21/09/2014

SÍLVIA DE OLIVEIRA

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Bem-vindos a Portugal

Sempre que se fala de economias ricas e de (re)industrialização recuo aos anos da escola primária.

No final dos anos 70, apresentavam-nos um país onde a agricultura, a indústria e os serviços tinham, mais coisa menos coisa, o mesmo peso na economia. Ou seja, o setor primário ainda pesava mais de 30% e o setor terciário ainda só pesava cerca de 30%.

Estes dados só tinham, naquela sala de aula, um objetivo: mostrar como Portugal, em comparação com outros países muito mais desenvolvidos, ainda tinha muita gente a trabalhar no campo e nas fábricas e quase ninguém nos serviços, nos bancos ou no comércio. Por outras palavras, apresentavam-nos, a nós miúdos da escola primária, um triste fado, um país do passado, onde o peso da agricultura e da indústria mais não era do que um sinal de atraso, mas também um desafio, o da terciarização como única via para o desenvolvimento.

Hoje, 30 e tal anos depois, o vaticínio (infelizmente) confirma-se. Em 2010, a população empregada no setor primário já era inferior a 11%, era de mais de 60% no setor terciário e de apenas 27% no setor secundário.

Mas a desindustrialização e a supremacia dos serviços em relação à indústria surgia, há 30 anos, associada a uma evolução da economia portuguesa para níveis de desenvolvimento superiores, uma teoria que, verifica-se agora, não podia estar mais errada.

A crise económica pôs a nu as fragilidades do modelo de crescimento português, aliás, a atual crise económica foi o detonador do debate sobre a necessidade de reindustrializar o país, de devolver à indústria o papel de motor da economia e de gerador de emprego.

A política industrial voltou ao topo da agenda na Europa e agora, também em Portugal, o Governo aparece empenhado em ressuscitar das profundezas a indústria nacional.

Mas falar é fácil. Nos últimos 20 anos, com a adesão de Portugal à moeda única, o peso da indústria no PIB esfumou-se e só na última década perderam-se mais de 100 mil empregos. Uma situação que, no atual contexto, de descapitalização das empresas e de escassez de empresários, só tende a piorar. Esta é a verdadeira reforma que Portugal precisa. E um país não se reindustrializa em meia dúzia de anos.

IN "DINHEIRO VIVO"
20/09/14


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