A saturação
das intervenções
em Saúde
Para continuarmos a evoluir positivamente, há que desenhar e implementar novas formas de actuação
O relatório "A Tuberculose na Região de Saúde do Norte", divulgado
esta semana pela ARS da região, veio evidenciar que pela primeira vez
numa década, o número de novos casos de tuberculose aumentou em 2012 no
Norte do nosso país. Os autores do relatório, apesar de se mostrarem
prudentes na leitura das conclusões do documento, e através de uma
apreciação global dos diferentes indicadores de evolução da doença,
alertam para "um eventual agravamento da situação epidemiológica da
doença nos próximos anos". E realçam a necessidade de reforçar a
resposta dos serviços de saúde, garantindo também as condições para que
os doentes cumpram o tratamento até ao fim, uma vez que muitos dos casos
reportados em 2012 se trataram de reincidências.
Também esta semana soubemos que, apesar de Portugal continuar a ser
um dos países do mundo com taxas de mortalidade infantil e fetal mais
baixas, pelo segundo ano consecutivo estas taxas aumentaram.
Contrastando com a acentuada diminuição que se observava nas últimas
décadas, e para a qual muito contribuiu o médico Albino Aroso, que criou
a primeira consulta de planeamento familiar em Portugal, e que morreu
no final do ano de 2013.
Já no Relatório anual do Observatório Nacional da Diabetes -
"Diabetes: Factos e Números", e que apresenta dados relativos à Diabetes
no ano de 2012, pode-se observar um acréscimo, se bem que modesto,
tanto ao nível da duração média dos internamentos associados a
descompensação e complicações da Diabetes, como do número total de
amputações dos membros inferiores, contrariando também as tendências
registadas na última década.
Apontar a crise económica do país como a causa para estas inversões
nos indicadores de doença em Portugal pode parecer o suspeito mais
evidente. Mas, se atentarmos ao facto de que o acompanhamento e
terapêutica para a tuberculose são gratuitos para o doente, que o acesso
às consultas de planeamento familiar é também gratuito, e, que o
consumo em medicamentos para a Diabetes continuou a aumentar, quer em
termos de volume de embalagens vendidas quer de valor, mas que o doente
pagou menos pelos medicamentos que adquiriu... então a crise já não pode
aparecer como factor mais preponderante. Ou, pelo menos, não se pode
concluir que é o único factor.
Portugal evoluiu bastante favoravelmente em vários indicadores de
saúde nas últimas décadas, facto que pode ser justificado não só com
base na melhoria significativa das condições socioeconómicas da
população, mas também pelo aumento da capacidade de resposta do Serviço
Nacional de Saúde, particularmente ao nível do acesso ao profissional de
saúde e às tecnologias de saúde, como os exames de diagnóstico e os
medicamentos.
No entanto, torna-se evidente que a partir de determinado patamar,
proporcionar o acesso a estes recursos não é, por si só, suficiente. A
utilização que depois é feita dos mesmos pelo indivíduo é determinante
para a continuação da melhoria dos indicadores de resultado. E a taxa de
reincidências evidenciada no relatório sobre a Tuberculose é um exemplo
paradigmático da provável inadequada utilização dos medicamentos
utilizados para o seu tratamento. Assim como o são as taxas de
internamento reportadas no relatório da Diabetes.
Para continuarmos a evoluir positivamente, ao contrário do que
comummente fazemos - que é reforçar as estruturas já existentes - há que
desenhar e implementar novas formas de actuação. Envolver os agentes
privados de saúde nas estratégias e apostar na capacitação de uma
comunidade de cuidadores informais. Se continuarmos a fazer mais do
mesmo, sem introduzir inovação nos processos, não obteremos certamente
resultados diferentes. E muito menos melhores.
Farmacêutica.
IN "i"
09/01/14
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