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IN "PÚBLICO"
19/10/19
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O novo Governo
de António Costa
A aposta não passa por aceitar prioridades de parceiros de esquerda, mas sim pelo investimento na administração pública e na dinamização económica.
Fechou-se definitivamente um ciclo na política portuguesa. Passou a fase
da reposição de rendimentos e de cura do traumatismo provocado pelo
reajustamento ditado pela troika. Os entendimentos à esquerda não foram renovados em termos idênticos
e o PS, agora reforçado, terá de negociar circunstancialmente no
Parlamento. Perante a mudança de ciclo, António Costa optou por um
governo de continuidade, o qual, aliás, preparou na remodelação de Outubro de 2018, mas em que é claramente reforçado o núcleo político.
Com uma maioria relativa do PS
no Parlamento (108 deputados), Costa fez um governo de combate, assente
em pessoas da sua confiança pessoal, mais centrado em dirigentes de
topo do PS, mas também com claro reforço do peso institucional de
membros que ganham o estatuto de ministros de Estado.
E, se o Governo é centrado em Costa, na sua organização, na
hierarquia e no perfil dos que são agora o núcleo duro é visível que a
aposta não passa por aceitar prioridades de parceiros de esquerda, mas
sim pelo investimento na administração pública e na dinamização
económica.
Este novo perfil de combate centrado no PS é notório no reforço do núcleo duro da direcção do partido,
já que duplicam os membros do secretariado nacional que são ministros.
Isto quando, dos 19 ministros, apenas nove são militantes do PS. A Graça
Fonseca, Mariana Vieira da Silva e Pedro Nuno Santos juntam-se
Alexandra Leitão, Ana Mendes Godinho e Maria do Céu Albuquerque – o que,
convenhamos, é normal e dá solidez a um governo minoritário sem acordos
prévios.
Quanto ao reforço político-institucional, concretiza-se em quatro ministros de Estado.
Pedro Siza Vieira é ministro de Estado, da Economia e da Transição
Digital, Augusto Santos Silva é ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros, Mariana Vieira da Silva é ministra de Estado e da
Presidência e Mário Centeno é ministro de Estado e das Finanças. Todos
com o objectivo traçado pelo primeiro-ministro de coordenação de áreas.
Ganham,
assim, peso hierárquico no Governo personalidades cujo universo
político-ideológico se inscreve na linha moderada do partido, mesmo
quando não são militantes – com o objectivo estratégico e programático
da aposta na dinamização da economia e no investimento na administração
pública. É isso que significa a promoção de Siza Vieira, que passa a
segunda figura do Governo, bem como a criação do Ministério da
Modernização do Estado e da Administração Pública, entregue a Alexandra Leitão, que tem a importante experiência de quatro anos de dura negociação com os professores.
A
criação de um ministério para a Administração Pública é ainda a
tradução prática do papel que do ponto de vista programático e
ideológico o Estado e os serviços públicos representam no pensamento
político de Costa. Esse pressuposto está também na base da criação do
Ministério da Coesão Territorial, entregue a Ana Abrunhosa, outra das poucas novidades desta equipa governamental.
Apostando
na continuidade, Costa prepara-se para fazer uma remodelação alargada a
meio da legislatura, em cima das autárquicas de 2021, pondo fim a um
ano dominado pelas eleições para Presidente da República, em Janeiro, e
pela presidência portuguesa da União Europeia no primeiro semestre. Uma
remodelação que irá certamente consolidar e lançar para o futuro a nova
geração de socialistas e cuja preparação tem sido uma preocupação de
Costa desde o início do seu consulado.
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Percebendo a lógica a que
obedece, o novo elenco ministerial levanta-me, desde já, algumas
dúvidas.
A promoção de Siza Vieira significará, de facto, a eleição da
dinamização da economia como prioridade ou será só um sinal simbólico de
propaganda.
Será a aposta em Siza Vieira como segunda figura do Governo uma boa
opção? Não sendo militante do PS, liga-o a Costa uma forte relação de
amizade, e, não tendo experiência política, estará à altura da tarefa?
A
junção da Administração Pública com a Modernização Administrativa faz
sentido do ponto de vista teórico e Alexandra Leitão já deu provas da
sua competência, mas não irá esta opção levar a que a modernização
administrativa seja descurada?
Por fim, uma dúvida central. A
Saúde e a Administração Interna, nomeadamente a prevenção civil, são
dois problemas estruturais. Do novo organograma do Governo e da
recondução de ministros não transparecem sinais de aposta nestes
sectores. Como vai essa valorização ser feita?
19/10/19
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