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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
FMI:
Dívida mundial subiu 60% desde 2007
Corresponde a 182 vezes a Apple
Seria necessário 182 vezes o valor da capitalização bolsista da Apple para pagar toda a dívida mundial pública e privada. Desde 2007, um ano antes da queda do Lehman Brothers, o endividamento global aumentou 60%, estima o FMI. Lagarde deixa ainda alertas para o comércio e a desigualdade.
182.000.000.000.000 dólares. É este o valor da dívida pública e privada de todo o mundo, o qual equivale a 182 vezes a capitalização bolsista da Apple.
Esta é uma nova estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI)
revelada esta segunda-feira, dia 1 de Outubro, pela directora-geral,
Christine Lagarde, num discurso em antecipação das reuniões anuais entre
o FMI e o Banco Mundial que este ano se realizam em Bali (Indonésia) na
próxima semana.
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"A dívida global -
tanto pública como privada - alcançou um máximo histórico de 182 biliões
de dólares, quase 60% acima do nível de 2007", afirmou Lagarde,
assinalando que este fardo da dívida pode "amplificar pressões nos
mercados financeiros".
"Para
a maior parte dos países, conduzir o barco [da retoma económica]
significa criar mais espaço para agir quando a nova e inevitável
desaceleração chegar", destaca a directora-geral do FMI. E há um ponto
que, para o FMI, não deve ser esquecido neste processo: os Estados têm
activos públicos que podem ser utilizados para gerar receita na ordem
dos 3% do PIB por ano - o equivalente ao que as empresas entregam aos
Estados com economias avançadas.
As contas públicas são um dos
principais desafios que os Governos enfrentam actualmente: "Dez anos
depois da crise financeira mundial, estamos mais protegidos? A minha
resposta é 'sim'... mas não estamos suficientemente protegidos", disse
Lagarde. Um dos legados da crise é efectivamente o nível de
endividamento que deixou os Estados e as empresas "mais vulneráveis a um
aperto das condições financeiras".
Para as economias avançadas,
tal como é o caso de Portugal, a acção passa pela criação de espaço
orçamental através da redução do défice e a tendência descendente da
dívida pública, a mesma receita dada por Bruxelas. "Isto deve ser feito
de uma forma justa e amiga do crescimento, através de despesa mais
eficiente e assegurando que o fardo do ajustamento é partilhado por
todos", aconselha o Fundo.
Além disso, o FMI quer ver mais
avanços na regulação financeira e avisa que os Estados têm de resistir
em retirar as regras pós-crise, tal como deverá vir a acontecer nos
EUA de acordo com os planos da actual administração norte-americana.
O sol, as nuvens e a chuva
Há um ano, a directora-geral do Fundo dizia que o sol dominava o céu, mas era preciso construir um telhado melhor, uma metáfora utilizada também pela Comissão Europeia para
pedir aos Estados-membros que criem espaço orçamental para fazer face
uma nova crise. Mas o panorama mudou. Seis meses depois, a ex-ministra
das Finanças francesa já fazia referência a nuvens no horizonte. Agora, é
claro para o FMI que as nuvens estão para ficar e já caem algumas
pingas.
No discurso de hoje, Lagarde deixa antever que na
próxima actualização das previsões para o crescimento da economia
mundial haverá uma revisão em baixa. Porquê? A resposta está no assunto
mais badalado dos últimos meses: a guerra comercial desencadeada pelos
Estados Unidos. Apesar de não ver um "contágio financeiro generalizado"
para já, o FMI admite que as condições "podem mudar rapidamente" e que
"se as disputas comerciais actuais agravarem-se ainda mais, estas podem
provocar um choque".
Para o Fundo a solução passa por sentar os
países à mesa para trabalharem em conjunto num sistema mundial de
comércio que seja "mais forte, mais justo e apropriado ao futuro", em
vez de o destruir. O FMI fala de "regras inteligentes para o comércio
que assegurem que todos possam ganhar". Um estudo que virá a ser
publicado pelo Fundo estima, segundo Lagarde, que reduzir as taxas à
exportação/importação de serviços em 15% pode aumentar o PIB dos países
do G20 em 350 mil milhões de dólares este ano.
Desigualdade é uma prioridade
Além
do comércio e da recuperação económica, o outro pilar passa pela
confiança dos cidadãos nas instituições democráticas, principalmente ao
nível do combate das desigualdades. Apesar do número de pessoas em
pobreza extrema ter diminuído para menos de 10% - um mínimo histórico -,
as desigualdades aumentaram.
"Desde 1980, os 1% do topo [com
mais rendimentos] capturaram duas vezes mais os ganhos do crescimento
económico do que os 50% mais pobres", refere o FMI, o que "naturalmente"
leva os cidadãos a considerar que o sistema está manipulado. Assim,
durante a crise, "muitas economias avançadas viram a desigualdade de
rendimentos aumentar e o crescimento dos salários foi limitado". Essa
limitação ocorreu em parte por causa da tecnologia e da globalização,
mas também por causa das políticas que "favoreceram o capital em
detrimento do trabalho".
Como resolver este problema? O FMI
deixa algumas pistas: investir na educação, na saúde e nos sistemas de
protecção social. O investimento na educação deverá reduzir a
desigualdade de oportunidades e não deixar de parte a população atrasada
a nível tecnológico. Em teoria, com mais qualificações, os
trabalhadores poderão ter empregos de maior qualidade e, assim, receber
um salário melhor. Para evitar que as mulheres sejam mais penalizadas do
que os homens, é necessário que as políticas públicas tornem mais fácil
equilibrar o trabalho com a família, refere ainda o Fundo.
Mas
estas medidas só são eficazes com uma mudança na política fiscal.
"Sempre que possível, é necessário um sistema fiscal mais progressivo e
salários mínimos mais altos", admite o FMI. É preciso também assegurar
que o sistema seja eficaz junto das empresas multinacionais "de forma a
assegurar que todos paguem a sua quota parte". Um problema que ganha uma
dimensão considerável quando, segundo o FMI, uma estimativa
recente revelava que 40% dessas empresas transferem os seus lucros para
países com impostos baixos todos os anos.
* O problema é a economia selvagem global que permite a 1% da população controlar mais de 50% da riqueza do mundo.
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