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HOJE NO
"OBSERVADOR"
Matilde, a bebé especial.
Donativos para comprar medicamento
de 2 milhões duplicaram num dia
Só num dia, a família da bebé de 2 meses que sofre de uma doença rara, a atrofia muscular espinhal, conseguiu juntar 228 mil euros em donativos. O remédio que lhe pode salvar a vida custa 2 milhões.
“Meus queridos, já atingimos os 394.833€,
caminhamos milhões de passos cada vez mais perto do sonho de ver a nossa
bebé correr, saltar, crescer saudável sem depender de máquinas para
viver. Num dia conseguimos cerca de 228.000€… vocês são
mesmo fantásticos.” Desta vez, a nota de agradecimento não é escrita
como se fosse pela voz da própria Matilde, a bebé de dois meses a quem
foi diagnosticada uma doença rara e que só pode ser salva pelo medicamento mais caro do mundo. Desta vez são os pais, Carla e Miguel Sande, a agradecer no Facebook os donativos que duplicaram num só dia.
Apesar disso, os 400 mil euros doados pelos portugueses ainda não
perfazem sequer um quarto do valor do medicamento, que só está aprovado
nos Estados Unidos.
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Matilde Sande, de dois meses de idade, e atualmente internada no Hospital de Santa Maria
depois de na quarta-feira ter sofrido complicações respiratórias, foi
diagnosticada com atrofia muscular espinhal (AME) do tipo 1, uma doença
rara que afeta 110 pessoas em Portugal, 80 das quais são crianças. O
tipo 1 é a forma mais grave da doença e causa perda de força, atrofia
muscular, paralisia progressiva e perda de capacidades motoras. Apesar
de afetar todos os músculos do corpo, a AME não diminui as capacidades
cognitivas.
Em Portugal, existe um medicamento para diminuir os sintomas da
doença, o Nusinersen, mas que oferece poucas probabilidades de a criança
andar ou ser fisicamente autónoma. A solução desejada está nos Estados
Unidos, chama-se Zolgensma, o medicamento mais caro do mundo,
e custa quase dois milhões de euros. Para além do problema do preço,
soma-se um outro: embora a FDA, a autoridade norte-americana do
medicamento, já tenha autorizado a sua utilização naquele país, na
Europa o seu uso ainda não foi consentido. Assim, os pais da Matilde
terão de deslocar-se para os EUA se quiserem tratar a bebé com este
medicamento. A viagem e a estadia irão fazer subir ainda mais as contas
do casal que tem outros dois filhos, de 18 meses e 11 anos.
Perante este cenário, o casal decidiu recorrer aos donativos dos portugueses. Criou uma página de Facebook intitulada “Matilde, uma bebé especial”
na qual, sempre pela voz da bebé de dois meses, conta toda a história
da família desde que a criança nasceu. E foi ali que partilhou o número
da conta solidária, aberta na Caixa Geral de Depósitos, em nome
de Matilde Sande: PT50 0035 0685 00008068 130 56.
Pelo caminho, será feito a Matilde o tratamento disponível em Portugal.
Evelyn, Laura e Malachi, todos tratados com Zolgensma
Nos Estados Unidos, um dos casos que foi bastante mediatizado depois
do tratamento com Zolgensma, medicamento da farmacêutica Novartis, foi o
de Evelyn Villarreal,
atualmente com 4 anos. Segundo os pais, apesar de sofrer alguma
fraqueza nas pernas, a criança tem hoje uma vida normal. Diagnosticada
quando tinha 8 semanas de vida, Evelyn era a segunda filha do casal com
AME. A sua irmã morreria aos 15 meses, na sequência da doença.
Apesar de ter coxas fracas e de não poder correr ou saltar normalmente, Evelyn consegue andar com passo rápido, dança, desenha letras,
mostrando ter desenvolvido a motricidade fina, e sobe para o colo da
mãe. Depois de terem perdido a irmã de Evelyn para a AME, foi com
surpresa que o casal assistiu ao desenvolvimento da filha que conseguia
primeiro gatinhar e, por fim, andar. “Um milagre. Cada nova meta era uma
celebração. Abríamos uma garrafa de vinho por cada nova pequena coisa
que ela conseguia fazer”, contava o pai, Milan Vilarreal, em 2017, à ScienceMag.
Também na imprensa brasileira
foi relatado já este ano o caso de Laura, diagnosticada aos 35 dias de
vida e que entrou num ensaio clínico norte-americano aos 5 meses. Tal
como Evelyn, por ser um ensaio, a família não teve de pagar pelo
medicamento, apenas pelas restantes despesas. Atualmente a criança não
revela sinais de AME.
Segundo a mãe, Estefânia, em declarações à
revista Veja, a bebé ainda não apresentou nenhum sintoma da doença e já é
capaz de ficar de bruços e aguentar o peso da cabeça. “Eu queria gritar
aos quatro cantos que a Laura está curada, mas ainda não tenho como
fazer isso, pois ela será monitorizada por um período. Mas eu, como mãe,
acho sim que ela está curada e não vai desenvolver a doença. Eu tenho
certeza disso”, afirmou.
O medicamento da Novartis terá sido usado para tratar 15 bebés com AME tipo 1—
exatamente o tipo de que Matilde sofre —, segundo um relatório
publicado no The New England Journal of Medicine, em 2017. Um desses
bebés, os primeiros a participar num ensaio clínico do Zolgensma, foi Malachi,
hoje prestes a completar quatro anos. Segundo a sua mãe, apesar de não
conseguir andar, Malachi está cada vez mais forte e tem força suficiente
para se impulsionar sozinho na sua cadeira de rodas, algo que seria
impensável para uma criança com a doença.
Depois de diagnosticada a
doença, aos três meses, os médicos deram-lhe no máximo 6 a 12 meses de
vida. Mas bastaram 24 horas, para ver os efeitos do medicamento: “Nas
primeiras 24 horas, vimos o Malchi a fazer mais movimentos de pernas do
que tinha feito até aí”, contou a mãe Tina, este mês à SMA News Today. “E, de repente, sem darmos por isso, já estava a sentar-se sozinho.”
O Zolgensma
é uma terapia de substituição do gene defeituoso que causa a AME e tem
vindo a demonstrar resultados positivos, embora ainda não seja possível
saber se os efeitos definitivos. As primeiras crianças tratadas com o
medicamento estão hoje à beira de completar cinco anos e nenhuma,
segundo a Novartis, mostra sinais de regressão. É a este conjunto de
famílias felizes que os pais de Matilde esperam poder juntar-se em
breve.
* Que esta menina seja a vitória da solidariedade.
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