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Que tempo novo vem aí?
Vai-se desenhando um novo tempo carregado de velharias e armadilhas.
Só
uma forte politização da crise, um debate político que evidencie as
contradições, injustiças e irracionalidades do regime socioeconómico em
que vivemos pode descobrir formas de travar os descalabros e o
sofrimento que se desenham no horizonte, e gerar lastro para mudanças
positivas. O susto "simétrico" produzido pela pandemia no seu início já é
passado. Muitas juras de solidariedade são esquecidas e apresentam-se
de volta o egoísmo e o utilitarismo.
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É
preciso remar contra a maré que está a encher. A última semana confirma
que não podemos ficar à espera de solidariedade da União Europeia (UE).
Dali não se perspetiva mais que uma montanha de crédito (aumento da
dívida), acompanhado de algumas subvenções para disfarçar, na certeza de
que tudo pagaremos com língua de palmo. A hegemonia do euroliberalismo,
assumida pelas maiores forças políticas e económicas nacionais,
impõe-nos o seguidismo face aos poderes dominantes na UE e o perigoso
adiamento da preparação do país para os desastres europeus que pairam no
ar. Este fechamento favorece o avanço das forças ultraconservadoras e
fascistas que agora procuram engordar cavalgando aspetos dolorosos da
crise. Esta evidência, todavia, não afasta o velho vício de alcunhar de
antieuropeísta quem afirma ser preciso pensar em novas soluções.
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A
profundidade dos bloqueios do país na sua matriz de desenvolvimento, no
perfil da economia, nas insuficiências do Estado para assegurar os
direitos fundamentais às pessoas, no desequilíbrio das relações laborais
em desfavor dos trabalhadores, na falta de coesão territorial, na
rutura de solidariedades e nas desigualdades, estão muito para além dos
rombos provocados pela pandemia: são estruturais. Mas quando se ensaia a
retoma da atividade ressurge em força a defesa de velhas políticas
geradoras desses bloqueios.
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Com a
agressividade típica de quem se fecha por falta de razão, o velho
centrão de interesses ressurge em força, e os seus porta-vozes tentam o
espezinhamento intelectual e político de quem busca alternativas. Quem
questiona a entrega de mais 850 milhões de euros ao Novo Banco antes de
uma informação clara é chamado de irresponsável, de colocar o povo a
odiar a Banca. O que o povo detesta é a corrupção, os roubos feitos a
partir da gestão e de resoluções desastrosas, a sacralidade dos
compromissos com a Banca em detrimento dos cidadãos. Ora, quando não há
respostas claras fica exposto um enorme campo de manipulação para
oportunistas.
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Perspetiva-se o
enfraquecimento dos compromissos para consolidar o SNS, o sistema de
ensino, a proteção dos mais pobres e dos trabalhadores. A grande
prioridade colocada ao Estado e ao Orçamento do Estado pelo centrão é
salvaguardar os direitos de propriedade e consolidar a coletivização dos
prejuízos. O Estado ter posições decisivas em setores estratégicos da
economia, nem pensar. Até o primeiro-ministro é criticado se diz que
meter dinheiro na TAP deve ter como contrapartida o Estado ficar com
poder decisivo na empresa. A CIP reclama um fundo público para salvar
empresas, mas acrescenta logo que o Estado não pode meter o nariz na
gestão.
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Dos defensores desta conceção de regime socioeconómico não se espera nada de novo.
* Investigador e professor universitário
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