HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"
Procurador da República
defende escutas a jornalistas
Auditores da Procuradoria-Geral da República propõem escutas e "suspensão preventiva da actividade" dos jornalistas.
Os relatores da auditoria ao segredo de justiça
encomendado pela Procuradora-Geral da República (PGR), Joana Marques
Vidal, defendem nas suas recomendações que se possam fazer escutas
telefónicas e buscas domiciliárias aos locais de trabalho dos
jornalistas. Marques Vidal, porém, diz ter "algumas reservas quanto à
utilização desses meios de prova."
No
relatório de 106 páginas, que tem a direcção da PGR e como principal
auditor o procurador da república e inspetor do Ministério Público, João
Rato, propõe-se ainda "um sistema de punição dos órgãos de comunicação
social e jornalistas independentemente das fontes" a que recorrem, "com
multas de montantes verdadeiramente dissuasores" a par da possibilidade
de "apreensão do publicado e suspensão preventiva da actividade".
A
PGR, Joana Marques Vidal, afirma que não concorda com alguns dos pontos
e que este é apenas o início de um debate que tem de ser feito antes de
se poderem propor algumas alterações legislativas: "Há propostas com as
quais temos de ser muito cuidadosos, a título de exemplo, a
possibilidade de utilizar meios de prova invasivos, como a utilização de
escutas, a referenciação dos meios de comunicação, a possibilidade de a
lei prever a utilização desse tipo de meios de prova na investigação do
crime de violação do segredo de justiça".
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83 INQUÉRITOS POR VIOLAÇÃO DE SEGREDO DE JUSTIÇA
Nos
anos de 2011 e 2012 foram instaurados 83 inquéritos por violação do
segredo de justiça, num universo de 6696 casos abrangidos pelo segredo,
em que foram movimentados mais de 1,3 milhões de processos.
Segundo
o inspetor do Ministério Público João Rato, os 83 inquéritos criminais
instaurados por violação do segredo de justiça representam cerca de um
por cento dos processos (6.696) que estiveram sujeitos ao segredo
durante aquele período (2011-2012). Apenas seis foram contra
jornalistas.
Quanto
ao resultado dos inquéritos criminais abertos por violação do segredo
de justiça, a auditoria revela que 49 foram arquivados e em nove foi
deduzida acusação. Os restantes 25 inquéritos continuam em investigação.
A
auditoria concluiu ainda que os "momentos críticos" dos processos
sujeitos ao segredo de justiça e em que há fuga de informação são as
buscas (15 casos), interrogatório judicial (nove), comunicados de
imprensa (seis) e escutas (cinco). Contudo, "outros momentos" (40) não
determinados estão à frente nesta lista.
Quanto
à tipologia dos crimes que estiveram sujeitos ao segredo de justiça, o
tráfico de estupefacientes (475 casos) lidera a tabela, seguido de abuso
sexual de crianças (189) e violência doméstica (102). A corrupção (com
51 casos) aparece em sétimo lugar da lista.
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SJ CONTRA AGRAVAMENTO DE PUNIÇÕES A JORNALISTAS
O
Sindicato dos Jornalistas (SJ) considerou que a auditoria da
Procuradoria-Geral da República que propõe um agravamento das punições
dos jornalistas por violação do segredo de justiça, nomeadamente buscas e
escutas telefónicas, revela "uma fúria punitiva" contra a comunicação
social.
A auditoria divulgada, esta sexta-feira,
pela Procuradoria-Geral da República (PGR) propõe um extenso rol de
propostas preventivas, como a adoção de um "sistema de punição" dos
órgãos de comunicação social e jornalistas que violem o segredo de
justiça, independentemente das fontes, assim como um "verdadeiro sistema
de autorregulação da atividade jornalística".
Em
declarações à Lusa, o presidente do SJ, Alfredo Maia, considera que a
auditoria coloca um "enfoque excessivo" sobre os jornalistas,
sublinhando que apenas 0,13% dos processos abrangidos pelo segredo de
justiça (6.696) conduziram à dedução de acusação contra pessoas e que se
desconhece o desfecho destes nove processos.
"Não
é desvalorizar aquele dado, mas ele não é estatisticamente relevante
para justificar o que me parece constituir uma fúria punitiva contra
jornalistas e órgãos de comunicação social. Não ignoro que o problema
existe, mas não justifica constituir o agravamento das punições, porque a
lei já prevê mecanismos" para tal, sustentou Alfredo Maia.
Sobre
o agravamento das punições a jornalistas por violação do segredo de
justiça, o sindicalista considera as propostas apresentadas como
"desproporcionadas e sem justificação".
"Tenho
muito medo das más medidas que são apresentadas como 'boas
justificações'. Parece-me que há um enfoque excessivo sobre jornalistas e
a comunicação social, lançando-lhes um anátema que pode ser perigoso",
alertou Alfredo Maia, manifestando a sua "oposição a uma fuga para a
frente".
O presidente do SJ manifestou ainda o seu
orgulho nos seis jornalistas a quem foi deduzida acusação pelo facto de
nunca terem revelado as suas fontes. "Orgulha-nos muito porque
significa que enfrentam o risco natural da profissão, de enfrentar os
tribunais, mas não revelaram as suas fontes", sublinhou.
O
SJ "vai estudar o documento da auditoria e emitir uma opinião
aprofundada e adequada" para ser entregue à procuradora-geral da
República, Joana Marques Vidal, e se necessário ao Governo e aos grupos
parlamentares.
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MINISTRA REJEITA PROPOSTAS QUE AFETEM A LIBERDADE DE IMPRENSA
A
ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, rejeitou as propostas
legislativas que afetem a liberdade de imprensa, em referência ao estudo
apresentado, esta sexta-feira, na Procuradoria-Geral da República, que
aponta medidas preventivas da violação do segredo de justiça.
A
governante disse que "o Ministério da Justiça não vai patrocinar
qualquer proposta legislativa que coloque em causa a liberdade de
imprensa, essencial num Estado democrático".
* Custa-nos acreditar que haja senhores procuradores que promovam este tipo de censura, estaremos a regressar ao Estado Novo. Os jornalistas têm um código de ética que são obrigados a respeitar, agora nuvens de censura não.
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