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HOJE NO
"OBSERVADOR"
"OBSERVADOR"
Ex-cardeal destituído por abuso de menores deu milhares de um fundo
da igreja a clérigos poderosos
Cardeal Theodore McCarrick, destituído pelo Vaticano por alegações de abusos sexuais, passou cheques de 600 mil dólares a clérigos poderosos. Dinheiro era de fundo da igreja. Irmã de Trump era doadora
Theodore McCarrick, o ex-cardeal norte-americano que este ano foi
destituído pelo Vaticano depois de uma investigação interna ter provado
que era culpado de abuso sexual de menores, deu centenas de milhares de
dólares em dinheiro da igreja a clérigos poderosos. Estas operações
realizadas ao longo de quase duas décadas foram reveladas através dos
registos financeiros obtidos por uma investigação do The Washinton Post.
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O "PADRINHO" |
Desde 2001, McCarrick enviou cheques cujo valor total ronda os 600
mil dólares (cerca de 540 mil euros), dinheiro entregue a clérigos em
Roma, e não só, incluindo burocratas do Vaticano, conselheiros papais e
até dois papas, João Paulo II e Bento XVI. Quase 200 cheques foram
enviados para clérigos, incluindo mais de 60 arcebispos e cardeais.
Vários
nomes entre os mais de 100 destinatários destes cheques estavam
envolvidos em avaliar as acusações de conduta inapropriada feitas contra
o agora ex-cardeal. A investigação ordenada pelo próprio Vaticano em
outubro do ano passado declarou-o culpado de ter abusado sexualmente de
menores.
Os cheques em questão provinham de uma conta pouco conhecida
associada à arquidiocese de Washington, onde o ex-cardeal começou a
trabalhar enquanto arcebispo em 2001. Este fundo permitiu a McCarrick
arrecadar dinheiro de doadores e usá-lo sem grande supervisão, de acordo
com antigos funcionários consultados sob anonimato pelo jornal. Em
comunicado, a Arquidiocese de Washington assegurou que McCarrick tinha
controlo absoluto sobre o fundo que estava isento de impostos.
Os fundos da conta vieram de doações enviadas pessoalmente a McCarrick para encaminhar à sua escolha”, disse a arquidiocese. “Durante o mandato em Washington, McCarrick fez contribuições para muitas organizações de caridade e religiosas e para membros da liderança da Igreja”, lê-se no comunicado enviado ao The Washington Post.
McCarrick enviou 90 mil dólares ao Papa João Paulo II entre 2001 e 2005,
sendo que o Papa Bento XVI recebeu outros 291 mil dólares quase de uma
só vez, dado o cheque no valor de 250 mil dólares enviado em maio de
2005, um mês antes de ser eleito para suceder a João Paulo II.
Representantes dos antigos papas em funções recusaram comentar ou
declararam não ter informação sobre os cheques, e um ex-secretário
pessoal de João Paulo II disse que as doações feitas eram encaminhadas
para o Cardeal Secretário de Estado, do departamento que mais de perto
auxilia o Sumo Pontífice. Outra hipótese é que essas doações tenham sido
direcionadas para instituições de caridade papal.
McCarrick subiu
aos níveis mais altos da igreja nos Estados Unidos da América e aí
permaneceu, mesmo depois de queixas de má conduta terem chegado aos
ouvidos do Vaticano já em 2000. O clérigo foi expulso da Igreja Católica
em fevereiro deste ano, depois de o Vaticano ter investigado as
acusações de abuso sexual que recaíam sobre ele. As conclusões da
investigação são claras: o clérigo praticou “pecados contra o sexto
mandamento com menores e adultos, com o agravante de, para isso, ter
recorrido ao abuso de poder”. McCarrick também foi declarado culpado por
ter “assediado” pessoas durante atos de confissão.
Os registos financeiros no centro desta investigação fazem parte de
um conjunto de documentos enviados por autoridades da Igreja Católica em
Washington para serem analisados em Roma. Ao longo de 17 anos, o fundo
arrecadou mais de seis milhões de dólares (5,5 milhões de euros) e,
entre os maiores contribuintes, está o nome da irmã do presidente Donald
Trump, Maryanne Trump Barry, ex-juíza federal, que doou 450 mil dólares
num espaço de quatro anos — Maryanne Trump Barry recusou comentar. Os
registos também mostram que o ex-cardeal encaminhou milhões do fundo
para instituições católicas de caridade, tanto nos EUA como em Roma, mas
também para organizações em países pobres ou abalados por conflitos.
Clérigos
do Vaticano que receberam cheques do ex-cardeal asseguram que estes
correspondem a presentes habituais de líderes católicos durante a quadra
natalícia, sendo também considerados gestos de apreciação pelo serviço
prestado. Estes clérigos dizem ainda que os presentes de McCarrick foram
direcionados para a caridade ou usados para outros fins.
O
advogado de McCarrick não respondeu ao pedido de comentário do The
Washington Post. Sobre as alegações de má conduta, o ex-cardeal disse
recentemente a um jornalista que “não acredita” ter feito as coisas de
que é acusado.
* A igreja católica brinda-nos frequentemente com novas aventuras de proeminentes bandidos das suas fileiras, mas a grande culpa é dos autores e actores da "Porta dos Fundos".
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