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IN "EXAME INFORMÁTICA"
11/06/19
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Apple:
a roçar o insulto
Pode um suporte para monitor de 999 dólares ser uma metáfora perfeita para a atual estratégia da marca de Cupertino?
Longe vão
os tempos em que Steve Wozniak desenvolveu o Apple 1, considerado por
muitos o primeiro verdadeiro computador pessoal. Ao contrário de outros
sistemas concorrentes, ainda muito baseados em interruptores e luzes, ao
Apple 1 bastava adicionar um teclado e rato. Custava 666,66 dólares, um
número que terá sido escolhido por Wozniak conhecido por ter um sentido
de humor particular. Se fosse hoje, seria considerando um projeto de
makers, feito manualmente com recurso a materiais económicos. Uma grande
obra de engenharia que depois evoluiu para produtos comerciais muito
graças ao “toque de Midas” de Steve Jobs.
Esta
breve introdução histórica serve para demonstrar que a Apple nasceu
muito da ideia de democratizar o acesso à computação pessoal. É verdade
que, anos mais tarde, o primeiro Macintosh já foi vendido por cerca de
2500 dólares (mais de €5000 a valores atuais), mas mesmo esse preço era
perfeitamente aceitável para a altura quando considerado o fator
inovação que a máquina trazia – o primeiro computador pessoal “chave na
mão” com interface gráfica. Os produtos Apple tornaram-se caros? Sim,
sem dúvida, mas o custo acrescido era, regra geral, justificado pela
conjugação dos fatores inovação, tecnologia, funcionalidades e design.
Os clientes e utilizadores Apple pagavam mais, mas não se sentiam
enganados. De tal modo que estavam e ainda estão entre os clientes mais
fiéis do mercado.
Quase 43
anos depois do lançamento do Apple 1, temos um produto que é
completamente o oposto das ideias de democratização de Wozniak ou de
valor acrescentado de Jobs. Refiro-me, claro, ao suporte para os novos
monitores Pro Display XDR. Um suporte, sem qualquer elemento
tecnológico, com um preço anunciado, antes de impostos, de 999 dólares
(cerca de €900). Isto porque o monitor Pro Display XDR não inclui
qualquer suporte apesar de, na versão de topo, custar, antes de
impostos, 4999 dólares (cerca de 4400 euros). Sim, se quiser colocar
este monitor em cima da secretária terá de comprar o suporte ou, se
quiser usar um outro suporte mais em conta, comprar um adaptador VESA
com um custo aproximado, sem impostos, de €180. Para quem não sabe, este
adaptador é, essencialmente, um bocado de metal com furos. Sim, os Pro
Display XDR nem respeitam o standard VESA de origem para garantir que os
utilizadores terão de comprar o suporte ou o adaptador de preços
disparatados. E basta ver o vídeo da apresentação para perceber-se que,
quando estes acessórios foram anunciados, a Apple perdeu a audiência. Em
vez dos fortes aplausos que estamos habituados a ouvir após o anúncio
dos produtos ouviu-se o silêncio e alguns apupos. Isto num público muito
pró-Apple.
O
custo destes acessórios representa o cúmulo do que tem sido a nova
política da Apple: manter o crescimento da faturação (e lucro) à custa
do aumento médio dos preços para compensar a estagnação de vendas, uma
consequência da perda de inovação. Já se vinha a sentir isso com outros
produtos, com destaque para o iPhone, mas este simples suporte veio
tornar evidente a procura desmedida de lucros. Sabemos que os mercados
exigem crescimento, mas esta política pode transformar-se num “tiro que
sai pela culatra”.
IN "EXAME INFORMÁTICA"
11/06/19
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