele.
Acabar com um problema começa por aceitar o problema, começa pela dureza
da desilusão e da frustração e nós temos nas mãos o grande começo de um
futuro melhor que a todos, a todos, diz respeito. As legislativas estão
próximas e elas carregam, também, o enorme desafio da abstenção. É
desta que fazemos valer a nossa geração?
Estudante, 22 anos
IN "OBSERVADOR"
17/06/19
.
Sem comentários:
Enviar um comentário