Apple Music:
o gratuito é mau, o barato
é bom, inovação nem vê-la
Com o original nome de Apple Music, o primeiro serviço de
"streaming" da Apple vai chegar a 30 de Junho. São 9,99 euros por mês,
"streaming" e rádio online, acesso a todo o catálogo do iTunes,
disponível para iOS este mês e em outubro para Android.
Isto
significa que a marca está oficialmente no jogo que começou há sete
anos, mais coisa menos coisa, quando uns rapazes na Suécia criaram um
serviço de "streaming" de música chamado Spotify. Nessa altura, a loja
iTunes vendia canções que nem pãezinhos quentes e Steve Jobs nunca
deixaria dar cabo dessa mina de ouro por causa de experimentalismo.
Acontece que as vendas de música digital começaram finalmente a cair,
sem nunca terem compensado a queda na venda de CD; entre toda a
concorrência, desde Deezer a Rdio, Pandora, Play Music, Amazon Music e
que tais, o Spotify tornou-se o standard da indústria. É o mais
bem-sucedido, com 60 milhões de utilizadores em todo o mundo e 15
milhões dos quais pagantes, ou seja, metade do mercado - que totaliza
cerca de 30 milhões de consumidores a pagar por serviços "premium" de
música.
É neste mercado cheio de gente que a Apple vai vender o
seu peixe, e não está inteiramente garantido que cheire bem durante
muito tempo. Qual é a grande revolução do Apple Music? Nenhuma. É
verdade que oferece uma rádio com emissão ininterrupta, a Beats 1,
liderada por DJs conhecidos, entre os quais Zane Lowe. Também dá para
pôr os artistas em ligação com os consumidores (uma plataforma chamada
Connect), mas isso não é nada que não haja hoje. Os vários serviços de
streaming existentes no mercado são todos cópias uns dos outros, e o da
Apple é mais um.
A grande diferença para com o Spotify, que para
todos os efeitos é o alvo a abater, é que a Apple não oferece versão
gratuita. Este é, aliás, o grande debate da indústria. Ninguém, que se
saiba, absolutamente zero empresas, ganha dinheiro com streaming. O
Spotify então espalhou-se de tal ordem no ano passado que os prejuízos
quase triplicaram, para 162,3 milhões de euros. É o preço de crescer com
base numa versão gratuita disponível em qualquer aparelho, tentando
depois converter os utilizadores em pagantes. Pode-se argumentar que, a
seu tempo, o modelo vai vingar. Ou pode-se aventar que nenhuma indústria
consegue resistir tantos anos à procura do break-even.
Talvez a
pérola desta apresentação da Apple no Worldwide Partner Conference tenha
sido, na verdade, a versão familiar, que custará 14,99 euros para ser
partilhada por seis pessoas. Isso diminui consideravelmente o custo por
utilizador - dá qualquer coisa como 2,5 euros por mês - e vai ao
encontro dos rumores de que a Apple queria que as editoras lhe deixassem
lançar o serviço com um tecto mais baixo que os 9,99 euros standard.
Nenhum serviço tem um pacote familiar tão generoso, e agora é saber se
alguém vai seguir o exemplo para tentar ser mais competitivo, ou sequer
se a jogada da Apple dá resultado.
Ter os primeiros três meses
gratuitos também será importante para testar a adesão dos consumidores;
prejuízo não é coisa com que a Apple, que tem 150 mil milhões de dólares
em dinheiro no bolso, tenha de se preocupar.
A dúvida
fundamental é esta: enquanto houver streaming on demand gratuito, será
possível convencer um número suficiente de pessoas a pagar? Porque é que
alguém irá trocar o Spotify gratuito pelo Apple Music pago? Aquilo que a
Apple apresentou agora é simpático, mas não parece suficiente.
IN "DINHEIRO VIVO"
09/06/15
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