12/01/2014

EMA PAULINO

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 A saturação 
das intervenções 
em Saúde

Para continuarmos a evoluir positivamente, há que desenhar e implementar novas formas de actuação

O relatório "A Tuberculose na Região de Saúde do Norte", divulgado esta semana pela ARS da região, veio evidenciar que pela primeira vez numa década, o número de novos casos de tuberculose aumentou em 2012 no Norte do nosso país. Os autores do relatório, apesar de se mostrarem prudentes na leitura das conclusões do documento, e através de uma apreciação global dos diferentes indicadores de evolução da doença, alertam para "um eventual agravamento da situação epidemiológica da doença nos próximos anos". E realçam a necessidade de reforçar a resposta dos serviços de saúde, garantindo também as condições para que os doentes cumpram o tratamento até ao fim, uma vez que muitos dos casos reportados em 2012 se trataram de reincidências.
Também esta semana soubemos que, apesar de Portugal continuar a ser um dos países do mundo com taxas de mortalidade infantil e fetal mais baixas, pelo segundo ano consecutivo estas taxas aumentaram. Contrastando com a acentuada diminuição que se observava nas últimas décadas, e para a qual muito contribuiu o médico Albino Aroso, que criou a primeira consulta de planeamento familiar em Portugal, e que morreu no final do ano de 2013.
Já no Relatório anual do Observatório Nacional da Diabetes - "Diabetes: Factos e Números", e que apresenta dados relativos à Diabetes no ano de 2012, pode-se observar um acréscimo, se bem que modesto, tanto ao nível da duração média dos internamentos associados a descompensação e complicações da Diabetes, como do número total de amputações dos membros inferiores, contrariando também as tendências registadas na última década.
Apontar a crise económica do país como a causa para estas inversões nos indicadores de doença em Portugal pode parecer o suspeito mais evidente. Mas, se atentarmos ao facto de que o acompanhamento e terapêutica para a tuberculose são gratuitos para o doente, que o acesso às consultas de planeamento familiar é também gratuito, e, que o consumo em medicamentos para a Diabetes continuou a aumentar, quer em termos de volume de embalagens vendidas quer de valor, mas que o doente pagou menos pelos medicamentos que adquiriu... então a crise já não pode aparecer como factor mais preponderante. Ou, pelo menos, não se pode concluir que é o único factor.
Portugal evoluiu bastante favoravelmente em vários indicadores de saúde nas últimas décadas, facto que pode ser justificado não só com base na melhoria significativa das condições socioeconómicas da população, mas também pelo aumento da capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde, particularmente ao nível do acesso ao profissional de saúde e às tecnologias de saúde, como os exames de diagnóstico e os medicamentos.
No entanto, torna-se evidente que a partir de determinado patamar, proporcionar o acesso a estes recursos não é, por si só, suficiente. A utilização que depois é feita dos mesmos pelo indivíduo é determinante para a continuação da melhoria dos indicadores de resultado. E a taxa de reincidências evidenciada no relatório sobre a Tuberculose é um exemplo paradigmático da provável inadequada utilização dos medicamentos utilizados para o seu tratamento. Assim como o são as taxas de internamento reportadas no relatório da Diabetes.
Para continuarmos a evoluir positivamente, ao contrário do que comummente fazemos - que é reforçar as estruturas já existentes - há que desenhar e implementar novas formas de actuação. Envolver os agentes privados de saúde nas estratégias e apostar na capacitação de uma comunidade de cuidadores informais. Se continuarmos a fazer mais do mesmo, sem introduzir inovação nos processos, não obteremos certamente resultados diferentes. E muito menos melhores. 

Farmacêutica.

IN "i"
09/01/14

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